Durante as duas extensas entrevistas que concedeu neste domingo, em Belo Horizonte, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) admitiu, repetidas vezes, a chance de vitória da presidenciável petista Dilma Rousseff no segundo turno. Senador eleito pelo Estado, o tucano chegou a insinuar que pode liderar a oposição caso as urnas confirmem a vitória da candidata do presidente Lula.
Aécio propôs, inclusive, uma revisão no seu partido. "O PSDB, qualquer que seja o resultado da eleição, tem que assumir de forma mais clara e explícita seu passado, sua história. Eu, por exemplo, tenho um orgulho enorme do presidente Fernando Henrique", afirmou.
O senador eleito chegou a defender o processo de privatizações ocorrido no país na gestão de FHC, principalmente com a desestatização da telefonia no Brasil. Segundo ele, a privatização do setor trouxe um "avanço extraordinário para o País". A venda de estatais foi o ponto central dos ataques da candidatura de Dilma Rousseff à gestão tucana.
A estratégia de campanha ex-ministra da Casa Civil foi passar ao eleitor a impressão de que o PSDB prejudicou o Brasil ao priorizar este estilo de gestão. Como fez ao longo do primeiro turno, o ex-governador de Minas voltou a atrelar as conquistas do atual governo federal aos oito anos da gestão tucana que o antecederam.
"Se o Brasil vai bem hoje, é em grande parte, porque estabilizamos a economia". Além da defesa do "legado" tucano, Aécio também voltou a admitir a vitória de Dilma ao mandar recados ao Planalto e falar como potencial liderança tucana a partir de 2011: "Quero ver um governo generoso, que não queira dividir o Brasil entre pobres e ricos, bonitos e feios".
Desavenças com DEM
O senador eleito minimizou as desavenças registradas entre o PSDB e o DEM, que ficaram nítidas desde o início do processo eleitoral quando foi escolhido Índio da Costa como vice de Serra. Apesar do "fogo amigo", de conhecimento público entre as duas siglas, Aécio pregou que a aliança com o partido é definitiva.
"O que precisamos é unir as forças de oposição se perdermos as eleições e nos unirmos no governo, no caso de vencermos. O DEM é um aliado natural, mas temos que ampliar nosso leque de alianças".
Mesmo dizendo que não se considera "condutor de nada" neste momento, Aécio Neves já anuncia que irá colocar sua capacidade de relacionamento e bom trânsito entre partidos de vários campos em torno da construção do tal processo de união. Ele também avisou que irá contatar senadores e governadores eleitos já nos próximos dias na intenção de apresentar uma agenda de reformas - como a política - para o Congresso.
Pacificar o Brasil
Com o tom de quem não descarta o papel de protagonismo alocado em uma eventual oposição, ele defendeu que o próximo presidente deva pacificar o Brasil. "O presidente, qualquer que seja o eleito, deve estender a mão e chamar para uma grande convergência nacional aquele grupo que tenha perdido a eleição".
Principal cabo eleitoral de José Serra em Minas Gerais, o ex-governador, cuja popularidade chegou a marcar 80% no Estado, usará sua aprovação regional como moeda de negociação para se cacifar a uma futura disputa presidencial. Preterido do processo pelo PSDB e pelo próprio Serra, Aécio será alçado naturalmente ao centro da cena política se Dilma sair vitoriosa das urnas.
Neste cenário, sobraria a Aécio enfrentar apenas o poder de fogo do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin. Caberá aos dois, neste caso, disputar um pretenso posto de protagonista.
Desafio
Para dar tratos à bola e tentar evitar receber toda a carga de responsabilidade no caso de derrota de Serra, Aécio pontuou que Minas Gerais promoveu uma "belíssima" campanha para o presidenciável tucano e que fez "o que poderia ser feito". Cobrado durante todo o primeiro turno por não se empenhar em nome de Serra, o ex-governador mineiro saiu em campo no segundo turno, chegando a visitar vários Estados do Brasil, difundindo a candidatura de Serra.
No tom de quem faz um desafio e já sabendo do ônus que terá numa eventual derrota, afirmou: "pode ter tido outros companheiros no Brasil que tenham trabalhado tanto quanto Anastasia (Antônio Anastasia, governador eleito) e eu em Minas para o Serra, mas, com certeza, não encontraremos ninguém que tenha trabalhado por Serra mais que nós".
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