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Segunda - 31 de Janeiro de 2011 às 09:01
Por: Edilson Almeida

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Depois de enfrentar uma eleição confusa, de intenso conflito interno, Serys Slhessarenko encerra nesta segunda-feira, dia 31, um período de 20 anos como parlamentar - três mandatos como deputada estadual e um como senadora da República. Na bagagem, o respeito e a certeza de que a política está no sangue e a história vai continuar.

 A advogada e professora Serys Slhessarenko, 65, do Partido dos Trabalhadores, exercerá nesta segunda-feira, dia 31, seu último dia como parlamentar. Depois de 20 anos de mandatos, a parlamentar dá uma parada depois de tentar, sem êxito, uma eleição a deputada federal dentro de um cenário desfavorável, de amplo conflito dentro da sigla com o deputado federal Carlos Abicalil, que ambicionava chegar ao Senado Federal. Briga que resultou em um PT menor – ao contrário do que deveria ser. Acabou? Não! “Meu mandato termina, mas eu sigo na política, com muita firmeza. Afinal, faço política com "p" maíúculo. Disso tenho certeza” – declara.

A rigor, a parlamentar não trata objetivamente sobre o que vai fazer a partir do dia 1º de fevereiro. Diz que tem agenda lotada até abril, com diversos compromissos no Brasil e no exterior, seja na área de defesa da mulher como também no meio ambiente, com ênfase na questão climática, como também no trabalho pela paz. Inclusive, deveria terminar o mandato como conferencista no Egito – evento que acabou sendo cancelado por conta da instabilidade política no Oriente Médio.

A Prefeitura de Cuiabá em 2012 é uma possibilidade. Ela não nega, mas também não diz que sim. Lembra apenas que sempre tratou a questão envolvendo a Capital como prioridade e remete qualquer decisão para as discussões internas do Partido dos Trabalhadores.  “Tenho sido procurada por muita gente, que deseja ver uma mulher, com experiência e sensibilidade, administrando essa cidade com compromisso ético. Mas vamos ver isso mais a frente” – diz.

A possibilidade de ocupar um cargo em Brasília, no Governo da presidente Dilma Rousseff ou mesmo em Mato Grosso, com Silval Barbosa, ainda é uma incógnita. Serys diz que não discutiu nenhuma hipótese por entender que precisava, antes de tudo, encerrar o mandato. “Podem até me chamar de ingênua, mas eu não faço política assim. Termino o meu mandato como senadora da República. Agora vamos ver o que acontece. Antes disso, é carreirismo” – enfatizou.

 "O PT hoje está menor porque não se respeitou a históriade como esse partido foi construído no Estado, na base da luta e do sacrifício, dos processos ideológicos e da esperança, nunca de favores ou cargos"

Duas vezes coordenadora da bancada de Mato Grosso no Congresso Nacional, Serys revelou que, entre as primeiras conversas sobre o seu futuro, logo após as eleições, chegou a lhe ser proposta uma espécie de rodízio para mantê-la em Brasília, aproveitando sua experiência parlamentar e política. Ela, porém, se recusou. “Não aceitei nem abrir o debate” – frisa. “Poderia ficar um ano, um ano e meio exercendo o mandato de deputada federal por força desse rodízio. Mas me recuso. Isso é solapar a vontade do eleitor com artifício. E se é assim, não contem comigo para isso...”.

A rigor, para Serys sabe que para viabilizar qualquer projeto dentro do PT será uma tarefa no mínimo gigantesca. Por conta dos rescaldo eleitoral, a parlamentar vive problemas sérios, juntamente com o seu grupo dentro da sigla. Daqui a pouco,  ela deverá enfrentar um processo de expulsão, acusada de infidelidade partidária por não ter pedido votos para Carlos Abicalil, deputado federal - que encerra o mandato encostado em um cargo de terceiro escalão no Ministério da Educação, em Brasília.


