Eles pediram R$ 500 para liberar um motorista.
PMs de Cuiabá são flagrados cobrando dinheiro de caminhoneiros
Policiais são flagrados cobrando dinheiro para liberar as cargas dos caminhoneiros em Cuiabá. As imagens foram feitas na rodovia dos Imigrantes, que liga Cuiabá ao sudeste do país. O Policial Militar identificado como Marco para o caminhão, pede os documentos e a nota fiscal da carga.
Segundo o PM, o caminhão leva 30 metros cúbicos de madeira; mas na nota constam 23. “Eu pego, levo, o senhor para a delegacia, então, entendeu?”, diz Marcos. Um sargento entra em cena, confere a nota e ameaça: “Diante dessas evidências a gente encaminha vocês "pra" perícia”. Ele diz que só a polícia ambiental pode tirar a dúvida. Mas isso deve demorar. “Eles medem tim-tim por tim-tim”.
Quando os policiais levam o motorista para dentro do posto, a conversa muda de rumo. “A gente não tem prazer nenhum em fazer isso daí”, diz o sargento. Em seguida o sargento pergunta ao PM que apreendeu a carga: “Tem jeito de amenizar a situação deles aí?”.
Os PMs saem da sala. Quando voltam, anunciam o valor da propina. “Quebrar aí por uns 500 (reais). ‘Tá’ bom ‘pro cês’?”, diz o sargento. O motorista pechincha. “Eu tô com 300 reais aqui, que é só pra comer na estrada. Duzentos conto tá liberado. Mais não tenho”.
“Pode ser?”, pergunta o sargento.“Pode”, responde o policial Marco.
O sargento recebe a propina. Depois explica por que consultou o subordinado, o soldado Marcos. “Eu não gosto de passar por cima da autoridade do policial que fez a abordagem”.
O sargento guarda o dinheiro no bolso. Devolve os documentos e agradece. “Obrigado... Boa sorte aí na frente”.
Na saída, o colega do motorista faz uma pergunta: “Como é o nome do senhor?”.
“Soldado Hernandes”, responde o sargento. O sargento mentiu. O nome verdadeiro dele é Maciel Ferraz Berbel. O outro policial é o soldado Marco Antônio de Assis Campos.
As imagens do flagrante foram entregues para o promotor que investiga crimes praticados por PMs. Imediatamente ele determinou a abertura de inquérito “O vídeo é muito claro. Os fatos falam por si só. Em tese o crime é de concussão, de exigir pra si vantagem indevida, deixando de praticar atos de ofício, como devidamente deveria fazer”, declara Vinícius Gahyva Martins, promotor da Justiça Militar de Mato Grosso.
Não é a primeira vez que policiais do mesmo posto de fiscalização são flagrados cobrando propina. Em maio, o grupo de combate ao crime organizado do Ministério Público de Mato Grosso, investigou uma denúncia parecida e gravou tudo.
Um vídeo mostra dois policiais negociando com um caminhoneiro o pagamento de mil reais. As notas que eles receberam tinham sido marcadas pelos investigadores. Os dois PMs foram afastados das funções e respondem ao processo em liberdade. “Nós não deixaremos de prender quem quer que seja que tiver nesta corporação praticando crime”, diz o Cel. Osmar Lino Farias, comandante da PM no estado.
O Sindicato dos Caminhoneiros diz que a corrupção nesse posto da polícia rodoviária estadual não é novidade. “É um posto de pedágio, parada obrigatória. Caminhoneiro reclama todo dia que é abordado ali. O policial inventa mil e uma desculpas para poder tomar o dinheiro do cara”, declara Roberto Pessoa Costa, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros.
O promotor que comandou a investigação quer que a PM faça um rodízio de policiais nesse posto para acabar com a corrupção. “Eles deixaram de ser servidores públicos há muito tempo. Ali trata-se de bandidos travestidos de policiais militares”, declara Sérgio Silva da Costa, promotor do Gaeco.
Segundo o comando geral da polícia militar de Mato Grosso, os dois PMs flagrados na reportagem foram afastados da corporação e estão presos. Eles vão responder pelos crimes de corrupção ativa e abuso de poder.
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