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Tecnologia
Terça - 04 de Janeiro de 2011 às 14:30

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O Google TV acaba de realizar seu primeiro cancelamento de programa.

A Consumer Electronics Show (CES), que acontece no mês que vem em Las Vegas, tinha por objetivo servir de festa de lançamento ao novo software do Google para televisores, que permite que TVs sejam usados para assistir vídeos na web e utilizem outros recursos de computadores.

Ainda que o Google já tenha acordo com a Sony para a produção de televisores com acesso à internet, outros fabricantes de TVs -Toshiba, LG Electronics e Sharp-- estavam preparando o lançamento de suas versões do sistema.

Mas o Google pediu que adiassem esses lançamentos, de acordo com pessoas conhecedoras dos planos da empresa, para que possa refinar o software, recebido sem grande entusiasmo. O pedido tardio apanhou alguns dos fabricantes desprevenidos. E ilustra as dificuldades que o Google enfrenta ao tentar se expandir para o complicado ramo dos bens eletrônicos de consumo, que a empresa não conhece bem, a fim de criar interesse intenso por um produto de Web via televisor que os consumidores efetivamente desejem.

O Google tem um longo histórico de lançamento apressado de produtos que serão revisados posteriormente. Mas no mercado de bens eletrônicos de consumo, as empresas fazem apostas grandes e em momentos calculados a fim de atrair os compradores nas épocas de festas, digamos, ou os estudantes no período da volta às aulas.

Este ano, por exemplo, os fabricantes de computadores esperaram pelo novo sistema operacional ChromeOS, do Google, para que pudessem distribuir novos computadores com software acessível via web.

Mas o atraso do Google levou os fabricantes a perder a temporada de festas.

O Google conquistou grande vitória com seu sistema operacional Android para celulares inteligentes. Mas os fabricantes de celulares e computadores foram uma vez mais forçados a adiar seus planos para lançar computadores tablet equipados com um versão refinada do software, o que fez do Apple iPad o rei dos tablets neste Natal.

Agora problemas semelhantes podem estar prejudicando o Google TV. O esforço do Google para melhorar seu software insatisfatório parece indicar que a empresa, como muitas predecessoras, esbarrou nos desafios técnicos que até o momento vem impedindo a web TV de se tornar realidade.

Analistas setoriais afirmam também que a mudança súbita de planos do Google reflete um ponto fraco de sua cultura empresarial, no que tange a gerir o relacionamento com parceiros.

"O Google não é uma empresa especialmente amistosa com relação a seus parceiros, e não os têm como foco", disse James McQuivey, analista da Forrester Research, que acrescentou que o atraso pode fazer com que o Google TV precise de mais um ano para ganhar ímpeto no mercado.

Os executivos nas fábricas de televisores descartaram a ideia de que estivessem reagindo a uma mudança abrupta nas instruções recebidas do Google, mas, de acordo com pessoas conhecedoras das negociações, foram de fato apanhados de surpresa.

Gina Weakley, porta-voz do Google, se recusou a discutir "rumores e especulações" sobre produtos não anunciados.

"Nosso objetivo de longo prazo é colaborar com uma ampla comunidade de fabricantes de bens eletrônicos de consumo, a fim de ajudar a propelir a experiência televisiva de próxima geração, e aguardamos ansiosamente a oportunidade de trabalhar com outros parceiros, a fim de levarmos mais aparelhos ao mercado nos próximos anos", disse Weakley.

Nos termos do acordo entre Sony e Google, os primeiros televisores com Google TV foram embarcados em outubro, com preço inicial de US$ 600 para o modelo HD de tela plana de 24 polegadas. O topo de linha é um modelo de 46 polegadas e preço de US$ 1,4 mil. A Sony e a Logitech também vendem aparelhos complementares que permitem que as pessoas utilizem o software Google TV sem que precisem trocar de televisor.

A Samsung agora parece ser a única fabricante preparando lançamento de um modelo equipado com Google TV na CES, onde apresentará dois aparelhos semelhantes aos da Sony e Logitech, de acordo com pessoas conhecedoras dos planos do grupo. A Vizio também vai demonstrar sua versão do Google TV, mas apenas em sessões privadas que não acontecerão em seu estande aberto.