Na campanha Serys tratou Abicalil como uma espécie de algoz por ter armado todo um projeto – baseado no fortalecimento  de grupo dentro do partido – para tirar dela a possibilidade de disputar a reeleição. Antevendo a possibilidade de ganhar a vaga ao Senado, o grupo do parlamentar tratou de fritar a senadora em todos os níveis, ao ponto, segundo ela, de chegar à discriminação política.

“Eles (Abicalil e seu grupo) têm maioria no partido. Construíram essa maioria sabe lá Deus como, mas o fato é que têm. Se for do desejo deles, pode ser até que consigam. Mas já digo: não vai sair barato. Tenho uma história e o PT hoje está menor porque não se respeitou a história. Não só a minha história, mas a história de como esse partido foi construído no Estado, na base da luta e do sacrifício, dos processos ideológicos e da esperança, nunca de favores ou cargos” – alfinetou.

Alias, Serys é taxativa quanto a isso ao avaliar o resultado das urnas e também a atual situação do partido no Estado; “Os problemas que existem no PT se dão pela falta de leitura da história do partido por um determinado grupo.  A democracia do PT não pode ser entendida como “patrolamento” das minorias. E foi o que fizeram: construíram um partido nos moldes tradicionais apenas para o exercício do poder. Estarei  na política para ver esse modelo minguar”.

Apontada como um dos grandes ícones da política de Mato Grosso, seja pela longevidade, seja pela forma como conduziu  sua vida pública, Serys deixa o Senado Federal da forma que não desejava. Ela diz que preferia sair por uma decisão dos eleitores e não com a “cassação” imposta pelo PT a partir da decisão do grupo majoritário, liderado por Abicalil. Ela não esconde o ressentimento. “Eu tinha o direito, até pela minha história, de ser avaliada pelos eleitores. Cassaram o meu direito e fizeram mais: cassaram o direito do povo” – diz, com efeito.

 "Eu trato política com seriedade e não como um negócio. Saio do meu mandato da forma como entrei: com dignidade.

 Por isso mesmo, ela evita fazer uma avaliação sobre os últimos 8 anos como senadora. “Quem tinha que dizer se fui bem ou mal era o eleitor. Então não posso dizer se fui bem ou mal. O que eu posso dizer sobre isso – ela acrescenta – é que foi um mandato de muita aceitação, muito respeito e muito trabalho”. Serys cita, como exemplo, a avaliação foi feita pela ONG Transparência Brasil, que a colocou entre os 10 melhores senadores do Brasil – sendo a única mulher.

Serys contabiliza ainda vários prêmios e títulos recebidos no Brasil quanto no exterior, na defesa da mulher, do meio ambiente, das minorias e pela paz. Mas, existe um que passará a história: a de ter sido a primeira mulher a presidir sessões do Congresso Nacional, que reúne deputados federais e senadores. “É um feito maravilhoso, de grande relevância, porque desde a instalação da República, em 15 de novembro de 1889, é a primeira vez que uma mulher assume essa função. Foram cinco sessões pesadas, em que se discutiu temas relevantes de interesse dos estados e das bancadas e que conseguimos conduzir e chegar a bons entendimentos” – salienta.

 A senadora conta que fez a opção por ser senadora da Republica, discutindo temas importantes para o povo brasileiro. “Só de minha autoria estão ai mais de uma centena de projetos. Alguns premiados nacionalmente como o que tipifica o crime organizado e ajuda a Justiça a penalizar os criminosos, como forma de proteger a sociedade” - frisa. Ela cita a luta pela igualdade salarial entre homens e mulheres como uma das mais difíceis. “Atuei em mais de 200 relatorias. A última, todos devem se lembrar, foi o Orçamento da União – que é a peça mais importante da administração pública federal, que mostra onde vai estar o dinheiro do contribuinte. Fora isso, sempre estive presente nas bases” – ela observa.






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