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Desunião e estilo centralizador de Serra marcaram campanha tucana
Em fevereiro deste ano, o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), recebeu de Luiz Gonzalez, responsável pelo marketing de sua campanha, um roteiro para as eleições.
Entre seus 50 pontos, destacavam-se: arrancar o rótulo de elitista, não precipitar a disputa e não brigar com a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seduzido pela cordialidade explicitada por Lula em eventos oficiais, Serra não imaginava que o presidente fosse entrar com força total na campanha para eleger Dilma Rousseff.
O tucano relatava conversas em que Lula falava de um hipotético governo Serra.
A fidelidade de Serra à cartilha de Gonzalez foi alvo de bombardeio aliado ao longo de toda a campanha.
Mas, candidato de um partido marcado por disputas internas históricas, muitas delas protagonizadas por ele mesmo, Serra confia em poucos. Um deles é Gonzalez.
Os percalços do primeiro turno acirraram sua natural desconfiança em relação aos aliados. Sentindo-se abandonado, sem um padrinho do porte de Lula, nem um partido com a musculatura do PT, Serra retraiu-se e conduziu uma campanha solitária.
Embora tenha delegado poderes a um núcleo de aliados, assumiu o controle de tarefas cotidianas, incluída a agenda de viagens. E deixava sempre as decisões para a última hora. "Só penso no meu dia na véspera", repetia.
AÉCIO
Essa desconfiança histórica de Serra com seus aliados acabou acentuada pela ausência da sua imagem em panfletos e programais eleitorais país afora --especialmente em relação ao ex-governador mineiro Aécio Neves. Ameaçaram romper a relação por toda a campanha.
Nas viagens a Minas, Aécio disparava nas caminhadas, mal emparelhando com Serra, e sempre pedia para deixar as atividades antes do fim. "Só posso ficar 20 minutos", alegava, usando os tradicionais atrasos de Serra como argumento para a pressa.
No sábado na véspera da eleição, após carreata em Belo Horizonte, parte das rusgas entre os dois sumiram.
Aécio e Serra se abraçaram fraternalmente após uma conversa franca durante almoço no Palácio das Mangabeiras, na capital mineira.
O clima ameno continuou ontem. Após votar, por volta de 11h30, ao lado da filha Veronica e dos netos Antônio e Gabriela, o semblante de Serra era de alegria.
Seguiu, com a família, para almoço no Palácio dos Bandeirantes, oferecido pelo governador Alberto Goldman, que o sucedeu no início de abril deste ano.
Ao lado de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, fez do almoço um grande balanço de sua campanha. Ainda acreditava em surpresas na apuração dos votos, mas afirmou que o resultado alcançado pela oposição nas eleições já era uma vitória.
Segundo relatos, estava acelerado e ansioso, mas feliz porque iria desligar os motores após mais de 200 dias de trabalho ininterrupto.
FRATURA INTERNA
Essa maratona eleitoral foi contaminada, desde o início, por um clima de disputa entre os aliados que deviam fazer girar a máquina.
Relegado a uma pequena sala na sede da campanha, o presidente do partido, Sérgio Guerra, alugou uma outra sala a uma hora dali. Só em São Paulo, o comitê contou com seis endereços.
Essa pulverização custou caro para uma campanha que enfrentou dificuldades de arrecadação. Semana passada, num almoço, integrantes da equipe checavam contas a pagar, inclusive o aluguel de aviões referentes ao primeiro turno.
Essa desunião e o estilo centralizador de Serra aumentaram a responsabilidade sobre o candidato. Às vésperas do primeiro turno, a avaliação era que o ônus de uma eventual vitória de Dilma já no dia 3 de outubro penderia todo sobre ele.
A chegada ao segundo turno deu novo fôlego e permitiu uma reavaliação dos principais integrantes. Diziam que Serra chegara aonde podia, tendo uma adversária apoiada na relação umbilical com um presidente avalizado por 83% dos brasileiros.
"NO MEIO DA HISTÓRIA"
Mas, na semana que antecedeu a confirmação da derrota, os aliados do tucano ainda não tinham uma explicação para o resultado.
O senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) usou, na quinta, um romance do francês Stendhal, "A Cartuxa de Parma", para explicar a dificuldade de analisar, no calor do momento, as razões da eventual derrota.
No romance, o personagem principal, em meio a explosões, não percebe, num primeiro momento, que estava na batalha de Waterloo, que marcou a queda de Napoleão Bonaparte diante das tropas britânicas. "A gente está no meio da história."
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