Os produtos do Google TV disponíveis no mercado ficam próximos de computadores completos. Operam com chips Intel Atom, em geral empregados em laptops, e podem executar software comumente utilizado em computadores.

A maior promessa da TV com acesso a Internet -a capacidade de assistir a qualquer programa ou filme, a qualquer momento, com transmissão via web-- fica longe da realidade, no caso do Google TV. As pessoas podem pagar para assistir a programas ou filmes via Netflix ou Amazon, no Google TV, e assistir à programação regular de TV. Mas as grandes redes de televisão norte-americanas não estão oferecendo programação no Google TV, e NBC, CBS, ABC e Hulu bloqueiam os usuários que tentam assistir programas completos em seus sites com o Google TV.

O Google TV oferece aos telespectadores outros recursos que eles podem não considerar úteis, tais como vídeos do YouTube e uma forma de mostrar fotos de férias aos amigos em uma tela maior, ou permitir que acompanhem o site de esportes ESPN.com enquanto assistem a um jogo, ou que postem no Twitter sobre o episódio da série "Mad Men" a que estão assistindo sem que precisem deixar a tela do seriado.

O Google promete aplicar sua principal competência -buscas-- à televisão. Em lugar dos bizantinos cardápios de programação de TV a cabo ou dos sistemas de gravação digital de vídeo que os telespectadores precisam utilizar hoje, com o Google TV é possível realizar uma busca pelo nome de um programa e determinar onde ele está sendo exibido e quando estará disponível online, e também encontrar links para sites sobre o programa e seus atores.

Mas o Google TV não está pronto para o horário nobre, por enquanto, de acordo com críticos de produtos eletrônicos e alguns dos primeiros clientes do serviço. Na Amazon, 38% dos compradores deram ao aparelho Logitech Revue avaliação de três estrelas ou menos, e 19% deram ao aparelho a classificação uma estrela, a mais baixa possível. As principais queixas são de que o sistema é lento e não oferece mais recursos ou programas que outros aparelhos decodificadores de preço mais baixo.

"O conceito do Google TV é interessante, e vou acompanhar seu desenvolvimento com entusiasmo, mas quanto ao meu Logitech Revue, o único lugar para onde ele vai é de volta à loja", escreveu J. DiBella, de Palm Coast, Flórida.

O software do Google TV é complexo, e requer um controle remoto que inclui mouse e teclado. E existem problemas menores, como quando as janelas que permitem assistir TV e navegar pela Web ao mesmo tempo encobrem comandos essenciais.

A despeito dessas limitações, os grandes fabricantes de televisores estão preparados para aderir ao Google TV. Esperam, acima de tudo, impedir que a Sony construa uma liderança clara.

Agora eles foram solicitados a suspender o lançamento de produtos até que o Google conclua o desenvolvimento de sua nova versão do software, acrescentando recursos como costuma acontecer com os aplicativos oferecidos para aparelhos móveis.

"Não anunciaremos um televisor ou Blu-ray player Toshiba e não demonstraremos produtos na CES", disse Jeff Barney, vice-presidente da divisão de produtos digitais da Toshiba. "Temos um entendimento com o Google quanto ao futuro desenvolvimento de produtos e ofereceremos o produto correto no momento correto."

Na semana passada, o Google publicou um post em seu blog anunciando atualizações de software em sua plataforma para TV, que incluem ferramentas melhores para assistir filmes e programas de TV via Netflix e um aplicativo que transforma em controles remotos celulares equipados com o software Android. Mas as atualizações principais ainda estão por vir.

Para dominar o jogo dos bens eletrônicos de consumo, o Google precisa ganhar sofisticação em suas técnicas de parceria e aprender a lançar produtos plenamente funcionais, disse McQuivey.

"O Google precisa aprender algumas dessas coisas tanto em termos de parceria com as redes de TV quanto no trabalho com os parceiros de hardware", disse.

"Você pode me dar a receita para o melhor biscoito de chocolate do mundo, mas até que eu compre os ingredientes e os cozinhe pelo tempo certo e à temperatura certa, o que terei não serão biscoitos. É esse o estágio atual do Google TV."

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI






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