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Quinta - 27 de Janeiro de 2011 às 18:52
Por: Clara Passi

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Ariadna Thalia:
Ariadna Thalia: "Tomava hormônio desde os 16 anos"

Primeira eliminada do Big Brother Brasil, Ariadna Thalia se diz orgulhosa por ter sido a primeira transexual a participar do reality show. Criada em Guadalupe, bairro humilde da Zona Norte do Rio de Janeiro, a cabeleireira nasceu Tiago Arantes, um menino, segundo ela, frágil e de voz fina que preferia brincar de casinha a jogar bola. Em entrevista a QUEM, ela conta do caminho de preconceito e perseverança que percorreu, a inadequação com o corpo de homem, a viagem para a Itália paga com a prostituição e a mudança de sexo na Tailândia.

1. QUEM: Você nasceu homem, mas não quis continuar como um homem homossexual. Sentia que existia uma mulher dentro de você?
AT:
É! Na minha época de gay, ia a boates, ficava com outro gay e falava para mim mesma: “Não é isso”. Quando fui travesti, foi um período de transformação. Meu uniforme do colégio era totalmente feminino. Uma calça coladíssima e uma blusinha curta, feminina. O cabelo era chanelzinho. Quando ia para uma boate, me vestia com roupas de mulher escondida na rua, no meio de uma moita ou na casa de uma amiga. Guardava minhas coisas dentro de um bueiro, no meio do lixo, onde sabia que ninguém ia mexer.
 

Me vestia com roupas de mulher escondida na rua, no meio de uma moita ou na casa de uma amiga. Guardava minhas coisas dentro de um bueiro.

2. QUEM: Como foi sua infância como Tiago?
AT:
Foi uma infância muito legal, éramos só eu, Vítor e minha mãe. Ela trabalhava como manicure e tudo era para a gente. Antes de ela se tornar testemunha de jeová, tínhamos festa de aniversário, brinquedos. Tínhamos de tudo até os 6 anos. Depois, ela conheceu esse homem, eles se casaram e começaram as dificuldades, porque fomos morar na favela, sem saneamento básico, ele alcoólatra, sem trabalho...

3. QUEM: Quais foram os primeiros sinais de que você não era como os outros meninos?
AT:
Eu via muita novela. Com 6 anos, botei um vestido da minha mãe, com um travesseiro na barriga. Fiquei fingindo que estava tendo neném. Minha mãe me bateu tanto (risos)! Eu e meu irmão ganhávamos bonequinhos. Daí, eu ganhava um dinheirinho e ia lá comprar a casinha do bonequinho, a geladeirinha, a mesinha. Minha mãe ficava para morrer.

4. QUEM: Quando começaram suas transformações físicas?
AT:
Tomava hormônio desde os 16 anos, mas não regularmente. Sempre tive corpo de mulher, sempre fui muito pequena, minha voz sempre foi muito fina. Não tenho pomo de adão.

5. QUEM: Você passou quase cinco anos na Itália. Como conseguiu ir para lá?
AT:
Estava com 19 para 20 anos, morava com dois amigos na Abolição (Zona Norte do Rio). Conheci uma pessoa que me fez a proposta de ir para a Itália. Fui em novembro de 2004. Me pediram 12 mil euros pela viagem. Pela lei, isso é exploração. Errado ou não, nunca denunciaria essa pessoa, porque ninguém colocou uma arma na minha cabeça para que eu fosse.

6. QUEM: Como arrumou o dinheiro?
AT:
Trabalhando como garota de programa na Itália. Toda semana mandava dinheiro (para a pessoa no Brasil) até quitar a dívida. Mandava, por semana, de 100 a mil euros até chegar ao total de 12 mil euros.

7. QUEM: Você era imigrante ilegal. Chegou a ser presa?
AT:
Uma vez, fiquei 14 horas detida. Fui pega sem passaporte, fazendo programa. Eles me detinham, davam uma folha de expulsão e eu continuava lá. Estava juntando dinheiro para operar. Operei em 2009, na Tailândia, e, em janeiro de 2010, resolvi vir para o Brasil de vez. Queria vida nova.

8. QUEM: Como foi a cirurgia?
AT:
Foi com anestesia geral, durou cerca de quatro horas. Fazem uma vasectomia e o testículo é amputado. Mas eles reaproveitam tudo, todos os nervos são conservados. Por isso, tenho orgasmos, como uma mulher normal.

9. QUEM: Como é a recuperação?
AT:
A gente fica seis dias sem levantar da cama, tomando banho de gato, com paninho, talquinho. Tem uma sonda que colocam e tiram depois. Não senti dor e só vomitei uma vez, por causa da anestesia. Tenho conhecidas aqui no Brasil que tiveram que ficar à base de morfina, tiveram infecção das brabas, cicatriz, queloide. Comigo ficou tudo maravilhosamente bem, e o passo seguinte foi vir para o Brasil mudar os documentos. Fui morar no Rio Grande do Sul, chamei um advogado e consegui depois de quatro meses. Minha melhor amiga, que operou antes de mim, está há dois anos sem documentos em São Paulo.

10. QUEM: O que pensou quando se olhou no espelho como mulher completa?
AT:
Falei: só falta casar de véu e grinalda, com aquela festa e um marido maravilhoso. Depois, conheci o João Gabriel. Foi o homem que mais amei na vida, que marquei no meu corpo (mostra o antebraço com o nome dele tatuado). Ele sempre soube que eu era assim.






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