Candidato a federal é indiciado pela morte de grávida
O candidato a deputado federal Davi Nascimento, 27, foi indiciado como co-autor do duplo homicídio da corretora Ana Cristina Wommer, 24, e da filha recém-nascida Maria Eduarda. Ontem, o acusado prestou mais um depoimento cheio de contradições ao titular da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), Marcio Pieroni. Entre os relatos desencontrados está o sumiço das chaves do Gol preto, usado para transportar os corpos das vítimas no dia 22 de agosto, data do desaparecimento da corretora, que estava grávida de 8 meses.
Pieroni destaca que a série de contradições baseia o indiciamento do candidato, bem como confirma a sua participação. "Os 3 depoimentos dele tiveram contradições e fatos desencontrados". Conforme o delegado, o indiciamento de Nascimento como co-autor dos crimes não representa que ele tenha o mesmo nível de culpa e responsabilidade do policial militar Claudemir Souza Sales, 30, principal acusado dos assassinatos.
No depoimento de ontem, o candidato afirmou ter jogado as chaves do carro fora depois de ter tentado entregar para Sales e, posteriormente, para um cunhado do policial. Pieroni afirma que Nascimento estava com a chave desde a terça-feira (24), depois que o corpo de Ana Cristina foi encontrado, e nunca chegou a comentar o fato. "Ele contou que foi ao Batalhão entregar as chaves para Sales, que já estava detido, mas foi impedido de entrar. Depois entrou em contato com um cunhado do policial que também não quis ficar com as chaves".
Depois de ver a repercussão do caso na imprensa, Sandro, que compraria o Gol por R$ 3,5 mil e chegou a ficar um dia com o veículo, foi até a oficina de Nascimento e devolveu as chaves citando que o policial e o candidato haviam "feito uma casinha" para ele. Nascimento confirma a devolução das chaves, mas contou que havia ocorrido em outro local.
Acareação - No dia 11, Nascimento e a esposa de Sales, Juliana Alice Becker, 25, participaram de uma acareação. A mulher afirmou na frente do candidato que ele e o policial haviam combinado a venda do Gol um dia antes da morte da corretora. Os dois haviam se encontrado na casa onde Juliana morava com o marido para tratar da campanha eleitoral do candidato e da negociação do carro.
Ela reforçou ainda à Polícia que no domingo (data dos assassinatos de Ana Cristina e Maria Eduarda) perguntou a Sales aonde ele estava depois que chegou da rua. O marido respondeu que havia se encontrado com Nascimento para resolver sobre a venda do Gol.
O veículo ano 2008 foi vendido por R$ 3,5 mil a um cliente do candidato, que se ofereceu para endossar a venda, caso fosse necessário. O carro, de fato, foi vendido imediatamente a Sandro. A preocupação em vender rapidamente o veículo era despistar a polícia e evitar que Sales fosse flagrado com um carro que tivesse vestígios de sangue das vítimas.
Roubo - As investigações da morte de Ana Cristina levou a DHPP a descobrir que o Gol preto foi roubado em Campinas (SP) e teve as placas clonadas. O veículo foi regularizado com base em outro carro semelhante, que circula na cidade de São José dos Pinhais (PR).
O caso foi passado a Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículo que deve apurar mais este crime de receptação e regularização do veículo roubado, que dispunha inclusive de lacre de uso exclusivo do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Versão - Nascimento é candidato a deputado federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC) e nega ter se encontrado Sales no dia do crime. Ele mantém a versão de ter passado o domingo (22) em campanha na cidade de Nobres (146 km a médio-norte de Cuiabá).
Crime - Ana Cristina manteve um relacionamento amoroso com Sales e engravidou do policial. No dia em que desapareceu, Ana Cristina estava grávida de 8 meses e avisou uma amiga que se encontraria com o pai da criança. Momentos depois, a corretora enviou uma mensagem de celular a amiga alertando que estava com Sales e percorria uma estrada de chão. Este foi o último contado da vítima.
Os laudos periciais mostram que Ana Cristina foi morta por asfixia e hemorragia. Pieroni afirma que os laudos de necropsia mostram que a vítima foi imobilizada por um dos indiciados, enquanto o outro a sufocou, ou com as mãos ou usando uma sacola plástica. Enquanto a mulher se debatia, teve início o trabalho de parto. O laudo aponta que o bebê passou com vida pelo canal do parto e morreu por não receber assistência ao nascer.
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