O alto de grau de infecções por germes fez a Organização Mundial de Saúde catalogar o fenômeno como “Síndrome dos Edifícios Doentes"
Projeto de Ramos cria medidas para prevenir contaminações pelo ar com bactérias
Uma nuvem invisível, imunda, de poeira. Muita sujeira acumulada e até ratos mortos. Esse cenário – reproduzido pelo Fantástico no início deste ano – foi gravado por um pequeno robô brasileiro dentro de tubos de ar condicionado em prédios públicos e particulares de São Paulo, por onde passam diariamente dezenas de milhares de pessoas.
Esse mesmo robô já descobriu problemas no ar condicionado de grandes aeroportos e hospitais em vários estados brasileiros. As partículas em suspensão são respiradas pelas pessoas que estão no ambiente. “Todo o ar que passa pela rede de dutos está indo para o ambiente e as pessoas estão respirando esse ar, afirmou o diretor da Associação Brasileira de Ar Condicionado, Leonardo Cozac.
Como agravante, a bactéria mais comum no ar condicionado – a Legionella Pneumophila – é a causadora de doenças sérias como a pneumonia. Foi ela que, em 1998, atacou e matou o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
O PROJETO – Com medidas para prevenir casos como esse em Mato Grosso, o Projeto de Lei nº 161/10 – de autoria do deputado Wagner Ramos (PR) – foi aprovado pela Assembleia Legislativa em primeira votação após ter passado pela Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social. Ele cria mecanismos que obrigam a fiscalização e a inspeção de qualidade nos equipamentos de ar condicionado e climatizadores de ambientes instalados em estabelecimentos comerciais e os de uso comum no estado.
No fim de dezembro passado, a Legionella Pneumophila também contaminou a nutricionista Aline Borges, de 23 anos. Diabética, a mineira de Belo Horizonte sofreu uma infecção generalizada e teve amputados os dedos dos pés e as pontas dos dedos das mãos.
Baseado em resumo de um estudo microbiológico, Wagner Ramos chamou a atenção para a deficiência da fiscalização em muitos locais e para uma característica da Legionella Pneumophila que assusta. “Ela é a bactéria mais comum entre 37 espécies diferentes e associada a surtos de doença. Pior: esse tipo causa a Febre Pontiac e a Doença do Legionário ou Legionelose – uma forma de pneumonia grave.
Cozac disse que a legislação no Brasil é boa, mas apontou uma falha grave: a falta de norma específica para hospitais. Para completar o quadro nebuloso, o médico Fábio Morato Castro, do Serviço de Alergia e Imunologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, alertou: “A manutenção inadequada dos aparelhos de ar condicionado tem levado a um aumento preocupante nos quadros de alergias".
OMS e ANVISA – A falha mais comum está nos sistemas de ar condicionado. Eles apresentam alto de grau de contaminação por germes e proporcionam o surgimento de uma série de distúrbios. O fenômeno atingiu tal dimensão que a Organização Mundial de Saúde (OMS) o catalogou sob o nome de "Síndrome dos Edifícios Doentes".
No Brasil, desde 2003 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou uma série de normas para ar condicionado de uso coletivo. Filtros e bandejas devem ser limpos mensalmente e o ventilador de seis em seis meses. Essas regras, no entanto, não são cumpridas com o rigor que foram estabelecidas.
OS AMBIENTES – O projeto de Wagner Ramos considera ambientes de uso coletivo, entre outros, aeroportos, shopping centers, supermercados, locais de trabalho, de estudo, de cultura, de culto religioso, de lazer, de esporte ou de entretenimentos. Também foram incluídas nessa lista casas de espetáculos, teatros, cinemas, bares, lanchonetes, boates, restaurantes, praças de alimentação, hotéis, padarias, farmácias e drogarias.
As repartições públicas, instituições de saúde – principalmente os hospitais, escolas, museus, bibliotecas, espaços de exposições e outros similares receberam tratamento idêntico.
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