Irã pode suspender apedrejamento de Sakineh por adultério
A pena de morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani, condenada por adultério, poderia ser anulada, disse neste domingo um alto representante da Justiça iraniana, citado pela agência Fars.
Ao ser perguntado se o apedrejamento poderia ser anulada, Malek Ajdar Sharifi, chefe de Justiça da Província do Azerbaijão leste, declarou que "qualquer coisa é possível". Sharifi também destacou que ainda há algumas "ambiguidades" nas "provas" deste caso, o que tem atrasado a decisão final.
A pena contra Sakineh tem provocado uma mobilização da comunidade internacional, razão pela qual as autoridades iranianas decidiram suspendê-la até rever o caso.
Neste sábado, Sakineh anunciou que planeja denunciar os dois jornalistas alemães detidos no Irã quando tentavam entrevistar seu filho, Sajjad Ghaderzadeh. Após ser liberada para poder jantar com a família, ela declarou na noite de ontem à imprensa em um edifício do governo na cidade de Tabriz, no oeste do Irã, que os jornalistas alemães a envergonharam e questionou o que os dois foram fazer no país.
Os dois repórteres, que trabalham para o jornal "Bild am Sonntag", foram detidos em 10 de outubro. A princípio, foram acusados de espionagem, mas semanas atrás o governo iraniano deu a entender que só os acusaria pelo crime de entrada ilegal no país, já que chegaram ao Irã como turistas e não solicitaram a permissão especial de imprensa que o Executivo exige.
Seu filho, Sajjad Ghaderzadeh, disse que Sakineh violou a lei islâmica mas pediu compaixão e perdão.
"Na minha opinião, minha mãe também é culpada, mas como perdemos nosso pai, não queremos perder nossa mãe também. Portanto, pedimos a comutação da pena", disse a jornalistas na cidade de Tabriz, no noroeste do Irã.
ENTENDA O CASO
Em 2006, Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, foi condenada duas vezes à pena de morte por dois tribunais diferentes de Tabriz (noroeste do país) em dois processos distintos, acusada de participação no homicídio do marido e de ter cometido adultério, em particular com o suposto assassino do marido.
O grupo de direitos humanos Anistia Internacional (AI) disse que Sakineh foi considerada culpada de "adultério quando estava casada", o que teria negado, e foi sentenciada à morte por apedrejamento.
A AI listou o Irã como o segundo país do mundo com mais execuções em 2008, depois da China, e disse que Teerã matou ao menos 346 pessoas em 2008. As autoridades iranianas rejeitam as alegações de abusos de direitos humanos, dizendo que apenas seguem a lei islâmica.
Um ano depois, a pena de morte por enforcamento pela participação no homicídio do marido foi comutada por dez anos de prisão por uma corte de apelações, mas a execução por apedrejamento foi confirmada por outro tribunal de apelações no mesmo ano. Todas as informações foram divulgadas por autoridades iranianas e advogados ligados ao caso. Os papéis do caso não foram divulgados à imprensa.
Em julho deste ano, sob forte pressão internacional, Teerã anunciou que a condenação à pena capital havia sido suspensa e que o caso estava sendo reexaminado. Desde então, o caso volta à imprensa ocasionalmente com declarações de oficiais iranianos.
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