Com bancos, restaurantes e joalheria, Rocinha é favela de luxo
Os moradores da Rocinha se orgulham em dizer que a sua comunidade, como preferem chamar a antiga ocupação irregular que explodiu nos anos 1980, é diferente de todas as outras. Promovida a bairro por decreto de lei nos anos 1990, o comércio fervilhante conta com uma franquia da lanchonete Bob"s, três agências bancárias, muitos botequins do mesmo nível que qualquer bar da zona sul carioca e até um restaurante japonês. "Não dá para comparar a Rocinha com nenhuma outra favela do Rio, pois aqui as pessoas são livres e não precisam sair daqui para nada", diz o morador e líder comunitário Telmo Barros.
A cantada liberdade da Rocinha se revela numa caminhada por suas ruas. Na Via Apia, em plena tarde de segunda-feira, um homem fuma um cigarro de maconha na companhia de outro que enrola um. Nenhuma preocupação com a polícia, mesmo a poucos metros da avenida das Américas, que faz a ligação da zona sul com a oeste. Num ambiente desta efervescência comercial e tranquilidade social, tudo o que o tráfico da favela, controlado pelo traficante Nem, quer é passar despercebido.
Um morador que pediu para não ser identificado afirmou que o "movimento" - como a venda de drogas é chamada no Rio - tenta chamar o mínimo de atenção possível para tentar retardar a instalação de uma unidade de polícia pacificadora (UPP) no local.
"A UPP é um fato, ela vai chegar a qualquer hora. Mas qualquer ação agora precipitaria isso. Contra a força não há resistência e foi isso que a tomada do (Complexo do) Alemão mostrou", disse o morador.
As associações do bairro afirmam não ter qualquer relação com traficantes. De acordo com associações ouvidas pela reportagem, a relação é da mais absoluta cordialidade, mas sem intimidade. Outro morador ouvido pelo Terra afirmou que é tradição do chefe Nem um assistencialismo dirigido a moradores mais carentes como a compra de remédios, por exemplo.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.
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