Soja transgênica dará espaço à convencional em Mato Grosso
A cadeia da soja em Mato Grosso pretende estagnar o aumento da produção do grão transgênico. Em cerca de 60% da área total cultivável no Estado na safra atual (totalizando 6,241 milhões de hectares), brotam plantas da oleaginosa que sofreram alguma modificação genética. São 3,741 milhões hectares plantados de soja mais resistente a herbicidas e insetos, contra 2,5 milhões/ha do grão convencional. Este conceito foi discutido nesta terça-feira (9), em Brasília, durante o lançamento do programa Soja Livre. O projeto visa atender a reivindicação dos agricultores do Estado quanto ao aumento na oferta de sementes convencionais.
Números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que a área cultivada com soja modificada na safra 2009/2010 era de 3,216 milhões/ha, representando 52% do total plantado no Estado, de 6,206 milhões/ha, considerando que na safra 2008/2009 o índice chegou a 59,9%. Nos Estados Unidos, a produção de produtos transgênicos atinge 90% da área cultivada.
A tendência do mercado, incentivada pela demanda crescente que vem da China, é que o percentual aumente para 70% em curto prazo. No entanto, o setor da agricultura mato-grossense quer que o índice, pelo menos, se mantenha em aproximadamente 35%, como afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira. De acordo com ele, o projeto deverá contribuir com esse processo de manter equilibrada a produção da soja com e sem modificação genética.
Silveira destaca que continuar com a produção do grão convencional em 35% da área plantada no Estado é uma estimativa já para a safra 2011/2012. Ele explica que, embora comparado aos números atuais seja observada uma redução de 5 pontos percentuais no plantio da soja sem modificação, a estagnação do índice contribuirá para a condição do
Brasil em se manter como o maior produtor de soja convencional do mundo.
Esse título o presidente da Aprosoja acrescenta que sofre forte influência da produção mato-grossense.
Consumidor - O diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange), Ivan Paghi, também acrescenta que a procura por soja convencional está crescente no mercado mundial e que o Brasil é o único que tem condições favoráveis para atender essa demanda. Prova disso é o posicionamento dos grandes varejistas que já estão em busca de oferecer produtos que não contêm modificações genéticas.
Paghi explica que o preço do alimento convencional condiz com a complexidade do sistema de produção. Ele diz que o processo para plantar, colher e transportar a soja não transgênica influência ativamente no preço do produto para o consumidor. O chefe geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alexandre José Cattelan, afirma que a Rússia é um dos mercados que vem demandando produtos transgênicos. Ele diz que, aproximadamente, 70% do consumidor europeu estão dispostos a pagar o preço do produto sem modificações genéticas.
Produtor - O sojicultor mato-grossense quer sentir no bolso a diferença em plantar soja sem modificação genética. O custo da produção é equivalente ao da oleaginosa transgênica, mas a pressão do mercado, que deixa o produto mais rentável, nem sempre chega às mãos do produtor. Embora os demais elos da cadeia produtiva da soja tenham lucros com a demanda aquecida do produto convencional, o produtor que está na ponta da cadeia acaba não participando dessa divisão, explica o presidente da Aprosoja, Glauber Silveira.
Durante o lançamento do programa Soja Livre, o senador eleito e ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), ressaltou que o produtor mato-grossense quer ter direito à essa metade. "Temos que expandir a interação do produtor com esse nicho de mercado". Na ocasião, o senador Gilberto Gellner (DEM) também ressaltou que a competitividade diferenciada neste mercado é motivo para que o Brasil, inclusive Mato Grosso, procure expandir. O diretor técnico da Abrange, Ivan Paghi, acrescenta que com a decisão de plantar soja convencional o produtor receberá um prêmio, repassado pelas tradings, pela venda da soja. Ele explica que esse rendimento adicional pode variar de R$ 1,60 a R$ 12 por saca de oleaginosa vendida. "Dependerá muito da negociação".
Programa - A Aprosoja, Embrapa e a Abrange desembolsaram R$ 1 milhão para dar início ao programa Soja Livre. Já na safra 2010/2011 serão implantadas 24 Unidades Demonstrativas (UDs), que são áreas semeadas com todas as cultivares para avaliar seu desempenho, e 18 Áreas Demonstrativas (ADs), em que o produtor reserva 10 hectares para plantar uma determinada variedade de soja.
Segundo o coordenador do programa, Clóvis Albuquerque, a ação visa aumentar a oferta de sementes convencionais disponíveis para os produtores de Mato Grosso. A estimativa da Abrange é que sejam entregues entre 2,8 milhões a 3 milhões de sacos de sementes de soja convencional para os sojicultores do Estado iniciarem a safra 2011/2012. O programa ainda recebe o apoio da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) e da Fundação Rio Verde.
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