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Internacional
Terça - 22 de Fevereiro de 2011 às 11:33

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AP
Imagem da agência de notícias chinesa Xinhua mostra um prédio incendiado em Trípoli, capital da Líbia
Imagem da agência de notícias chinesa Xinhua mostra um prédio incendiado em Trípoli, capital da Líbia

O regime do ditador líbio, Muammar Gaddafi, que tenta esmagar manifestações antirregime que atingem diversas cidades do país, recorre nesta terça-feira a mercenários fortemente armados para caçar opositores pelas ruas da capital, Trípoli. Uma testemunha afirmou ao jornal espanhol "El País" que, após os ataques aéreos do dia anterior, "helicópteros estão sobrevoando a cidade, disparando contra as pessoas".

A testemunha --um cidadão espanhol que vive na cidade e preferiu não ter seu nome divulgado devido ao temor de represálias-- assegurou que "sair na rua é complicado" e que a situação nos aeroportos é caótica.

A rede de TV árabe Al Jazeera também informa que as forças leais a Gaddafi estão realizando uma "sangrenta operação" para mantê-lo no poder, e que moradores de Trípoli relataram tiroteios em partes da capital e outras cidades.

Corpos de manifestantes mortos foram deixados nas ruas de Trípoli e moradores assustados se esconderam em suas casas.

Manifestantes demandando a queda de Gaddafi haviam planejado uma manifestação para a praça verde, no centro da capital, e outros locais para a noite de segunda-feira. Mas milícias pró-regime --supostamente uma mistura de líbios e mercenários estrangeiros-- espalharam-se pela cidade para desencadear uma forte ofensiva, bloqueando bairros e atirando a partir de telhados.

Por toda a noite e até pouco antes do amanhecer desta terça-feira, milicianos atacaram o distrito de Fashloum, na capital, uma área pobre de onde muitos manifestantes saíram, um morador contou à agência de notícias Associated Press.

Ele afirmou que as milícias atiravam em qualquer "humano em movimento" com munição real, incluindo ambulâncias. Por isso, muitos feridos foram deixados nas ruas para morrer.

A testemunha afirmou ainda ter deixado o bairro na noite de segunda, deparando com um grupo de milicianos, incluindo estrangeiros. "Os líbios [entre eles] me alertaram para sair e mostraram os corpos dos mortos, dizendo: "Nós recebemos ordens de atirar em qualquer um que se mexa na área."

"Os corpos agora estão nas ruas. Os feridos estão sangrando e não podem encontrar um hospital ou ambulância para resgatá-los. Ninguém tem permissão de entrar e, se alguém chegar, será atingido para morrer."

Como outras pessoas, ele falou sob condição de anonimato devido ao medo de retaliação. A mídia ocidental é barrada na Líbia e as declarações não puderam ser confirmadas de forma independente.

Outro morador afirmou que comandos estavam no comando das ruas e estavam em telhados, abrindo fogo. "A vida está paralisada, até os que foram atingidos por tiros não podem ir para hospitais", ele disse. "Ninguém pode andar na rua."

Mohammed Ali, um ativista da oposição no exílio, disse que também recebeu relatos de moradores de diversos corpos nas ruas. Habitantes da capital --de cerca de 2 milhões de pessoas-- estão em suas casas nesta terça-feira após alertas feitos por partidários de Gaddafi de que qualquer pessoa nas ruas serão mortos, afirmou Ali, que mora em Dubai.

Os relatos foram feitos no mesmo dia em que a alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas), Navi Pillay, pediu por uma investigação internacional sobre os ataques feitos por forças líbias contra manifestantes contrários ao regime de Gaddafi, há 41 anos no poder, dizendo que eles podem constituir crimes contra a humanidade. Ativistas de oposição de moradores de Trípoli relatam que as ruas da capital estão cheias de corpos de antigovernistas mortos por forças de segurança.

Em um comunicado, Pillay pediu pela interrupção imediata de violações aos direitos humanos no país e denunciou o relato de uso de metralhadoras, atiradores e aviões militares contra civis.

"Ataques generalizados e sistemáticos contra a população civil pode constituir crimes contra a humanidade", afirmou a alta comissária.

""A insensibilidade com que autoridades líbias e seus capangas estão alegadamente usando munição real contra manifestantes pacíficos é inaceitável. Estou extremamente preocupada que vidas estejam sendo perdidas inclusive enquanto eu falo."

A agência comandada por Pillay não está presente na Líbia, mas mantém-se pronta para apoiar investigações e promover direitos civis, políticos e econômicos no país do norte da África, completa o texto.

Por meio de contatos com grupos de direitos humanos, Pillay elaborou uma lista de vítimas indicando que cerca de 250 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas durante uma semana de intensa repressão.

A ONG Human Rights Watch, sediada em Nova York, denunciou nesta segunda-feira que ao menos 233 pessoas morreram na repressão por forças de segurança líbias. Já a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) calcula entre 300 e 400 pessoas foram mortas desde o início da rebelião.

"Muitos defensores de direitos humanos e jornalistas foram presos. Não sabemos se eles estão vivos ou não", afirmou Frej Fenniche, chefe da seção do Oriente Médio e Norte da África do Alto Comissariado, em uma coletiva de imprensa em Genebra.

DESAFIADOR

Em meio à forte repressão, um Gaddafi desafiador apareceu na emissora de TV estatal nas primeiras horas desta terça-feira para mostrar que ainda está no comando e negando que tenha deixado o país.

Na véspera, o chanceler britânico, William Hague, havia dito que informações indicavam que ele estava a caminho da Venezuela. Sentado em um carro estacionado na frente do que apareceu ser sua residência e com um guarda-chuva nas mãos, ele afirmou a um entrevistador que pretendia seguir para a praça Verde, no centro de Trípoli, para conversar com seus partidários, mas que a chuva o impediu de fazê-lo.

"Estou aqui para mostrar que estou em Trípoli e não na Venezuela. Não acreditem naquelas emissoras do cão enganosas", afirmou Gaddafi, referindo-se a informações da mídia. O vídeo e os comentários duraram menos do que um minuto --incomum para o líder, que é conhecido por fazer discursos que duram horas.

Testemunhas em Trípoli afirmaram à rede de TV árabe Al Jazeera que jatos militares bombardearam partes da capital líbia em novos ataques na noite de segunda-feira. A emissora diz que o bombardeio focou-se em depósitos de munição e centros de controle.

Também foram usados helicópteros para atirar contra as ruas com o objetivo de assustar os manifestantes. Além disso, as testemunhas afirmaram que "mercenários" estavam atirando contra civis.

A chegada dos protestos à capital, após uma semana de manifestações e conflitos sangrentos em cidades do leste do país, aumentou drasticamente a pressão sobre Gaddafi, e seu país tem sido atingido por uma onda de baixas de seus embaixadores no exterior e até mesmo de funcionários do governo.

O ministro da Justiça líbio, Mustafa Abdeljalil, apresentou nesta segunda-feira sua demissão em protesto "pela sangrenta situação" de seu país.

As forças de segurança líbias têm realizado a mais sangrenta repressão entre os países árabes contra a onda de protestos que se espalhou pela região e que já gerou a derrubada dos ditadores da Tunísia e do Egito.






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