Fiesp vê cenário turbulento para a produção nacional

Diante de um cenário de valorização do real ante ao dólar e maior competição com os importados, a indústria nacional aponta um cenário turbulento para o setor produtivo nos próximos meses.

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) já havia admitido um processo de desindustrialização puxado por maior competição de produtos importados. O diretor-adjunto do Depecon (Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos) da Fiesp, Walter Sacca, afirmou nesta quinta-feira que a tendência não mostra sinais de mudança no curto prazo.

"Vai ser preciso passar por um tempo de convivência penosa, com essas dificuldades, até a gente caminhar para uma solução de equilíbrio", apontou. Para ele, a medida do banco central americano de injetar US$ 600 bilhões na economia americana deve agravar a situação, já que vai favorecer ainda mais o câmbio para as importações.

"A medida ainda não foi sentida e nos preocupa. É difícil avaliar o tempo que leva para se propagar. Com o mundo eletrônico, não vai demorar dois anos, mas talvez, dois meses", afirmou.

O diretor cobrou a utilização de mais medidas do governo para evitar valorização excessiva da moeda. "Nosso erro não é manter [um sistema] de câmbio flutuante. Nosso erro é sermos fanáticos pelo câmbio flutuante", criticou.

Segundo ele, o Banco Central do Brasil é um dos poucos do mundo a não ter o emprego como um dos objetivos prioritários, tendo apenas a inflação como meta principal. "Não resta dúvida que o Meirelles foi bem sucedido, se você pegar o objetivo [do BC], ele desempenhou muito bem a função dele".

PATINANDO

A Fiesp fez um leve ajuste à projeção anterior para o saldo final de empregos na indústria paulista neste ano. O Departamento de Economia prevê um saldo de 110 mil novas vagas em 2010, um crescimento pouco acima de 4% em relação ao ano anterior.

Para Sacca, o resultado é aparentemente bonito, mas ilusório porque é comparado à base deteriorada. "Se você pegar uma base normal, a conclusão é que a indústria está patinando. Quem está aproveitando o crescimento econômico são os fornecedores de fora do Brasil e não a indústria nacional", afirma.

Em outubro, a indústria paulista gerou 1.500 vagas, queda de 0,06% nas contratações em relação ao mês anterior --a Fiesp considera estabilidade os resultados abaixo de 0,1%. O arrefecimento na geração de novas vagas no mês, segundo a Fiesp, foi resultado de uma antecipação de um mês nas demissões do setor sucroalcooleiro, que costumam impactar o saldo de contratações industriais a partir de novembro.

O fim da safra no setor da cana deve impactar os próximos resultados de emprego na indústria de São Paulo. O movimento será um dos principais responsáveis para a redução do saldo acumulado de novas vagas no ano dos atuais 195.500 para o nível projetado para o fechamento de 2010.