China foi a principal novidade na entrada de dinheiro externo no Brasil. Apetite estrangeiro deve crescer ainda mais em 2011.
Brasil atraiu 4,3% do investimento global em 2010, diz estudo
Os US$ 48,4 bilhões que chegaram ao Brasil por meio de investimento estrangeiro direto na economia em 2010 representaram uma fatia de 4,32% dos fluxos globais de dinheiro aplicado em atividades produtivas, aponta estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com base em dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e do Banco Central. Em 2006, o Brasil era destino de 1,3% do dinheiro externo.
Investimento estrangeiro direto (em US$ bilhões) | |||
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2009 | 2010* | ||
União Europeia | 361,9 | 289,8 | |
Bélgica | 33,8 | 50,5 | |
França | 59,6 | 57,4 | |
Alemanha | 35,6 | 34,4 | |
Itália | 30,5 | 19,7 | |
Espanha | 15 | 15,7 | |
Reino Unido | 45,7 | 46,2 | |
Estados Unidos | 129,9 | 186,1 | |
Japão | 11,9 | 2,0 | |
África do Sul | 5,7 | 1,3 | |
Brasil | 25,9 | 48,4** | |
Argentina | 4,9 | 5,1 | |
Chile | 12,7 | 18,2 | |
México | 12,5 | 19,1 | |
China | 95 | 101 | |
Hong Kong, China | 48,4 | 62,6 | |
Índia | 34,6 | 23,7 | |
Cingapura | 16,8 | 37,4 | |
Rússia | 38,7 | 39,7 | |
Fonte: Unctad |
De acordo com dados divulgados na terça-feira (25) pelo Banco Central do Brasil, o volume de investimentos diretos registrado no ano passado representa uma alta de 86,8% frente aos US$ 25,9 bilhões de 2009, bem acima da média registrada pelos países emergentes de apenas 9,7% calculada Unctad.
Ainda com base em estimativa da Unctad, o volume de aportes estrangeiros aplicados na produção brasileira superaria os volumes destinados a países Reino Unido, Rússia, Índia e México. (Veja tabela ao lado)
Os países em desenvolvimento e em transição receberam juntos, em 2010, 53,1% do total de investimentos diretos no ano passado (US$ 1,122 trilhão). Segundo o cálculo da Sobeet, pela primeira vez os países desenvolvidos receberam menos da metade dos fluxos globais (46,9%).
Até o recorde observado no ano passado, o maior volume de investimento estrangeiro direto no Brasil era o observado em 2008, de US$ 45 bilhões. A evolução surpreendeu, já que o BC estimava que os investimentos estrangeiros diretos somariam no máximo US$ 38 bilhões em 2010.
Em meio à enxurrada de capital estrageiro na produção brasileira em 2010, a principal novidade no ano passado foi a China, cujos investimentos somaram cerca de US$ 17 bilhões, de acordo com estimativa da Sobeet. O interesse chinês no Brasil, explica a entidade, é garantir matéria-prima. "Os investimentos da China se concentram em setores produtores de commodities como petróleo, refino e minérios", afirma Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet.
Só a operação de entrada da companhia chinesa Sinopec no capital da Repsol Brasil representou um valor de US$ 7,111 bilhões, como explicou na véspera o Banco Central ao apresentar o inesperado recorde no investimento direto estrangeiro. Fora essa, outras oito operações chinesas no ano identificadas pela Sobeet somaram US$ 10,1 bilhões.
Segundo Lima, é difícil calcular o valor exato do investimento chinês que entrou no Brasil porque as empresas enviam muitas vezes os recursos em operações triangulares, a partir de países que oferecem generosos benefícios fiscais. Isso explica, segundo ele, a presença de Luxemburgo, Países Baixos e Suíça no topo do ranking dos países que lideraram o fluxo de capitais para o Brasil, segundo relatório do BC.
“Parte desses ingressos foi para compra de ativos já existentes, mas uma parte significativa é para inovação e expansão da capacidade instalada de produção, o que vai gerar mais empregos, aumento da capacidade de oferta e diminuição da pressão inflacionária”, afirma Lima.
Na rota do dinheiro
De acordo com a consultoria KPMG, foi a participação dos estrangeiros no Brasil que fez com que 2010 fechasse o ano com recordes históricos também no número de fusões e aquisições. Foram 175 operações em que grupos de fora adquiriram empresas brasileiras total ou parcialmente, contra 143 no ano anterior.
Na avaliação de Luís Motta, sócio responsável por Fusões e Aquisições da KPMG, a expectativa é de que o interesse externo pelo Brasil em 2011 cresça ainda mais, embalado pelo bom momento econômico e atrativos extras como as oportunidades geradas pela Copa do Mundo, Olimpíadas e petróleo do pré-sal.
"Eu acho que tem tudo para ser um tremendo ano. Está muito aquecido para janeiro. O primeiro trimestre vai ser melhor que o primeiro trimestre do ano passado, com certeza", estima Motta, que contabiliza 21 aquisições de empresas brasileiras por estrangeiros entre janeiro e março do ano passado: resultado que só deslanchou no trimestre seguinte, por causa da crise financeira que abalou os países desenvolvidos que tradicionalmente investem no Brasil.
"Se no primeiro trimestre os estrangeiros ainda estavam cautelosos de investir no Brasil em razão da crise, no segundo trimestre o Brasil definitivamente entrou na rota desses investidores e passou a ser um destino muito importante para capital estrangeiros via fusões e aquisições", explica.
Em alguns setores da indústria, inclusive, o capital externo já representa a maioria das aquisições: mineração, supermercados, produtos e equipamentos para empresas, agências de publicidade.
Além da matéria-prima abundante, o bom momento econômico e o risco decrescente estão entre os principais atrativos do Brasil para o dinheiro externo. Há ainda grupos que vêm para cá de olho no crescimento da classe C, diz Motta.
"Você vê muitas transações buscando absorver esse tipo de público da classe C, principalmente nos setores de supermercados e educação", diz.
Na avaliação do presidente da Sobeet, os investimentos estrangeiros nos setores de extrativismo mineral e os ligados a produtos químicos, petroquímicos e refino de petróleo devem se manter elevados nos próximos anos. “Esse ciclo de investimentos no Brasil não é de longuíssimo prazo, mas tem fôlego para atingir um novo recorde em 2011”, afirma.
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