Silval Barbosa fala de seus projetos para Rondonópolis e antevê um importante ciclo de desenvolvimento com a chegada do trem em 2012
Rondonópolis, agora nos trilhos
Após três dias de espera finalmente o assessor pronuncia a palavra esperada, “Entre”. Nos cumprimentamos. Mas o começo da gravação ainda demoraria mais de uma hora. A agenda dele é muito dinâmica e antes de conversar comigo havia o último compromisso institucional do expediente. À seu convite o acompanho numa curta escapada até a obra de duplicação da Rodovia Emanuel Pinheiro, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães. O carro para algumas vezes, ele desce, conversa com engenheiros e operários cobrando informações. Numa frase solta me diz, “essa estrada está no projeto para a Copa do Pantanal”. O trajeto de volta é diferente. O motorista nos leva ao seu comitê de campanha. Antes que ligasse o gravador o escutei atender cinco ligações do celular e numa delas falou descontraidamente com o deputado federal a ao que tudo indica futuro vice-presidente da República Michel Temer chamando-o de “Michel”. Durante a gravação o telefone ficou com um dos assessores. Após um copo d´água a fita rodou. Com voz pausada e em tom moderado falou exclusivamente sobre Rondonópolis. Em nenhum momento menciou sua trajetória política, que começou ao vencer a eleição para prefeito de Matupá em 1992. Seus dois mandatos na Assembleia foram mencionados, mas contextualizados na sua ligação com os deputados estaduais rondonopolitanos. Primeiro governador residente no Nortão, com perfil de homem interiorano, o peemedebista Silval da Cunha Barbosa revelou aquilo que o rondonopolitano mais gostaria de ouvir: com a chegada do trem em 2012 e os efeitos cascata da ferrovia Rondonópolis entrará no ciclo de desenvolvimento que lhe dará nova configuração econômica e social deixando-a definitivamente nos trilhos.
DIÁRIO – Como será a relação de seu governo com Rondonópolis?
SILVAL BARBOSA – Sou municipalista e sempre defendi a integração do governo com os municípios. Portanto, espero continuar tratando Rondonópolis com respeito, reconhecendo sua importância enquanto polo do agronegócio do Centro-Oeste e atuando em harmonia com suas lideranças políticas. Esse também foi o enfoque da administração de Blairo Maggi e o povo rondonopolitano é testemunha da boa relação que Blairo manteve com a cidade.
DIÁRIO – Essa relação passa pela prefeitura?
SILVAL – Essa relação é a mais abrangente possível porque o governador não pode governar somente para esse ou aquele grupo político, pois seu dever é administrar Mato Grosso para todos, indistintamente. No passado, a prática política era o ranço, com perseguições. Hoje, não; os tempos são outros.
DIÁRIO – Isso quer dizer que governador e prefeito podem ser adversários sem prejuízo administrativo...
SILVAL – Não se administra para esse ou aquele, especificamente, mas para todos, sem que isso signifique afinidade política entre as partes. Claro que em Rondonópolis, como ocorre em todos os municípios, minha relação política será com meus companheiros porque política é uma coisa e administração outra.
DIÁRIO – Quais as áreas que seu governo priorizará em Rondonópolis?
SILVAL – Rondonópolis é cidade diferenciada e nessa condição tem demandas incomuns em Mato Grosso e espero atendê-las. Veja bem, em dois anos a ferrovia chega e com ela surgirão algumas demandas que exigirão resposta imediata, como é o caso da formação de mão-de-obra técnica ferroviária. Prevendo essa situação estamos concluindo um estudo para criação de uma escola técnica estadual para ministrar cursos profissionalizantes nessa área e em outras que se inserem ao perfil econômico tanto regional quanto estadual.
DIÁRIO – O que é esse perfil econômico estadual no aspecto da formação de mão-de-obra?
SILVAL – Ele é bem variado e por isso exige essa escola técnica estadual.
DIÁRIO – Por exemplo...
SILVAL – Mato Grosso é grande produtor de álcool e açúcar. O setor sucroalcooleiro tem permanente demanda de técnicos para trabalhar em suas usinas. Na escola técnica estadual de Rondonópolis nós prepararemos profissionais para essa e outras áreas, a exemplo de torrefação de café, descaroçamento de algodão, plantas industriais para esmagamento de soja, produção de biodiesel, frigoríficos e etc.
DIÁRIO – Rondonópolis então se tornaria centro formador de mão-de-obra para Mato Grosso?
SILVAL – Em algumas áreas, sim. Porém esse projeto não será exclusivo de Rondonópolis, porque tanto o nosso governo quanto o governo da futura presidente Dilma Rousseff tem propostas para a criação de escolas técnicas em diversas cidades. No entanto, em alguns segmentos Rondonópolis será âncora na qualificação profissional.
DIÁRIO – Então a Ferrovia Senador Vicente Vuolo limpa trilhos para a escola técnica estadual...
SILVAL – Para ela e muitos outros setores. A ferrovia não será mero apito do trem ao lado da cidade. Precisamos criar logística para o modal rodoferroviário de Mato Grosso para o porto de Santos e outros destinos por meio de conexões ferroviárias.
DIÁRIO – Por exemplo?
