Senadores rejeitam gabinetes em ala que homenageia mato-grossense
O mato-grossense Filinto Muller, considerados um dos mais “ilustres” políticos do Estado, é persona non grata em Brasília. Pelo menos entre os novos senadores da República, que vão assumir seus cargos em 1º de fevereiro. É que a maioria deles não quer ocupar a ala batizada com o nome do ex-chefe de polícia da ditadura de Getúlio Vargas, o chamado Estado Novo (1937-45).
Os gabinetes no Senado Federal são distribuídos por alas que levam nomes de ex-senadores que tiveram “relevante expressão nacional”. São eles: Teotônio Vilela, Alexandre Costa, Dinarte Mariz, Nilo Coelho, Afonso Arinos, Tancredo Neves, Ruy Carneiro e Filinto Muller; além do Anexo I, que é a torre esquerda do prédio famoso do Congresso Nacional.
A ala Filinto Muller acabou sendo estigmatizada por boa parte dos novos senadores, que não se sentem confortáveis com o endereço que leva o nome de uma personagem controversa da política nacional. Muller, como chefe da polícia de Vargas, é considerado um dos responsáveis pela entrega da esposa de Luiz Carlos Prestes à Alemanha nazista de Hitler.
Olga Benário Prestes foi deportada ainda grávida e morreu na prisão. A filha Anita Prestes foi entregue aos avós paternos. Ela visitou recentemente Mato Grosso para participar de um evento do MST no centro de estudos que leva o nome da mãe, na estrada para Jangada.
A recusa em ocupar a ala Filinto Muller chegou a motivar uma reunião da Mesa Diretora do Senado nesta quinta (9). Na verdade, desde que foram eleitos, os novos senadores não saem de Brasília para cuidar de suas posses, organização de gabinetes e composição de equipes de assessores.
A reunião da Mesa Diretora acontece para também definir a ocupação dos gabinetes, já que a briga pelos melhores espaços é intensa. Existem alguns critérios para essa ocupação, os quais privilegiam os senadores mais antigos, os mais velhos e aqueles que possuem maior expressão, como ex-governadores, ex-presidentes e ex-deputados.
Outra briga é por gabinetes maiores. Existem gabinetes com 30 metros quadrados, outros têm 60 m² e aqueles que ocupam um andar inteiro do Anexo I. Geralmente esses ficam com os senadores com maior poder político dentro do Senado, são líderes de bancadas ou aqueles que comandam comissões importantes e precisam de espaço maior para abrigar auxiliares.
O primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado, Heráclito Fortes (DEM-GO), é quem tem que administrar essa situação. “Alguns não admitem em hipótese nenhuma ir para lá. Seja por superstição ou por ideologia”, disse ele, após a reunião.
Mas existe outro ingrediente que faz com que os novos senadores não queiram a ala Filinto Muller. É a distância dela do Plenário e da saída do Senado. “Os gabinetes lá são grandes, mas talvez eles não queiram ir para lá por causa da distância”, completou.
Os senadores eleitos Blairo Maggi (PR) e Pedro Taques (PDT) são dois que comparecem a Brasília com frequência para organizar seus gabinetes. Ouvidos pelo RDNews, eles disseram não ter preferência por espaços. “Tanto faz. Eu quero é trabalhar”, afirmou o ex-governador de Mato Grosso. “Não me importo com isso. O importante é fazer as reformas que o Brasil precisa”, disse o ex-procurador da República.
O cuiabano Filinto Strubing Müller nasceu no dia 11 de julho de 1900 e morreu exatamente 73 anos depois, em 11 de julho de 1973, em um desastre de avião em Paris, França. Oficial do Exército Brasileiro, fez parte do Tenentismo, movimento de militares oficiais de baixa patente iniciado em 1920 e que iria desembocar na Revolta Paulista, em 1924, e na Coluna Prestes, a partir de 1925, da qual desertou oito dias após ser promovido major do movimento.
Muller foi chefe da polícia de Vargas de 1933 a 1942. Nesse período teriam sido presas sob seu comando mais de 20 mil pessoas acusadas de subversão. Esse período inclui a chamada Intentona Comunista (1935), movimento liderado por Prestes, já um dos dirigentes do Partido Comunista do Brasil, que na época adotava a sigla PCB. Foi um período de muita repressão, torturas e mortes.
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