Médica oncologista que teve câncer de mama defende mamografia
Marisa Weiss agendou sua mamografia para a primavera, como faz todos os anos. Ela havia acabado de completar 51 anos e, depois de fazer exames anuais durante uma década, ela sabia o que esperar: seu tecido denso nas mamas dificultava a leitura dos filmes --"é como procurar um urso polar numa nevasca"--, e o técnico provavelmente pediria que ela sentasse para algumas observações adicionais.
Este ano foi diferente. Depois que Weiss voltou para casa, ela recebeu uma ligação do consultório.
"Eles disseram: Você poderia voltar para cá agora?", recordou-se ela. "Eu respondi que preferiria não, e eles disseram: Tem certeza? Naquele momento, percebi que a coisa era mais séria."
Weiss, que logo soube ter um câncer invasivo do estágio 1 no seio esquerdo, não é uma médica qualquer. Oncologista de radiação e especialista em câncer de mama, ela criou um site bastante popular, o breastcancer.org, voltado a mulheres que buscam informações detalhadas sobre a doença --e se considera uma mulher com uma missão. Ela atende pacientes três dias por semana, mas dedica os outros quatro dias ao site, que anualmente atrai milhões de visitantes de 250 países. Ela está escrevendo seu terceiro livro sobre câncer de mama para o público em geral.
Um ano atrás, quando uma força-tarefa federal divulgou novas diretrizes afrouxando as recomendações para mamografias, Weiss foi um de seus mais ferozes críticos. As mamografias não são perfeitas, disse ela na ocasião, mas salvam vidas. Hoje ela afirma que uma pode ter salvado a própria vida.
Nos anais da medicina, a história de Weiss é apenas isso: uma história, uma experiência individual do tipo que os cientistas descartam como casual, nunca uma razão para repensar uma política. Mas ela destaca as persistentes e desconfortáveis perguntas sobre quando, e com que frequência, fazer o exame de câncer de mama, e como equilibrar os benefícios do diagnóstico prematuro com os males da mamografia --incluindo resultados falso-positivos, que podem levar a biópsias e tratamentos desnecessários.
As novas diretrizes pedem o adiamento dos exames de rotina para mulheres sob risco médio para os 50 anos, dos 40 anteriores, e recomendam exames a cada dois anos, em vez de anualmente.
Se tivesse seguido essas diretrizes, Weiss poderia ter pulado o exame deste ano, dando ao tumor mais tempo para crescer despercebido; e se ela não houvesse realizado uma trilha de exames desde seus 40 anos, os médicos não teriam conseguido comparar as imagens e perceber o sutil aparecimento do tumor (na verdade, seu risco é acima da média, graças a seu denso tecido nas mamas e histórico familiar. Mas ela aponta: "A maioria das mulheres que desenvolve câncer de mama não possui um histórico familiar --isso é um enorme mito").
Porém, mesmo na Sociedade Americana do Câncer, que continua aconselhando as mulheres a iniciar mamografias regulares aos 40, especialistas reconhecem as limitações do exame.
"A maioria das pessoas acha que a mamografia é muito mais benéfica do que na verdade é", afirmou Otis Brawley, diretor de medicina da sociedade.
"Mesmo assumindo o argumento mais liberal, mais pró-mamografia, precisamos de algo melhor."
Brawley diz que, na balança, a mamografia salva vidas. Mas ele aponta que o exame deixa passar alguns cânceres, e que a radiação das varreduras pode fazer com que alguns cânceres se desenvolvam.
Além disso, algumas mulheres terão de retornar repetidamente para procedimentos adicionais, exames e biópsias que acabarão descartando o câncer --mas que serão dolorosos e geradores de ansiedade. As mamografias também encontram alguns cânceres que crescem muito lentamente e se parecem exatamente com qualquer outro tumor canceroso, levando a tratamentos agressivos e desnecessários.
A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA descobriu que, embora a mamografia salve vidas no geral --reduzindo a taxa de mortalidade por câncer de mama em 15%--, os benefícios diminuíram rapidamente para mulheres mais jovens, que também carregaram o maior fardo dos danos.
Enquanto uma morte por câncer é evitada em cada 1.339 mulheres de 50 anos e 377 mulheres de 60 anos que se submetem aos exames, 1.904 mulheres de 40 anos precisariam ser examinadas durante dez anos para evitar uma única morte.
O painel também desencorajou os autoexames de mama, além dos exames de mama realizados por médicos.
Mas embora as recomendações tenham recebido uma saturação de cobertura na mídia no ano passado, pouca atenção foi dada um mês depois, quando o painel modificou sua mensagem. Preocupados por um possível mal-entendido, eles deram o extraordinário passo de corrigir a linguagem padrão de suas recomendações e removeram a essencial palavra "contra", quando aplicada à mamografia de rotina para mulheres entre 40 e 49 anos.
E mantiveram a linguagem recomendando que a decisão de iniciar os exames a cada dois anos "deve ser tomada de forma individual" e que "leve em consideração o contexto da paciente, incluindo seus valores em relação aos benefícios e danos específicos".
"Ninguém havia lido aquela segunda frase --ninguém tinha ido além das palavras recomendamos contra os exames de rotina em mulheres de 40 a 49", disse Bruce Ned Calonge, diretor da força-tarefa, em recente entrevista. "Nós não dissemos: Não façam os exames. A intenção da força-tarefa era promover uma tomada de decisão compartilhada entre os médicos e as mulheres daquela faixa etária".
Já existem algumas indicações de que clínicos gerais estão reduzindo as orientações para mamografias. Um recente relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças afirmou que um terço dos casos de câncer de mama é diagnosticado em estágios avançados, quando o tratamento é mais difícil.
A tendência é perturbadora para Weiss, que diz ter receio de que as mudanças radicais na forma como as mulheres vivem --puberdade adiantada, aumento da obesidade e do consumo de álcool, poluição ambiental, uso prolongado de contraceptivos orais, gravidez tardia e redução na amamentação --possam levar ao surgimento de câncer de mama em idades menores.
Sua própria cirurgia correu bem. Ela não precisou de radiação ou quimioterapia, pois o câncer não havia se espalhado. Ela iniciou o tratamento com hormônios e logo estava de volta à sua ocupada agenda em tempo integral.
Weiss, que vive em Wynewood, Pensilvânia, fez algumas mudanças de estilo de vida desde seu diagnóstico --filtrar a água da torneira, não cozinhar em plástico e comprar carne sem hormônios e frutas orgânicas. Ela perdeu sete quilos e se tornou uma entusiasta da dança-exercício chamada "zumba". Ela come muitos vegetais verdes, reduziu o vinho e sempre tenta ter uma boa noite de sono.
"Estou compartilhando minha história para estimular as mulheres a dar um passo à frente e fazer as mamografias", disse ela. "Tenho sorte por ter identificado cedo o problema, e quero usar minha situação como exemplo do valor da detecção antecipada."
"A verdade é esta: toda mulher está sob o risco. E toda mulher precisa fazer tudo a seu alcance para se proteger."
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