Assentadas dão receita de empreendedorismo
Muita disposição e persistência movem um grupo de assentadas de Tupanciretã (RS), que há pouco mais de três meses fundaram uma padaria comunitária na sede do assentamento Conceição. A injeção de ânimo foi o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), através do qual elas comercializam cerca de R$ 4,9 mil mensais.
O grupo fornece produtos para seis escolas estaduais e 12 municipais. A entrega chega a 700 pacotes de bolacha, 1.660 pãezinhos e 312 pães de forma por mês, superando as expectativas iniciais. “Na primeira distribuição foram apenas 171 pacotes de bolacha, mas como caiu no gosto dos alunos, já no mês seguinte tivemos de aumentar a produção”, conta a tesoureira do grupo, Cloreci Lúcia Balin.
O grupo é formado por seis mulheres. Sem qualquer aporte financeiro, elas apostaram no mercado que apresentava demanda e buscaram empréstimos e financiamentos particulares para começar a produção. “Estávamos nos organizando para 2011, só que tinha este espaço da merenda escolar, que foi fundamental para começarmos”. A participação do grupo no PNAE iniciou no final de setembro.
Os recursos iniciais foram angariados em um almoço organizado pelo grupo em junho, que resultou em um lucro de R$ 1.234,40. Com este dinheiro compraram um forno usado. Depois, com os financiamentos, adquiriram outros equipamentos e reformaram a casa da antiga sede do assentamento, onde foi instalada a padaria Novos Horizontes.
Já no primeiro mês de funcionamento, as mulheres pagaram 30% das dívidas, e hoje, dois meses depois, elas quitaram os custos de implantação e comemoram os primeiros lucros. “Tínhamos muita vontade, mas não havia dinheiro. Mesmo assim resolvemos apostar e o principal investimento foi na gente, trabalhando sem parar”, acrescenta Lúcia.
Desde o início das atividades, o faturamento bruto da panificadora ultrapassou R$ 12 mil. O maior custo é com o transporte para entrega dos produtos às escolas, que é terceirizado e custa R$ 420 por mês.
A expectativa para o próximo ano é atender todas as escolas públicas de Tupanciretã, expandindo também para a rede de ensino de Cruz Alta, já que o assentamento fica na divisa entre os dois municípios.
Organização e determinação
Para implantar a padaria, as assentadas contaram com um estudo de viabilidade econômica, realizado pela prestadora de assistência técnica contratada pelo Incra, a a técnica Juliana de Almeida da Costa, da Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos (Coptec). “As mulheres estavam bem organizadas. Elas pretendiam tirar limpo R$ 600 por mês, mas o estudo mostrou que no início seria viável somente R$ 545 por pessoa. Mesmo assim elas seguiram adiante sem desanimar”, comenta a técnica.
O grupo prioriza a gestão coletiva. Todos os meses as mulheres fazem revezamento de função, com o objetivo de conhecerem os processos de administração e as etapas de produção do empreendimento. Gastos e lucros são anotados rigorosamente em um caderno e depois, com ajuda dos técnicos são passados para planilhas elaboradas em computador.
A iniciativa dinamizou também, a economia do próprio assentamento, pois a banha, os ovos e o leite para as receitas são adquiridos de outros assentados. Na cidade, o grupo compra farinha, sal, açúcar e embalagens plásticas. Além dos produtos para alimentação escolar, a padaria oferece cucas, bolos e massas, que são vendidas no assentamento e no comércio local.
“O grupo virou um referencial no assentamento, porque as mulheres saíram de casa e assumiram uma posição fora do lar. Mais que isso, elas estão tirando uma renda própria, que no final das contas, ajuda a melhorar a vida de toda a família”, garante o assentado Solon Balin, esposo de Lúcia.
O assentamento Conceição é estadual e foi reconhecido pelo Incra em 2000. Possui 62 famílias que têm a produção leiteira como principal fonte de renda.
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