Famílias denunciam ameaças e acusam grupo de policiais civis
Homens contratados por fazendeiros e mineradores estão expulsando 172 famílias de uma associação de pequenos agricultores localizada a 6 km de Cuiabá, no distrito do Coxipó do Ouro. A ação envolve mais de 40 barracos queimados, plantações destruídas e grandes valas cavadas para impedir a locomoção das famílias. Elas acusam policiais civis de estarem participando dos crimes. Cada policial receberia R$ 100 por dia para fazer o trabalho.
A área mede 1.350 hectares, sendo 5 hectares divididos a cada família, que não têm acesso a água potável ou energia elétrica. O presidente da Associação de Pequenos Produtores Monte Carmelo, Gilmar de Oliveira, afirma que a perseguição foi mais intensificada há 90 dias. "Mas estão fazendo isso faz tempo, desde que se tem notícia do Rodoanel. Aquela área ficou muito valorizada. Eu ouvi que está avaliada em R$ 2,5 milhões".
Apesar de estar localizada no município de Cuiabá, dificilmente alguma autoridade chega no local. Esse setor da zona rural é muito tortuoso e, de certa forma, distante para um atendimento rápido.
O pedreiro Nelson Silva de Souza, 38, afirmou que seu barraco foi queimado 3 vezes e, por causa de uma vala profunda que foi cavada, não consegue chegar nele com automóveis, somente à pé. "Um barraco fraco custa entre R$ 400 e R$ 500 para levantar. Eu levei, sozinho, uma semana para construir e acabou em menos de 30 minutos".
Para tentar impedir que as famílias sejam retiradas por completo da região, elas foram divididas em 2 grupos, um em cada saída do assentamento. Apesar disso, nada impediu que até a geladeira de Aldenes Pereira da Silva, 40, fosse queimada. Ele levantou o pedaço de ferro retorcido para mostrar o que restou do bem.
Em outra casa, uma das poucas de alvenaria, a parede, o telhado e as janelas foram destruídas por homens que invadiram o assentamento no período da noite. "Eles chegam à noite, quando só estavam nós mulheres com os filhos. Não tem como a gente fazer alguma coisa. Tiramos as crianças das casas com muito medo", disse uma assentada.
Nelito Silva, que na cidade trabalha em uma loja de assistência técnica, disse que a caixa d"água que adquiriu recentemente foi destruída, além de várias telhas novas que comprou. Nelito disse que a sexta-feira (19) foi a última vez que as residências foram queimadas, com colchões, camas, panelas e outros móveis e itens domésticos. "Eles chegaram em 2 carros, estavam em 4 homens e queimaram tudo com querosene. Não dá para salvar nada porque a gente tem medo de tomar bala".
As crianças, obviamente, são as vítimas mais frágeis de todas essas ações. Como o assentamento não tem escola, elas necessitam estudar nos bairros Novo Paraíso ou 1º de Março. Para chegar lá, vão de carona ou percorrem alguns quilômetros para pegar o coletivo.
B.O. - No boletim de ocorrência (B.O.) registrado no Centro Integrado de Cidadania e Segurança (Cisc) do bairro Planalto na tarde de ontem, os agricultores afirmam que, enquanto os homens armados queimavam os barracos, "faziam ameaças amedrontando as famílias e alegavam que eram os donos das terras". "A terra não tem escritura e não é de propriedade particular", diz outra parte do documento.
O presidente da Associação, Gilmar de Oliveira, afirmou que os assentados estão na terra desde 8 de agosto do ano passado. Ou seja, mais de 1 ano, o que, segundo a legislação, garante a chamada "posse velha", isto é, o direito de permanecer na terra.
"Eles querem a terra também para fazer mineração e isso é proibido. Pode olhar aí em volta que você verá um monte de buraco escavado para tirar ouro. Mas eles fazem tudo isso ilegalmente, não possuem autorização da Sema (Secretaria de Estado do Meio Ambiente) ou de qualquer outro órgão de Mato Grosso para fazer mineração. Por isso querem tirar a gente daqui".
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