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Nacional
Quarta - 29 de Setembro de 2010 às 10:33

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Uma babá que trabalhou por cinco dias na casa do serventuário da Justiça André Marins, 41, disse em depoimento à polícia do Rio ter visto a menina Joanna Marcenal Marins, 5, "deitada no chão, amarrada com uma fita-crepe nos pés e nas mãos e toda suja de xixi e cocô". 

A menina morreu em agosto, após passar quase um mês em coma. A mãe dela, a médica Cristiane Marcenal Ferraz, acusa o pai de maus tratos. Ele nega.

Segundo o depoimento, o pai explicou à baba que a criança estava naquelas condições por "recomendação médica" devido a uma crise convulsiva que tivera na véspera. Laudo preliminar do IML (Instituto Médico Legal) aponta que Joanna teve uma meningite.

Na segunda-feira seguinte à contratação da babá, Joanna foi internada em coma no hospital Amiu, em Botafogo, depois de ser atendida e liberada ainda desacordada por um falso médico que atuava em uma clínica da Barra da Tijuca. Alex Sandro da Cunha Souza teve a prisão decretada, mas está foragido.

"Se houve mesmo meningite, e se foi meningite viral [informação divulgada pelo jornal "O Globo", mas não confirmada pelo IML], a Joanna morreu por causa das condições em que estava, porque meningite viral quase nunca leva à morte", disse a mãe, que acredita que ela estivesse com a imunidade baixa devido aos maus tratos. "Isso tudo está me causando uma revolta insuportável. Não consigo imaginar o que a minha filha passou naquela casa."

A polícia procura agora outras duas babás que teriam trabalhado na casa de Marins durante o período em que Joanna estava lá. A guarda da menina foi transferida provisoriamente para o pai no fim de maio --a juíza disse ter tomado a decisão com base em um laudo psicológico que atestava que Joanna sofria de síndrome de alienação parental, presente quando a criança é submetida a uma campanha para afastá-la de um dos genitores.

Cristiane, porém, contesta a avaliação. Ontem, o defensor público que a representa afirmou que as psicólogas responsáveis pelo laudo eram alvo de um processo administrativo movido pela médica, que alegava ter sido desrespeitada por elas durante o processo. Antônio Carlos Oliveira também questionou o fato de a menina não ter sido ouvida pelas peritas --no laudo, elas alegaram que Cristiane não levou a menina para a avaliação.

"Existem mecanismos jurídicos que poderiam ter sido usados para fazer a oitiva da menina", disse. "O laudo acabou apenas reproduzindo o relato do pai, da madrasta e dos avós paternos."

Segundo o defensor público, Cristiane estuda a possibilidade de entrar com uma representação administrativa contra as psicológas e a juíza que reverteu a guarda da criança, o que poderia resultar em advertência, suspensão ou até afastamento do cargo.

Antônio Carlos também entrou com um pedido de suspeição da promotora de Justiça Elisa Pitarro, da 1ª Promotoria de Investigação Penal da 3ª Central de Inquéritos do Ministério Público Estadual. Responsável pelo pedido de arquivamento de um inquérito policial de 2007 que investigava denúncias de maus tratos contra Joanna, ela era professor de André Marins na Escola de Magistratura do Estado do Rio e comentou o caso em uma aula gravada por um aluno.

"A mãe dela é louca. Eu vou denunciar aquela mulher, vou denunciar. Ela vai tomar duas denúncias minhas lá em Nova Iguaçu", afirmou, segundo transcrição da gravação obtida pela reportagem. Na mesma ocasião, ela também disse ter orientado Marins a falar sobre o caso na imprensa.

O advogado de André Marins, Luiz Guilherme Vieira, afirmou que não iria se manifestar sobre o assunto porque o inquérito corre em segredo de Justiça e porque teve o acesso ao depoimento da babá negado pela DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima). A promotora Elisa Pitarro foi procurada pela Folha por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, mas não deu resposta ao pedido de entrevista até o momento.






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