Após protestos, vendedores aguardam volta de turistas ao Egito
Comerciantes do famoso mercado de Khan El Khalili, na região antiga e tradicional do Cairo, disseram à BBC Brasil que aguardam por uma rápida recuperação do turismo no Egito, após o levante popular contra o governo que paralisou a economia do país por mais de duas semanas.
Durante os 18 dias de protestos, milhares de turistas estrangeiros deixaram o Egito, provocando caos e longas filas no aeroporto da capital egípcia. Centenas de estrangeiros permaneceram dias dormindo nos saguões à espera de voos.
O governo egípcio também fechou todos os locais turísticos do país por questões de segurança.
Em Khan El Khalili, lugar conhecido por suas ruas estreitas e labirintos com lojas de produtos orientais e suvenires, alguns comerciantes seguem com portas fechadas. Já outros reabriram, mas lamentam a falta de clientes.
Ahmad Mitawlly contou, bem-humorado, que passava o "dia tomando chá e jogando dominó com os outros lojistas".
Ele afirmou que era contra os protestos no início porque prejudicaram os negócios.
"Mas depois apoiei porque vi o quanto aquelas pessoas, principalmente os jovens, eram corajosos nas ruas e lutavam por seus direitos."
Ele espera, no entanto, que a situação volte ao normal logo para que os turistas regressem.
SAQUES
De acordo com dados do Ministério do Turismo do Egito, o setor é um dos propulsores da economia do país, sendo responsável por cerca de 8% da entrada de divisas e ocupando 10% de sua força de trabalho.
Até os protestos, o turismo passa por um bom momento e vinha se recuperando após o revés sofrido com os atentados no balneário de Sharm Al Sheikh, em 2005, que matou 88 pessoas e afastou os visitantes por um bom período.
Em média, 10 milhões de turistas visitam o Egito a cada ano, movimentando mais de US$ 11 bilhões.
O empresário egípcio Mahmoud D., que por anos morou na Espanha, disse que apoiou os protestos desde o início.
"Eu teria motivos para ficar contra, porque pago salário fixo aos meus empregados. Mas apoiei os ativistas porque estava cansado de tanta corrupção do antigo regime", afirmou.
Dono de três lojas em Khan El Khalili, Mahmoud contou que, durante os protestos, não fechou os estabelecimentos, mas orientou seus 14 empregados a ficar em casa.
"Continuei pagando os salários deles, mas abri por uma questão de tradição --me orgulho de nunca fechar."
No entanto, ele explicou que, nos dias mais violentos das manifestações, houve tentativas de saques, e algumas lojas acabaram sendo roubadas.
"Nesses piores dias, eu fui obrigado a fechar por motivos de segurança".
De acordo com ele, em semanas normais, mais de 1.500 turistas visitam as suas lojas, que ficam abertas 12 horas por dia.
Seu empregado Mahmoud Elzzabi chegou a ir à praça Tahrir para protestar contra o regime de Hosni Mubarak, que renunciou após a pressão popular, encerrando um período de quase 30 anos no poder.
"Eu fui à praça gritar contra o governo corrupto porque queria mudanças, mas fiquei preocupado por outros colegas que trabalham em lojas onde somente ganham comissão pelo que vendem", contou ele.
"Sem turistas, não há vendas e, portanto, não há dinheiro para sustentar suas famílias. Eles sofrem mais do que eu. Espero que a economia volte ao normal logo."
ECONOMIA
Segundo Omar Shehali, economista da Universidade de Ain Shams, no Cairo, o Egito perdeu mais de US$ 6 bilhões por causa dos protestos antigoverno.
Mas ele acredita que o país se recuperará tão logo o comando militar que controla o governo provisório tome as primeiras medidas para recolocar o país na normalidade.
"Há muitos investimentos estrangeiros no Egito, especialmente de países do golfo Pérsico, como no setor industrial e de turismo."
Para ele, os árabes do golfo estão apreensivos com as próximas reformas que o governo promete realizar para atender às reivindicações da população.
De acordo com o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) do Egito é de mais de US$ 500 bilhões, o que torna o país a segunda maior economia do mundo árabe, atrás somente da Arábia Saudita.
Shehali explica que, desde 2004, o governo fez enormes esforços por reformas econômicas para atrair investimentos estrangeiros e incrementar o PIB. Em 2010, o país teve uma taxa de crescimento de 5,3%.
"O problema é que, apesar das reformas e crescimento econômico, a desigualdade social só aumentou, e mais egípcios entraram na faixa de pobreza. E esse abismo entre ricos e pobres foi um dos pilares para o levante popular contra o governo de Mubarak", disse ele à BBC Brasil.
"O governo deve restabelecer a segurança para fazer o turismo se recuperar rapidamente. Senão, o governo terá mais problemas pela frente".
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