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Sexta - 14 de Janeiro de 2011 às 06:52
Por: Raquel Ferreira

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Registros em vários estados no ano passado fez com que Anvisa proibisse venda de antibióticos sem receita médica
Registros em vários estados no ano passado fez com que Anvisa proibisse venda de antibióticos sem receita médica

A confirmação do primeiro caso de paciente com Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC), conhecida como "superbactéria", em Mato Grosso, resultou na interdição das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) e do Hospital Regional de Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá). A vítima, uma mulher de 21 anos, morreu na madrugada de ontem em Cuiabá, onde estava internada desde o dia 6. A paciente morava em Feliz Natal (536 km ao norte de Cuiabá) e não teve o nome divulgado.

A causa do óbito foi infecção generalizada, conforme o médico intensivista, Francisco Kennedy, coordenador da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HUJM, mas ele alerta que ainda é cedo para afirmar que o KPC foi responsável pela morte.

O médico explica que antes de chegar em Cuiabá, a paciente estava internada no Hospital Regional de Sorriso e ao dar entrada no Júlio Müller foram coletadas amostras de sangue, urina e fezes para realização de exames de vigilância. A colônia de superbactéria foi encontrada somente nas fezes. Kennedy destaca que o fato de existir a presença da KPC no corpo não pode-se afirmar que havia a infecção pela bactéria. "Novos exames vão mostrar se ela apresentava ou não a infecção por KPC".

O intensivista destaca que o resultado do exame da jovem pode ser um falso negativo, pois a administração de antibióticos fortes, como o que a paciente tomava, pode mascarar a existência da bactéria. Kennedy garante que a contração da KPC não ocorreu no HUJM e que a paciente já chegou com a colonização.

Como a mulher esteve internada nas UTIs dos 2 hospitais, os locais foram interditados e não receberão novos pacientes até que a contaminação pela KPC seja completamente descartada. Ainda ontem, os 2 hospitais iniciaram os trabalhos emergenciais para detecção e desinfecção das unidades. O tempo estimado para liberação e recebimento de novos pacientes é entre 7 e 10 dias.

No HUJM, 6 pessoas ficaram internadas com a vítima. Todos os pacientes continuarão ocupando os leitos e já tiveram materiais coletados para exames e diagnóstico (ou descarte) da contaminação por KPC. A UTI passará por um processo de desinfecção total independente da confirmação da bactéria. Kennedy explica que o procedimento é feito de acordo com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O coordenador da UTI do Júlio Müller, Marcus Antônio Godoy, ressalta que todos os cuidados estão sendo tomados e pede que os familiares de pacientes que ocupam leitos na UTI fiquem calmos. O médico lembra ainda que as outras alas do hospital não foram acometidas.

Em Sorriso, a coordenadora da UTI do Hospital Regional, a médica intensivista Marly Kawahara, destaca que existem 8 leitos, mas somente 4 estão ocupados. Ela explica que todos os pacientes que dividiram espaço com a mulher passarão por exames, mesmo os que já tiveram alta. Em caso de diagnóstico, serão iniciados os tratamentos contra a superbactéria.

No hospital do interior todos os procedimentos de desinfecção também estão sendo tomados, por determinação do Estado. A limpeza ocorrerá tanto na UTI quanto em outras 2 alas do hospital onde a paciente esteve internada.

Marly comenta que a jovem recebeu tratamento em vários hospitais da região, por isso fica difícil saber onde foi contaminada. "Não sabemos aonde ela teve contato com o KPC, mas com certeza a colonização ocorreu na UTI de Sorriso".

O coordenador da Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Oberdan Lira, pede que os familiares de pacientes sigam as orientações dos médicos e lembra que a bactéria é transmitida pelo contato de pessoas que estão no local. "A pessoa internada fica quieta na cama. A única forma de contato é quando alguém da equipe médica ou visitante leva essa bactéria até o paciente".

Ele lembra ainda que a ingestão descontrolada de antibióticos deixa o organismo vulnerável ao aparecimento de bactérias superresistentes, por isso a Anvisa baixou portaria proibindo a aquisição desses medicamentos sem receita médica. "Caso os pacientes dos hospitais apresentem a contaminação pela KPC, vamos administrar os medicamentos adequados, que são os antibióticos Polimixina B e Tigecidina".

Vítima - Há cerca de 1 ano a paciente passou a apresentar um histórico de dor de cabeça, febre e mal estar, passando por várias unidades de saúde do Estado. Apesar das investigações médicas, a causa dos sintomas não foi descoberta. A informação é da médica intensivista Marly, que atendeu a jovem em Sorriso.

Em julho do ano passado, a vítima ficou cerca de 40 dias internada no Hospital Júlio Müller para investigação dos problemas, mas nenhum diagnóstico preciso foi emitido. Ela voltou para casa, em Feliz Natal, e chegou a retornar duas vezes para o HUJM para novos exames.

No mês passado, a paciente foi internada mais uma vez no Hospital Regional de Sorriso onde permaneceu cerca de 10 dias na enfermaria da unidade de saúde, com diagnóstico de Meningoencefalite, provocada por fungos. A médica conta que este tipo de infecção é muito rara e costuma acometer pessoas que apresentam quadro de imunidade baixa.

O quadro da jovem piorou e ela foi encaminhada para a UTI de Sorriso com febre em torno de 40 graus que não cessava. Como já havia sido acompanhada no Hospital Universitário de Cuiabá, a jovem foi encaminhada para a UTI desta unidade no último dia 6, onde chegou com quadro infeccioso nos 2 pulmões, morrendo 7 dias depois.

KPC no Brasil - Dados da Anvisa apontam que 405 casos de contaminação por superbactéria foram registrados no país entre julho de 2009 e novembro de 2010. O Distrito Federal é o local com maior número infecção, com 207 pacientes.

Embora a Anvisa seja responsável pela centralização dos dados, não existe uma obrigatoriedade das Secretarias de Estado de Saúde em fazer a notificação, o que pode resultar na subnotificação de casos.

Além do DF, ocorreram contaminações em São Paulo (70), Rio de Janeiro (43), Minas Gerais (36), Pernambuco (35), Goiás (4), Alagoas (3), Santa Catarina (3), Espírito Santo (3) e Tocantins (1). Os registros de dezembro de 2010 e janeiro de 2001 ainda não foram contabilizados pela Anvisa.





Fonte: A Gazeta

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