Eliane Cantanhêde: Pela primeira vez na Barão de Limeira
Quando fui conhecer a sede da Folha na Barão de Limeira, depois da mediação do meu colega e amigo Celso Pinto, todo mundo me fez a mesma advertência: "Não chame o seu Frias de dr. Frias nem o Otavio de Otavinho".
Não era necessário. O seu Frias não tinha nada de formalidade e pompa, e o Otavio não tinha nada de juvenil e descontraído.
Com seus olhos miúdos e curiosos, o seu Frias me olhou como se estivesse decifrando a minha alma e tascou: "Mas você é pouco mais que uma menina!" Bem, eu já passava dos 40...
E o Otavio, de terno e gravata, diferentemente do pai, me cumprimentou com um rápido aperto de mãos, não exatamente solene, mas quase protocolar, e foi direto ao que interessava. Estendeu um "Manual da Redação" e sugeriu (ou seria ordenou?): "É para ler!".
Todo mundo também dizia, como diz até hoje, que o pluralismo e a independência da Folha não eram da boca para fora, só por marketing, e que a "casa" cuidava bem dos seus.
De fato, em quase 14 anos como colunista da sensível página 2, jamais o Otavio ou o seu Frias me pediram para defender isso, atacar aquilo, falar bem do beltrano, mal do sicrano.
Mais de uma vez, eu defendo uma coisa, e o editorial, ali do lado, outra. Os erros de avaliação e eventuais bobagens que escrevi e escrevo são, portanto, minha culpa, minha máxima culpa.
Quanto a cuidar bem dos seus, lembro bem de um episódio com a Marilene Felinto, então colunista do jornal, que fez uma viagem para o Nordeste e escreveu uma crônica arrasadora, mais ou menos tratando o aeroporto como galinheiro de quintal.
Pra quê? O mundo caiu. Choveram xingamentos, cartas desaforadas, gente falando em processo, até ameaças por telefone.
Dias depois, houve uma confraternização de colunistas, inclusive o ex-presidente Sarney, ministros e ex-ministros, acadêmicos, grandes empresários. Mas, depois do coquetel, não foi com nenhum desses poderosos que o seu Frias entrou abraçado na sala do almoço. Foi com a Marilene.
Sinceramente, eu me senti... agasalhada.
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