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Cidades/Geral
Quarta - 04 de Setembro de 2013 às 14:30
Por: Luna D"Alama

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Luna D"Alama/G1
Vários dos médicos estrangeiros que desembarcaram em São Paulo há cerca de dez dias para passar por um treinamento de três semanas pelo programa federal Mais Médicos achavam que iriam para o interior do Brasil e "não haveria nada, como se fosse um cenário de guerra", conta o professor João de Deus Gomes da Silva, de 38 anos, que dá aulas de políticas de saúde para 54 profissionais – 20 brasileiros e 34 estrangeiros – em uma escola na Zona Sul da capital.



"Esses eram mais os europeus, que não conheciam bem a nossa realidade. Pensavam que encontrariam recursos inferiores, que não haveria enfermeiros, agentes comunitários, assistentes sociais, conselhos tutelares, farmácias", enumera o professor, que é psicólogo e atualmente faz doutorado em saúde coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com o Conservatório Nacional de Artes e Ofícios de Paris.



 
No início das aulas, no dia 26 de agosto, João de Deus acreditava que os alunos teriam mais dificuldade para entendê-lo, por causa da língua – a maioria fala espanhol, mas também há participantes da Rússia, do Líbano, da França e da Holanda.


 
Por isso, ele começou falando bem devagar, mas logo os médicos pediram para acelerar o ritmo. Na terça-feira (3), o tema abordado pelo professor foi a constituição do povo brasileiro e seu processo de miscigenação.


 
Segundo João de Deus, o material didático usado inclui sete eixos principais, com foco no Sistema Único de Saúde (SUS). São eles: políticas de saúde, organização de sistemas de saúde, organização de atenção à saúde, vigilância em saúde (sanitária, ambiental, epidemiológica e do trabalhador) e trabalho em equipe, atenção às doenças mais prevalentes (como dengue, HIV, tuberculose, gripe e câncer), aspectos éticos e legais da prática médica (responsabilidades e implicações diante do código de ética médico brasileiro), e língua portuguesa.


 
Durante o treinamento em São Paulo, os alunos – divididos em pequenos grupos – também já visitaram três Unidades Básicas de Saúde (UBS) na periferia, onde conversaram com as equipes e os pacientes, fizeram perguntas e foram questionados.


 
"Eles já têm experiência clínica em diferentes especialidades, como infectologia, anestesia, psiquiatria e medicina do trabalho. Mas aqui vão atuar apenas na atenção básica", destaca o professor.


 
Além disso, o programa do curso prevê que os alunos assistam aos documentários "Ilha das Flores", de Jorge Furtado, "Meninas", de Sandra Werneck, "Estamira", de Marcos Prado, e "Políticas de saúde no Brasil" (sobre o período de Getúlio Vargas até hoje), do Ministério da Saúde. Os estudantes têm ainda discutido casos clínicos, feito simulações de atendimento e debatido questões em classe.


 
Quando não estão na escola, localizada na Vila Olímpia, os médicos vão para um alojamento do Exército no Paraíso, também na Zona Sul da capital, onde comem e dormem. Nas horas livres, sobretudo aos finais de semana, eles tentam descontrair. No domingo (1º), foram ao Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte, para ver um concerto da Banda Sinfônica do Exército e um recital do pianista Arthur Moreira Lima.


 
O professor João de Deus, que está alojado com os alunos, compara a própria turma a uma orquestra: "Para que eles se somem e produzam sonoridade, em vez de ruídos, precisam trabalhar em harmonia, e não ficar disputando como fazem muitos médicos, que trabalham de forma individualista e não dão suporte aos outros. É preciso ter convivência, cooperação e coordenação".


 
Neste sábado (7), os profissionais em treinamento devem fazer uma visita ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) para conhecer melhor a cultura local.


 
Turma bem informada
Na opinião do professor Paulo Navarro de Moraes, de 33 anos, um dos dez profissionais (de instituições como Unifesp, Unicamp e UFSCar) que lecionam para os médicos em São Paulo, a turma é muito bem informada e tem um nível de acompanhamento bom.


 
"Eles não querem impor tratamentos, exames ou remédios, mas respeitar as escolhas dos pacientes. Para eles, isso parece simples, mas não é o que vemos no Brasil", diz Paulo, que é médico sanitarista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.


 
Ao fim do curso, na próxima sexta-feira (13), os alunos farão uma avaliação oral e escrita para atestar se estão aptos a trabalhar no país. O foco principal da prova será o idioma, mas as questões médicas também serão levadas em conta, explica Paulo.


 
"Alguns têm mais dificuldades, mas estão estudando bastante", afirma o professor.


 
O médico argentino Lucas Gabriel Canavoso, de 33 anos, que é especialista em cirurgia geral e se inscreveu no último dia do Mais Médicos, diz que sua primeira semana de curso foi bastante interrompida por saídas para resolver trâmites burocráticos sobre documentação e abertura de conta no Banco do Brasil, mas agora a situação já está mais tranquila.


 
"Vou para Praia Grande, no litoral, e já costumava passar férias no litoral de Santa Catarina e do Paraná com a minha família. Gosto da vida e da cultura brasileiras", revela o argentino de Realicó, na província de La Pampa, formado em Córdoba.





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