Nelson Jobim não descarta participar de eventual governo de Serra
Em visita a Washington, o ministro Nelson Jobim (Defesa) não descartou nesta quarta-feira participar de um eventual governo José Serra (PSDB), destacando sua amizade pessoal com o candidato à Presidência e dizendo que "transita para todos os lados".
"Não faço projetos, vamos ver a cada dia", afirmou, antes de brincar que a decisão final será de sua mulher. "Eu me dou bem com todo mundo. Já fui do governo Fernando Henrique, sou amigo do Serra."
Mas frisou a jornalistas que é amigo de Serra há 30 anos. "Moramos juntos em Brasília e ele é meu padrinho de casamento."
Em viagem aos EUA a dias do segundo turno, Jobim explicou que sua proximidade com o candidato tucano criou um impedimento para que ele participasse de campanhas no Brasil.
"Disse ao presidente Lula que tinha impedimentos de natureza pessoal "inamovíveis" de fazer campanha contra o governador [Serra]. Ele respondeu: então não se meta nesse assunto, fique de fora."
Como tampouco poderia trabalhar em prol do PSDB, já que continua parte do governo petista atual, o ministro afirmou que nem sequer assiste aos programas eleitorais, "para evitar dar opiniões depois".
Se permitiu, porém, responder a perguntas sobre ao menos um ponto que virou tema de campanha --o uso de Vants (veículos não tripulados) no Brasil.
Os Vants entraram no debate ao serem apresentados por Dilma Rousseff (PT) como uma revolução nos modos de patrulhar fronteiras. A Folha apurou, porém, que o único Vant existente no país está parado num galpão no aeródromo em São Miguel do Iguaçu (PR), a cerca de 40 km de Foz de Iguaçu.
Jobim negou essa informação. "Temos Vants em funcionamento, sim", disse. O Heron [israelense] está sendo utilizado pela Polícia Federal na fronteira para monitoramento de combate ao narcotráfico. O Hermes 450 ainda estamos estudando para criar uma doutrina de voos."
Esse segundo ficaria sob controle das Forças Armadas e é o que está parado hoje. Um terceiro tipo menor de Vant, segundo Jobim, é produzido no Brasil e usado por fuzileiros navais.
O ministro fez as declarações após palestra sobre defesa nacional na universidade George Washington, na qual fez ataques aos EUA e defendeu a Venezuela.
Sobre este último, afirmou que não causa nenhuma preocupação no Brasil o programa nuclear venezuelano.
"Não temos essa síndrome de achar que todo programa nuclear é militar. Também não temos a síndrome conspiratória em relação a [o presidente venezuelano, Hugo] Chávez nem a [o presidente da Bolívia, Evo] Morales. Que não se pense que se pode intervir num país com um presidente das classes populares."
A respeito dos EUA, criticou duramente o país pela dificuldade de negociações para compra de equipamento militar. "Já cheguei a levantar da mesa no meio de uma discussão aqui em Washington porque disseram que transferir tecnologia é complicado. Sem transferência de tecnologia, para o Brasil não há discussão", afirmou.
Por outro lado, Jobim disse que o pacto de cooperação em Defesa assinado com os americanos no começo do ano já começou a dar frutos. Ele citou um acordo técnico que deverá ser firmado em dezembro para estabelecer mecanismos para harmonizar o tratamento que os dois países dão às informações sigilosas (o GSOMIA, na sigla em inglês).
Também disse que os EUA precisam ratificar a convenção da ONU sobre o direito do Mar, que contém regras para exploração de recursos em águas nacionais, e combater o consumo doméstico de drogas antes de pedir controle do tráfico em outros países.
"Queriam controlar a saída de drogas, trancar a droga dentro do Brasil. Isso não nos interessa. Se quiserem trancar a entrada, tudo bem."
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