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Internacional
Segunda - 21 de Fevereiro de 2011 às 15:47

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O governo do ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, voltou a reprimir duramente os manifestantes que pedem sua renúncia e atacou, com aviões militares que dispararam munição real, multidões que se reuniram na capital da Líbia, Trípoli, para protestar, informou nesta segunda-feira a emissora de TV árabe Al Jazeera. Segundo especialistas, a ação poderia significar que o regime do ditador está perto do fim.

A informação foi passada por um cidadão líbio, Soula al Balaazi --que se diz um ativista da oposição--, que afirmou à TV por telefone que aviões de guerra da força aérea do país bombardeou "alguns locais de Trípoli".

No entanto, não foi possível confirmar a informação de forma independente.

Um analista da consultoria Control Risks, com sede em Londres, disse que o uso de aviões militares contra seu próprio povo indica que o fim pode estar próximo para Gaddafi.

"Isso realmente parecem ser atos derradeiros, desesperados. Se você está bombeando sua própria capital, é realmente difícil ver como você pode sobreviver", afirmou Julien Barnes-Dacey, analista da consultoria para o Oriente Médio.

"Na Líbia, mais do que em qualquer outro país da região, há um prospecto de violência grave e conflito aberto."

Nesta segunda-feira, o regime de Gaddafi --que já dura 42 anos-- deu sinais de estar sob ameaça após dias de protestos antigoverno ter chegado à capital pela primeira vez, gerando a morte de 61 pessoas.

Intensa repressão já deixou ao menos 233 mortos, segundo informou nesta segunda-feira a ONG sediada em Nova York Human Rights Watch. Já a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) calcula entre 300 e 400 pessoas foram mortas desde o início da rebelião.

Dezenas de pessoas foram mortas em Trípoli durante a noite durante protestos contra Gaddafi. Jornalistas informaram que a sede central do governo, o prédio do Ministério da Justiça e o Parlamento estavam em chamas nesta segunda-feira.

A emissora de TV árabe Al Jazeera, citando fontes médicas, afirmou que 61 pessoas foram mortas nos últimos protestos em Trípoli.

Segundo a TV, forças de segurança estavam saqueando bancos e outras instituições governamentais na capital e que manifestantes invadiram diversas delegacias da cidade e as destruíram.

O prédio onde o Congresso Geral do Povo --o Parlamento-- se reúne quando está em sessão em Trípoli estava ardendo em chamas na segunda-feira, informou um repórter da agência de notícias Reuters.

Mais cedo, o jornalista líbio Nezar Ahmed disse à Al Jazeera que manifestantes haviam ateado fogo à sede central do governo líbio e ao prédio que abriga o Ministério da Justiça na capital do país.

Da capital líbia, Ahmed também assegurou que as forças de segurança praticamente se retiraram da cidade e que várias delegacias e outros prédios públicos também foram saqueados ou incendiados.

"Praticamente não há forças da ordem. Não se sabe aonde foram. Esta situação favorece os rumores alarmantes", explicou o jornalista, que mencionou como um deles a possível fuga de Gaddafi do país e divergências entre altos dirigentes do Exército e de outros corpos de segurança.

Segundo Ahmed, há apenas um cordão policial em torno da sede da rede de televisão estatal Libya TV.

Testemunhas disseram à agência de notícias France Presse que o prédio que servia de sede para um canal de televisão e uma rádio pública foi saqueado no domingo à noite por manifestantes em Trípoli.

"Um local que abrigava o canal Al-Jamahiriya 2 e a rádio Al-Shababia foi saqueado", afirmou uma testemunha, que pediu anonimato. A programação do canal e da emissora de rádio foram retomadas nesta segunda-feira.

A Al-Jamahariya 2, segundo canal público, e a rádio Al-Shababia foram criadas por um dos filhos de Gaddafi, Seif al Islam, em 2008, antes de serem nacionalizadas.

Seif al Islam foi à TV estatal para afirmar que seu pai continua no poder --com apoio do Exército-- e que irá "lutar até o último homem, a última mulher, a última bala".

Mas, até mesmo durante seu pronunciamento, na noite de domingo, confrontos foram registrados nas proximidades e na praça Verde, no centro de Trípoli, durando até a madrugada de segunda-feira, segundo testemunhas.

Elas informaram que atiradores abriram fogo contra a multidão que tentava assumir o controle da praça, e partidários de Gaddafi passavam pelo local em veículos a altas velocidades, atirando e indo para cima dos manifestantes.

Os protestos e a violência foram os mais fortes até agora na capital, um sinal de que a revolta está se espalhando após seis dias de demonstrações anti-Gaddafi em cidades do leste do país.

OUTRAS CIDADES

A FIDH relatou ainda que manifestantes antirregime assumiram o controle de cidades líbias e que militares estão desertando.

"Muitas cidades foram tomadas, principalmente no leste. Os militares estão debandando", declarou a presidente da FIDH, Souhayr Belhassen, citando principalmente Benghazi, reduto da oposição, e Syrta, cidade natal do coronel de Gaddafi.

A emissora de TV NTV, citando um trabalhador turco, informou que a cidade de Jalu, localizada cerca de 400 quilômetros ao sul de Benghazi, também foi controlada pelos opositores do regime.

"O controle está totalmente nas mãos da população. Não há forças de segurança, não há polícia. Estamos sujeitos à vontade e ao controle do povo", relatou Mustafa Karaoglu, que trabalha na cidade --de cerca de 3.500 habitantes--, onde um grupo de trabalhadores estrangeiros se mantém reclusos em seus locais de trabalho.

Benghazi, onde os protestos começaram na semana passada após a prisão de um advogado de direitos humanos e onde dezenas de pessoas foram mortas por forças de segurança, está efetivamente sob controle dos manifestantes, de acordo com alguns moradores da localidade.

Um avião da Turkish Airlines que tentava aterrissar em Benghazi foi forçado a sobrevoar o aeroporto e retornar a Istambul.

Os manifestantes em Benghazi tiraram a bandeira líbia que ficava no prédio do principal tribunal da cidade e, em seu lugar, colocaram a bandeira da antiga monarquia do país, derrubada em 1969 em um golpe militar que levou Gaddafi ao poder.

BAIXAS

O ministro da Justiça líbio, Mustafa Abdeljalil, apresentou nesta segunda-feira sua demissão em protesto "pela sangrenta situação" de seu país, afirmou o jornal eletrônico "Quryna", próximo a Seif el Islam Gaddafi --um dos filhos do ditador líbio, Muammar Gaddafi.

Abdeljalil, que confirmou sua saída em conversar por telefone com o jornal, explicou que tomou a decisão diante da "excessiva utilização de violência" contra manifestantes por parte das forças de ordem.

A demissão é a primeira de um alto funcionário do governo desde o início dos protestos, na semana passada, contra o governo de Gaddafi. Mas a dura repressão aos protestos já havia causado uma onda de demissão de embaixadores líbios em diversos países.

O embaixador líbio na Índia, Ali al Issawi, disse à BBC que decidiu deixar o cargo em protesto contra o uso de violência por parte do governo e afirmou que mercenários estrangeiros foram mobilizados para atuar contra cidadãos líbios.

O embaixador da Líbia junto à Liga Árabe, Abdel Moneim al Honi, disse a jornalistas, no Cairo, que está se unindo à revolução. Outra baixa foi o embaixador líbio na China.

Países ocidentais expressaram preocupação com o aumento da violência contra manifestantes antigoverno na Líbia.

O chanceler britânico, William Hague, disse ter conversado com Seif al Islam por telefone e que lhe disse que o país deve começar um "diálogo e a implementação de reformas".






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