Repórter News - reporternews.com.br
Polícia Brasil
Sábado - 19 de Fevereiro de 2011 às 11:00

    Imprimir


A proibição dos remédios inibidores de apetite, como quer a Anvisa, pode gerar um consumo excessivo de medicamentos para hipertensão, diabetes e colesterol, dizem especialistas.

Segundo a agência, é possível tratar obesidade só com controle de doenças associadas, dieta e exercícios. Médicos que atuam nessa área discordam.

"A obesidade é uma doença complexa, multifatorial. A convicção de que só dieta e atividade física podem resolver o problema é inconsistente", diz o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas de SP.

Ele, que é membro da Abeso (associação para estudo da obesidade) e da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), encaminhou uma carta à Anvisa, na última quarta, em resposta ao parecer técnico que pede o cancelamento do registro dos remédios.

Até agora, diz ele, não teve uma resposta.

Na quarta, a agência vai fazer uma audiência pública para discutir o assunto. A proposta do governo é tirar do mercado medicamentos com sibutramina e com derivados de anfetamina, substâncias que agem no sistema nervoso central.

Segundo a Anvisa, os remédios têm eficácia baixa, além de trazerem riscos.

"No nosso ambulatório do HC, em funcionamento há mais de 25 anos e no qual atendemos cerca de 10 mil obesos, usamos medicamentos em mais de 90% dos nossos pacientes, que são, na maioria, portadores de doenças associadas.

Orgulho-me em dizer que, como resultado geral, obtemos em média uma perda de peso significativa e uma nítida melhora nas complicações da obesidade", escreve o médico, na carta.

De acordo com Halpern, os remédios, muitas vezes, são a diferença entre um indivíduo obeso e doente e uma pessoa saudável.

"Quando nossos pacientes deixam de tomar medicação antiobesidade por algum motivo, o ganho de peso e das comorbidades é regra."

A Sbem e a Abeso elaboraram um documento, em 2010, no qual revisaram estudos sobre as drogas para emagrecimento.

"Ficou claro pelo nosso trabalho que os medicamentos podem ser muito úteis, mas que têm contraindicações e podem causar efeitos colaterais (como qualquer remédio, em qualquer doença, de qualquer especialidade)."

As 90 páginas do parecer da vigilância não convencem os especialistas: têm dados dos mesmos estudos que defendem os remédios, mas analisados sob uma perspectiva negativa.

"É muito fácil interpretar um estudo de um jeito negativo. Se for assim, é preciso excluir o registro de vários remédios", diz Halpern.

Tendo tido o conhecimento do movimento da ANVISA no que concerne à avaliação de retirada dos medicamentos antiobesidade de ação central permita-me colocar a minha posição em relação ao assunto.

Primeiramente devo lhe dizer que sou Professor de Endocrinologia da Universidade de S.Paulo, fundador e presidente por 2 vezes da Associação Brasileira para o Estudo de Obesidade (ABESO), representante da ABESO junto à Associação Brasileira de Endocrinologia e Metabológia (SBEM), coordenador do Departamento de Síndrome Metabólica da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e Chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Universidade de S.Paulo.

Mais que estes títulos, no entanto, tenho vivência com o problema da obesidade e do tratamento dos obesos há quase 45 anos.

Isto me faz afirmar que obesidade é doença complexa, multifatorial e que a convicção de que só dieta e atividade física podem resolver o problema é inconsistente, não só na minha opinião como na opinião de estudiosos do assunto de nível nacional e internacional.

Neste contexto, boa parte dos pacientes obesos, sobretudo os que têm graves consequência advindas da obesidade (como diabetes, hipertensão, infarto, derrame, câncer, apneia do sono, etc) necessitam de outros recursos, além da tentativa de mudança de estilo de vida, para emagrecer e poder ter melhora destas complicações.

E estes recursos são ou medicações ou em casos extremos cirurgia bariátrica.

Quanto às medicações antiobesidade, infelizmente contamos com um arsenal terapêutico exíguo, mas sem dúvida nenhuma útil em uma boa parte dos pacientes.

Quanto aos medicamentos existentes minha opinião (e a opinião de meus colegas da ABESO) está expressa nas diretrizes que elaboramos e que submetemos à Associação Médica Brasileira.

As diretrizes foram elaboradas com todo o cuidado e levaram em conta os estudos principais efetuados com todas as classes de medicamentos

Ficou claro pelo nosso trabalho que os medicamentos existentes podem ser muito úteis mas que certamente têm contraindicações ao seu uso e podem causar colaterais (como qualquer medicamento em qualquer doença de qualquer especialidade).

No nosso Ambulatório do HC, em funcionamento há mais de 25 anos, e no qual atendemos cerca de 10.000 obesos, usamos medicamentos antiobesidade em mais de 90% dos nossos pacientes, que são na sua esmagadora maioria portadores de doenças associadas.

Orgulho-me em dizer que como resultado geral (e disto podem testemunhar dezenas de médicos, principalmente residentes, que passaram pelo Ambulatório) obtemos em media uma perda de peso significativa e uma nítida melhora nas complicações da obesidade.

Como contraponto, quando por determinadas razões nossos pacientes deixam de tomar medicação antiobesidade, o reganho de peso e das comorbidezes é a regra.

Prezado Dr Dirceu, não tenho nenhuma dúvida que muitas vezes as medicações contra obesidade fazem a diferença entre o indivíduo estar obeso doente e tornar-se um paciente são, e por este motivo é que lhe peço que os medicamentos antiobesidade existentes sejam mantidos no Brasil.

Por outro lado, a opção por um ou por outro tipo de medicamento depende muito das características e resposta clinica dos pacientes, o que implica em que todos os atuais continuem liberados (com todas as condições e cuidados que a ANVISA exige).

Finalmente quero abordar 2 argumentos levantados pelos representantes da ANVISA na sua argumentação contra os remédios para emagrecer:

1. "Que os medicamentos não são efetivos porque a obesidade cresce no Brasil".

A resposta para a questão é: a obesidade cresce no Brasil apesar de todas as campanhas dirigidas pelas autoridades e sociedades médicas (com as quais tenho tido oportunidade de colaborar), o que mostra que tentativas de educação para mudança de estilo de vida por enquanto estão falhando (aliás, o mesmo acontece no resto do mundo).

Por outro lado, o crescimento da obesidade no Brasil nada tem a ver com os medicamentos, pois eles são prescritos para tratar e não prevenir a obesidade.

2. "Que o Ministério da Saúde colocará à disposição da população medicamentos para as comorbidezes associadas à obesidade (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, etc)".

Primeiramente devo dizer que a obesidade é causa de morbidade e mortalidade em parte independentes das doenças associadas.

Com esta filosofia de deixar o obeso com seu excesso de peso (e provavelmente com mais ganho de peso ainda) haveria um consumo excessivo de medicações (antidiabéticos, antihipertensivos, antidislipidémicos, etc) com todas as consequências (inclusive sabendo-se que tais medicamentos também apresentam colaterais).

Finalmente, e a prevalecer a filosofia de combate às consequências da obesidade, o governo terá que também disponibilizar mais aparelhos de CPAP (para apneia do sono) e equipes cirúrgicas (para cirurgia bariátrica).

Por todos estes argumentos emanados de alguém que vem lutando há muitos anos contra a obesidade, solicito à ANVISA que abandone a idéia de abolir os medicamentos antiobesidade de atuação central no Brasil pois, se não ideais, eles são o que de melhor temos em terapêutica farmacológica para esta terrível afecção que é a obesidade.

Respeitosamente

Alfredo Halpern"






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/101649/visualizar/