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Sábado - 12 de Fevereiro de 2011 às 08:46

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Quase quatro anos após ser preso por porte ilegal de arma, o lateral esquerdo Mara Kanté, 23, voltou aos gramados em um clube da quarta divisão da França, o Louhans-Cuiseaux.

Kanté foi um dos jovens presos durante os distúrbios que tomaram conta de Villiers-le-Bel --ao norte de Paris, em 2007. Na ocasião, dois garotos, de 15 e 16 anos, morreram quando a moto em que estavam se chocou contra um veículo policial.

Por conta das mortes, jovens do subúrbio se revoltaram e queimaram mais de 10 mil carros e depredaram centenas de prédios públicos.

Além do porte ilegal de arma, Kanté foi julgado junto com outros homens por tentativa de assassinato de policiais. O jovem alegou inocência de todos os crimes, acabou absolvido da tentativa de homicídio, mas foi condenado pelo porte de arma.

"Ninguém me viu disparar uma espingarda. E eu fui preso três meses depois dos acontecimentos. Justiça não é a mesma para todos. Eu sou negro, não sou formado e venho de um subúrbio. Quando as pessoas olham para mim, elas não podem evitar de pensar em clichês", disse Kanté.

O jogador ficou dois anos e cinco meses na prisão, sendo 11 meses em um prédio de isolamento. Nesse período, Kanté --que é muçulmano praticante-- recorreu aos livros para afastar o ócio.

"Eu não me importo com a musculação. Abri livros de Malcom X, Gandhi e Nelson Mandela e aprendi muito sobre as pessoas. Entendi também que eu era capaz de fazer grandes coisas", disse o jovem francês, que já passou por categorias de base de clubes da Itália e Inglaterra,

Após cumprir o período da pena, Kanté, que havia treinado em clubes como a Udinense e o Cesena, recebeu uma segunda chance no futebol. Um amigo lhe contou que o Louhans-Cuiseaux, clube da quarta divisão do futebol francês, procurava um lateral esquerdo e ele acabou fazendo um teste na equipe mesmo após três anos sem jogar.

Kanté viajou para a região de Borgonha e foi observado pelo gerente Jean Acedo e o assistente técnico Aliou Cissé, ex-jogador Paris Saint-Germain.

Segundo Kanté, que já é titular da lateral esquerda do Louhans-Cuiseaux, o clube ainda não consegue lhe pagar os 1,5 mil euros mensais (pouco menos de R$ 3,5 mil) prometidos, mas ele não reclama. "Pagam o meu quarto de hotel e me alimento. Depois do que eu passei, não posso me queixar", disse.

No clube, Kanté diz viver em um ambiente de paz que contrasta fortemente com os bairros violentos onde ele cresceu. "Onde estiver a minha chance e o meu destino, eu vou. Seja em Nova York, Birmingham, Hoffenheim ou Arsenal", afirmou o francês.

O gerente do clube acredita que Kanté irá melhorar gradualmente e, eventualmente, pode chegar ao seu nível antes do período na prisão. "Após três anos sem jogar, ele teve de encontrar novamente o ritmo. É como se ele estivesse voltando de uma lesão muito séria", disse Acedo.

Kanté agora sonha com um futuro ainda mais brilhante, parecido com o do atacante Frank Ribery que jogou a final da Copa do Mundo de 2006. Jogar pela França, pelo lado esquerdo. Porque não? Deus está sempre testando seus filhos", pregou o jovem jogador.






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