Para acessar grandes avenidas, motoristas procuram desvios que não possuem estrutura para suportar tráfego intenso
Rotas alternativas se transformam no caos em Cuiabá
As rotas alternativas tiram o sossego dos moradores em vários bairros de Cuiabá. São 50 ruas usadas como desvios. Elas são estreitas, os engarrafamentos são diários, falta sinalização e espaço para pedestres. O tipo de pavimento, projetado para áreas residenciais, também não é adequado ao fluxo e mostra sinais de desgaste antes do tempo, gerando prejuízos aos cofres públicos.
Algumas das ruas afetadas são as únicas formas de acesso entre regiões. Um dos exemplos está no bairro Carumbé, que fica entre as avenidas coletoras (que recebem os carros e cortam a cidade) Dante Martins de Oliveira e Jurumirim. Os motoristas costumam passar pela rua Amâncio Pedroso de Jesus, que já foi mão dupla e agora tem sentido único. A mudança foi feita pela prefeitura para reduzir o tráfego, que aumenta gradualmente.
A técnica em manutenção, Margarida Martins, 65, mora há 30 anos no bairro Carumbé e conta que os veículos chegam a subir na calçada durante os horários de pico e sempre acontecem acidentes. Os condutores argumentam que falta espaço na rua e por este motivo invadem a área de pedestres.
A rotina na comunidade também mudou. Atitudes que eram comuns, como andar de bicicleta e sentar na frente da casa para conversar com os vizinhos, deixaram de existir.
Até mesmo a tradicional feira livre do bairro corre risco de ser cancelada. O evento, que acontece na quarta-feira e interdita a avenida principal, deixa toda comunidade intransitável.
Os frequentadores da feira aproveitam o tumulto para estacionar em todo lugar, obstruindo as garagens das casas e impedindo até mesmo os ônibus de passar.
Margarida explica que existe um projeto para a duplicação da rua e várias casas serão desapropriadas, entre as selecionadas, está a dela. "Eu nunca pensei em mudar. Criei meus filhos no bairro e conheço os vizinhos. Agora, se o governo resolver, não posso fazer nada. Vou lutar sozinha".
Ribeirão do Lipa - Além dos carros de passeio, caminhões usam a rua Orivaldo de Souza, no bairro Ribeirão do Lipa, como atalho entre o Centro de Eventos do Pantanal, bairro Despraiado, avenida República do Líbano e a estrada para o distrito de Nossa Senhora da Guia.
O asfalto foi feito há menos de 2 anos e já mostra sinais de desgaste. Os buracos estão por toda a parte e as obras complementares, como calçada e sinalização, ainda não foram executadas.
Os veículos são carregados com brita e bloqueiam a via, principalmente durante a entrada e saída de alunos da Creche Municipal Francisco Santana. Como não existe área de pedestres na frente da unidade, crianças e mães precisam passar pelo meio da rua, competindo com os carros.
O risco de acidente é grande e os moradores estão revoltados com a situação. O empresário Fred Fogaça, 54, explica que o asfalto deveria ser um alívio e tornou a vida dos moradores um "inferno". A rua é muito estreita e não há calçada nem nos prédios públicos. "O poder público vai tomar uma atitude depois que morrer alguém".
Fogaça conta que os caminhões passam pela manhã em alta velocidade e flagra condutores falando ao celular durante o percurso.
A faixa de segurança, que foi pintada há menos de 6 meses, também não é respeitada. As pessoas precisam correr para não ser atropeladas.
Os moradores reclamam ainda da falta de policiamento e fiscalização. É comum motociclistas e motoristas disputarem "racha" na rua. Conforme o pedreiro Joacir de Oliveira, 53, eles ficam no "Mirantinho", bebendo e usando drogas. Depois, seguem para competição sob efeito do entorpecente.
Despraiado - A situação também é crítica no bairro Despraiado. No residencial, que tem o mesmo nome, os congestionamentos viraram rotina. A operadora de caixa, Caroline Zattar, 30, relata que os moradores queriam ocupar a área, fazendo um condomínio fechado, por causa do trânsito.
A proposta não foi aceita pelo governo porque a via é pública e essencial para a trânsito da cidade. O fato obriga as famílias a conviverem com o tumulto diário.
Caroline afirma que os acidentes são comuns, principalmente entre as ruas Afonso Pena e Projetada. O cruzamento não tem sinalização e, durante à noite, o risco é maior devido a falta de iluminação.
Bela Vista - Na avenida Vereador Juliano Costa Marques, que está na lateral do Shopping Pantanal e dá acesso aos bairros Planalto, Carumbé e Jardim Itália, os moradores reclamam da falta de investimentos. O fluxo de veículos aumentou muito com a inauguração da avenida das Torres, que cruza 14 bairros. Existe um projeto para a duplicação da pista, que não foi implantado.
A avenida é estreita e não há calçada no lado esquerdo, onde estão instaladas 2 escolas e 1 creche. Já houve atropelamentos e várias colisões no trecho.
A comerciante Ireci Farias, 48, reclama da falta de sinalização e espaço para os estudantes. O local, onde seria a calçada, está coberto por mato e, durante à noite, as pessoas têm medo de ficar no ponto de ônibus e serem alvo dos assaltantes. Ela diz que o aumento dos carros gerou a valorização dos imóveis. A especulação imobiliária faz com que os moradores antigos saiam do bairro.
Conforme Ireci, depois da avenida, o Bela Vista foi incluído na área central pela prefeitura, o que causou acréscimo no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). "Quando chega o progresso, os moradores antigos não podem usufruir e ainda precisam gastar mais".
Jardim Imperial 2 - O vendedor Isaias Leandro, 26, trabalha à margem da avenida das Torres. Ele conta que, depois da construção da via, o bairro melhorou muito, principalmente para os comerciantes.
A reivindicação dos moradores é a instalação de redutores de velocidade e passarelas para pedestres. Isaias diz que as pessoas chegaram a interditar a avenida com pneus em protesto contra a falta da segurança. Depois da manifestação, a prefeitura instalou uma faixa de segurança, mas ainda não é suficiente, segundo ele.
A avenida é considerada precária em sinalização. Outro problema é uma faixa, de aproximadamente 1,5 metro, que concentra ciclistas, pedestres e ponto de ônibus. Como ainda existem várias casas à margem, o espaço ainda é usado como estacionamento nos dias de festa. Os canteiros foram abandonados após a obra. Estão ocupados pelo mato e já mostram sinais de erosão.
Outro lado - O secretário Municipal de Trânsito de Transportes Urbanos de Cuiabá, Edivá Alves, diz que o órgão sabe da situação e tem todas as vias relacionadas. O problema é que não há recursos para fazer as melhorias necessárias e a expectativa são as obras de infraestrutura programadas para a Copa de 2014.
Comentários