Uma reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário britânico The Guardian comenta as expectativas no Brasil com os personagens gays da telenovela Insensato Coração, da Rede Globo, que estreou na semana passada.
Sob o título “O beijo proibido que o Brasil todo está esperando ver”, o jornal observa que os autores da novela, que tem ao menos seis personagens gays, esperam “combater o preconceito e promover a aceitação’”.
“A maioria das cidades brasileiras tem comunidades gays proeminentes, mas a homofobia e a violência persistem”, diz o jornal, citando um levantamento do Grupo Gay da Bahia segundo o qual 198 homossexuais foram assassinados no Brasil em 2009.
O jornal comenta que as novelas brasileiras chegam a ter audiências de 50 milhões de espectadores e já tentaram no passado tratar de outros temas tabus como doenças mentais, abuso de drogas ou alcoolismo.
"Visibilidade"
Ouvido pelo Guardian, o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas Bissexuais e Transexuais, Toni Reis, disse que a novela pode ser uma chance importante para romper estereótipos e dar "visibilidade" aos gays.
Para Reis, a TV brasileira geralmente mostra “imagens distorcidas” da comunidade gay, com as menções ao homossexualismo “restritas a três tipos de programa: comédias, sobre crimes e religiosos, nos quais pastores evangélicos pregam contra a homossexualidade”.
Em contraste, observa o jornal, entre os personagens gays de Insensato Coração estão um advogado, um professor, um jornalista e um lojista.
A reportagem comenta que os fãs gays das novelas brasileiras “há muito tempo pedem um beijo nas telas” e pareciam ter conseguido o que queriam em 2005, quando a mídia anunciou que dois personagens homens se beijariam na novela América, mas a cena acabou cortada, gerando protestos.
Apesar do avanço com o núcleo gay da novela Insensato Coração, o jornal observa que os autores já avisaram que os que esperam ver o primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira ficarão desapontados.
“A audiência não está pronta”, justificou Gilberto Braga, um dos autores, na entrevista coletiva de lançamento da novela.
Para Reis, a decisão mostra “uma falta de coragem e de ousadia”. “O beijo é uma demonstração de afeto, não uma afronta à sociedade. Corrupção, violência, acidentes, esses sim são afrontas e são mostrados em excesso na TV”, disse ele ao jornal.
Para o ativista, porém, “não deve demorar para que um beijo gay aconteça em uma novela”. “Se não houver beijo, será um sinal de preconceito”, afirmou.
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