SILVAL – Rondonópolis será o principal terminal de cargas agrícolas da América Latina e para a consolidação dessa primazia será preciso criar uma malha rodoviária alimentadora para a ferrovia. Pensando nisso, já pavimentamos o trecho de Sorriso a Boa Esperança do Norte e concluímos a pavimentação da MT-130 entre Primavera do Leste a Paranatinga. Agora, vamos trabalhar na conclusão desse corredor rodoviário ligando Paranatinga a Boa Esperança. Quando esse trecho ficar pronto boa parte da movimentação da Cuiabá-Santarém será deslocada para ele. O aumento do fluxo de veículos pesados teria um complicado gargalo entre Poxoréu e Rondonópolis pela limitação da MT-130, porém, nós vamos dar essa rodovia em concessão para que o concessionário a modernize para assegurar a movimentação diária nos dois sentidos, que nos primeiros anos será em torno de seis mil veículos.
DIÁRIO – Com a ferrovia Rondonópolis ganha mais uma rota pavimentada para alimentar os comboios rumo sul...
SILVAL – Ganha bem mais. Nós vamos pavimentar o trecho de Guiratinga a BR-070 perto de Paredão Grande passando por Tesouro. Por essa estrada parte da produção agrícola de Novo São Joaquim, Tesouro, Guiratinga e outros municípios será escoada para a ferrovia em Rondonópolis. Essa nova logística criará empregos em cascata e será o marco do início de um importante ciclo de desenvolvimento econômico e crescimento populacional em Rondonópolis.
DIÁRIO – Crescimento significa demanda por mais serviços públicos...
SILVAL – Realmente. Nosso governo está preparado para isso. Quando Blairo foi governador construiu cerca de cinco mil casas em Rondonópolis. Nos próximos quatro anos teremos que construir esse tanto ou mais, porque a nova fase do município exigirá mais conjuntos habitacionais, mas quanto a isso estou tranquilo, porque confio na eleição de Dilma Rousseff e uma de suas principais metas é assegurar moradia para todas as famílias. Rondonópolis sabe que nosso governo sempre manteve parceria com o presidente Lula no setor habitacional e não será diferente com a presidente Dilma. Essa demanda também passa por saúde e segurança, que são e continuarão sendo setores prioritários da nossa administração.
DIÁRIO – A Copa do Pantanal terá efeitos positivos sobre Rondonópolis?
SILVAL – Claro que sim. Nós estamos pavimentando a rodovia turística e histórica de Rondonópolis a Cuiabá passando por Fátima de São Lourenço e por Mimoso, onde nasceu o marechal Rondon. Essa rodovia está inserida ao projeto da Copa do Pantanal. O Aeroporto Maestro Marinho Franco receberá investimentos e será opção aos turistas que virão para o Mundial. Queremos também que o centro de treinamento do União seja utilizado por alguma seleção fazer seus preparativos técnicos e físicos.
DIÁRIO – Como explicar a participação de Rondonópolis se a Copa será em Cuiabá?
SILVAL – Copa do Mundo é evento de dimensão nacional a exemplo de Olimpíadas. Existem as sedes dos jogos, mas a abrangência é estadual. Um estudo da Fifa aponta que em média o turista internacional reserva apenas 5% de sua agenda para os jogos e que o restante do tempo se dedica a conhecer a região. Essa realidade sugere que o turista pode desembarcar em Rondonópolis, se hospedar na cidade, visitar a Cidade de Pedra, pescar no Pantanal, conhecer sítios arqueológicos na região, curtir as cachoeiras de Jaciara, pegar a estrada assistir jogo em Cuiabá e continuar hospedado na Terra de Rondon.
DIÁRIO – A execução de grandes projetos passa por apoio político. Onde buscá-lo?
SILVAL – É verdade. Os estados dependem do governo federal e com Mato Grosso não é diferente. Por sorte teremos Dilma na Presidência com Michel Temer de vice e contaremos com forte bancada federal, que dentre seus integrantes terá Blairo Maggi e Carlos Abicalil no Senado e valorosos nomes na Câmara. No plano estadual creio que elegeremos uma bancada bem representativa para nossa base de sustentação e que terá, como tradicionalmente acontece ao longo das legislaturas, vários deputados rondonopolitanos.
DIÁRIO – Ainda sobre deputados: na Assembleia sua linha de atuação parlamentar defendia Rondonópolis?
SILVAL – Fui deputado ao longo de oito anos e nas duas legislaturas convivi com colegas rondonopolitanos. Todos os projetos e propostas por eles apresentados em defesa dos interesses de Rondonópolis tiveram meu irrestrito apoio. Quando presidi a Assembleia nunca permiti que projetos para Rondonópolis sofressem algum tipo de trancamento. Os parlamentares cumprem acordo de cavalheiros respeitando as bases de seus pares, porém se reservando a questionarem tudo aquilo que julgarem não ser correto, o que felizmente nunca aconteceu comigo em relação a Rondonópolis. Quanto a isso meus ex-colegas de plenário na Assembleia Legislativa atestam o que digo.
DIÁRIO – Uma das grandes aspirações do município é a criação da Universidade Federal de Rondonópolis; seu governo compartilha essa reivindicação?
SILVAL – Vou além. Há algum tempo estamos empenhados na transformação do campus da UFMT para Universidade Federal de Rondonópolis e tenho certeza que venceremos essa luta, que é de todos. Porém, quanto a ensino superior minha meta é levar a Unemat aos 141 municípios; hoje, a Unemat está presente em 108 cidades. Quero fortalecer a Unemat criando campi regionais sem prejuízo do campus local nas cidades do entorno. Espero instalar a Unemat em Rondonópolis e quero que ela ofereça cursos que atendam às demandas universitárias da região. Tenho certeza que Rondonópolis se tornará importante polo gerador de ciência e conhecimento.
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