Onze países das Américas definem política brasileira direcionada à população masculina como referência e modelo a ser seguido
Saúde do homem: vizinhos pedem colaboração ao Brasil
O Brasil foi definido, por 11 países das Américas, como referência em política pública de saúde voltada à população masculina. E, por solicitação conjunta dessas nações, o Ministério da Saúde vai ajudar os vizinhos a desenvolverem políticas semelhantes à estratégia brasileira.
O pedido foi feito ao final de encontro internacional, realizado em Brasília, que reuniu representantes do Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador, Costa Rica, México, Guatemala e Canadá, além do Brasil. O interesse desses países demonstra que a saúde da população masculina entrou na agenda de prioridades deles, a exemplo do que fez o governo brasileiro, em agosto do ano passado, ao lançar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.
O objetivo é criar uma rede de prevenção e atenção à saúde dessa parcela da população, fortalecendo a estratégia no continente americano. Na América Latina, o Brasil desponta como pioneiro nessa ação. Em todo o mundo, só três países tomaram a decisão de implementar políticas focadas na prevenção e promoção à saúde masculina: Brasil, Austrália e Irlanda.
Com realidades semelhantes (principalmente nas Américas Central e do Sul), os 11 países fizeram – durante o I Seminário Internacional de Saúde do Homem nas Américas – um diagnóstico da saúde de suas populações masculinas. A conclusão é que, quando o assunto é saúde, “os homens são mesmo todos iguais”; ou seja, resistentes a prevenir e a cuidar da saúde e da qualidade de vida.
A violência e os acidentes de trânsito são as questões de saúde pública, relacionadas à população masculina, que mais preocupam esses 12 países. Essas são as maiores causas de morte entre os homens na região na faixa etária entre 20 e 24 anos.
“A prevalência de mortes entre os jovens tem motivo. A "masculinidade" do homem das Américas é construída a partir de uma cultura de autossuficiência, o que os faz sentirem-se invulneráveis e a correr mais riscos”, analisa José Luiz Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (Dapes) do ministério, área responsável pela Coordenação de Saúde do Homem.
DIAGNÓSTICO – No Brasil, por exemplo, violência e acidentes de trânsito são responsáveis por 41% das mortes na faixa etária entre 20 e 24 anos. Entre os homens brasileiros, 82% das vítimas de morte por acidente de trânsito acontecem nesse grupo.
Considera-se que, por motivos culturais, os homens têm mais resistência a procurarem cuidados médicos e a terem atitudes preventivas com relação a problemas de saúde. Segundo estudos do Ministério da Saúde, a população masculina geralmente procura os serviços de saúde por meio da atenção especializada, já com o problema de saúde detectado e em estágio de evolução. “E, muitos deles também não seguem os tratamentos recomendados”, observa José Luiz Telles. Indicadores mostram que os homens têm hábitos de vida menos saudáveis e estão mais suscetíveis a fatores de risco para doenças crônicas.
Na população brasileira, por exemplo, 15% das pessoas fumam. Entre elas, 19% são adultas do sexo masculino, enquanto 12% são do sexo feminino, segundo a pesquisa Vigitel/2009. O estudo também mostrou que 18% dos homens não praticam nenhuma atividade física, contra 9% das mulheres.
Em grande parte dos países americanos, esse cenário pode ser explicado pelo processo de desenvolvimento econômico e urbanização, acarretando mudanças estruturais de estilo de vida e comportamento. Cresceu significativamente, por exemplo, o número de automóveis em circulação.
Essa realidade contribuiu para o aumento do sedentarismo, da violência urbana e do uso de álcool e de drogas, o que provocou o aumento de doenças crônicas não transmissíveis: as doenças cardiovasculares, respiratórias e do aparelho digestivo (principalmente nas faixas etárias superiores a 35 anos de idade), além das neoplasias.
No Brasil, na faixa etária de 18 e 50 anos, morrem três vezes mais homens do que mulheres. De forma geral, a população do sexo masculino morre entre 5 e 8 anos mais cedo do que a feminina.
“Eles estão mais expostos a acidentes de trânsito e de trabalho. Por isso, os homens apresentam mais problemas de saúde do que as mulheres e vivem, em média, 7,6 anos menos”, explica Telles.
“PRÉ-NATAL” MASCULINO – Depois de ampliar o acesso da população masculina à rede pública de saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem – que este ano completou um ano – tem agora um novo desafio. Paralelamente às ações de incentivo ao aumento da quantidade de procedimentos urológicos no Sistema Único de Saúde (SUS) – como exames e cirurgias de próstata, vasectomia e fimose (veja mais dados abaixo) – a Política está estimulando os futuros pais a fazerem um check up durante o pré-natal da parceira.
A ideia é que os profissionais de saúde aproveitem o momento em que o homem está mais sensível – às vésperas de ser pai – para incentivá-lo não só a acompanhar as consultas durante os nove meses de gestação da parceira como também a realizarem exames preventivos. O princípio é: ele precisa se cuidar para cuidar da família. “É uma estratégia que estamos difundindo entre as secretarias municipais de Saúde”, informa José Luiz Telles.
RESULTADOS – Dados do Sistema Único de Saúde mostram o avanço da participação masculina no planejamento familiar e o crescimento da quantidade de exames de próstata realizados no SUS.
Em sete anos, a quantidade de vasectomias feitas pelo SUS cresceu 79%. O número de cirurgias saltou de 19.103, em 2003, para 34.144, em 2009. Durante o lançamento da política, ano passado, o ministério aumentou em 148% o valor pago por procedimento em ambulatório (de R$ 123,18 para R$ 306,47) e em 20% o valor por operação feita com internação (de R$ 255,39 para R$ 306,47).
O crescimento da quantidade de exames de próstata também indica que os homens também estão se cuidando mais para prevenir complicações como o câncer. De 2003 a 2009, triplicou o número de testes que detectam uma atividade anormal da próstata. A quantidade de PSAs (Dosagem de Antígeno Prostático Específico) realizadas na rede pública de saúde saltou de um para três milhões nesse período.
Os números refletem o aumento da participação do homem no planejamento familiar. Desde que lançou a Política Nacional de Atenção Integral á Saúde do Homem, o Ministério da Saúde aumentou em 148% os valores pagos para o procedimento de vasectomia em ambulatório (de R$ 123,18 para R$ 306,47) e em 20% para a operação feita com internação (de R$ 255,39 para R$ 306,47).
A POLÍTICA – Em agosto do ano passado, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem com o objetivo de incentivar o auto-cuidado dos homens e a prevenção de doenças prevalentes entre a população masculina. Com isso, o Brasil está na vanguarda das ações voltadas para esta população.
A política foi estruturada para aumentar o número de homens que procuram os serviços de saúde, principalmente na atenção primária, por meio da sensibilização da população e da capacitação dos serviços de saúde. Atualmente, 80 municípios – incluindo todas as capitais de todos os estados e o Distrito Federal – já aderiram à Política.
Para cada uma dessas cidades, o governo federal repassa R$ 75 mil para o financiamento de ações e serviços relacionados à política. Além disso, o Ministério da Saúde coloca à disposição dos estados e municípios recursos da ordem de R$ 613 milhões para ações indiretas, como distribuição de cartilhas, ações de educação, de comunicação e campanhas. Mais de 26 milhões de cartilhas sobre prevenção, diagnóstico, tratamento de câncer e promoção de hábitos saudáveis estão sendo distribuídas pelas secretarias estaduais e municipais de saúde.
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