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Nacional
Terça - 22 de Fevereiro de 2011 às 20:30

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O Itamaraty iniciou um processo em busca do que qualificado diplomata chama de "nova narrativa" para encarar o Oriente Médio pós-revoluções.

Processo, no caso, significa recolher informações, processá-las e adotar eventuais mudanças ao longo do percurso. Ou seja, não haverá um dado dia em que o chanceler Antonio Patriota ou a presidente Dilma Rousseff anunciem publicamente, que, agora, a política para essa região é "x" ou "y".

É óbvio que parte da análise passa por uma questão inicial: deve o governo brasileiro agir ou deve, simplesmente, reagir aos acontecimentos?
Se alguém caísse na besteira de me perguntar, eu responderia: agir.

Afinal, a imensa quantidade de indignação vertida por governantes do mundo todo a respeito da mortandade em curso na Líbia foi incapaz, pelo menos até agora, de evitar o derramamente de uma só gota de sangue.

É preciso, portanto, mais, muito mais, do que falar apenas para evitar o que começa a se caracterizar como genocídio.

Jordi Vaquer, diretor do CIDOB, Centro de Estudos e Documentação Internacionais de Barcelona, levanta no "El País" desta terça-feira algumas medidas que o Ocidente deveria adotar: congelamento de todos os acordos ante a primeira suspeita de uso indiscriminado da força contra manifestantes pacíficos; bloqueio das contas de todos os altos funcionários do regime; chamar para consultas os embaixadores em Trípoli [é um passo prévio ao rompimento de relações, na coreografia diplomática]; interrupção do envio de materiais que possam ser usados para a repressão; apoio a processos criminais contra quem ordene crimes contra a humanidade.

Elliott Abrams, do Council on Foreign Relations e ex-funcionário da administração George Walker Bush, vai um pouco na mesma direção, ao pregar que "Gaddafi deve se transformar instantaneamente em um pária, pelo uso continuado e ilimitado de força mortal contra seu povo".

Não creio que a diplomacia brasileira, excessivamente cautelosa para o meu gosto, chegue a tanto, mesmo quando concluir a "nova narrativa" a respeito do Oriente Médio.

Mas até que poderia. As mais recentes avaliações chegadas ao Itamaraty indicam um grande entusiasmo com o governo Lula, que, como todo o mundo sabe, tem em Dilma Rousseff uma continuadora, mesmo com nuances importantes em relação, por exemplo, ao Irã.

Não tenho como opinar sobre outros países da região, mas fui testemunha ocular de que o então presidente brasileiro recebeu de fato tratamento ultra-carinhoso tanto em Israel como na Palestina e na Jordânia, visitas feitas há menos de um ano.

É verdade que, em Israel, os "falcões" fizeram críticas à aproximação com o Irã, mas o mais razoável é supor que as revoluções no mundo árabe tendem a forçar Israel a modificar sua posição nas negociações de paz com os palestinos, tirando fôlego dos "falcões".

Também facilita uma "nova narrativa" brasileira o fato de que fracassou a estratégia norte-americana, da gestão Bush mas não alterada por Obama, de impor a democracia à força, como no caso iraquiano.

A rua árabe --sempre de acordo com as avaliações que chegam ao Itamaraty-- está muito orgulhosa do caráter endógeno de suas rebeliões. Tão orgulhosa que rejeita a ideia muito difundida no Ocidente de que são "revoluções Twitter ou Facebook". Acham que esse rótulo é uma maneira de "roubar" a originalidade de seus movimentos.

Não que o Facebook esteja sendo irrelevante, mas, sem sair à rua em massa, na velha maneira de fazer revoluções, a rebelião seria apenas virtual e os ditadores continuariam em seus palácios.

O Brasil não tem, como é evidente, peso internacional suficiente para interferir decisivamente no Oriente Médio, mas está em pé de igualdade com as grandes potências: todos, sem exceção, foram completamente surpreendidos pelos levantes, pela queda relativamente rápida de ditadores que pareciam inexpugnáveis, e por isso mesmo estão todos em busca de uma "nova narrativa", como o Itamaraty.






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