A avó de 10 das crianças que morreram em um naufrágio na Bahia, no domingo, disse que na hora do acidente, os netos gritavam e achou que não fosse sobreviver. Lezenita Francisca de Souza, 55 anos, estava ao lado das filhas, do genro, dos netos e do bisneto no barco que naufragou no Lago de Sobradinho, na altura do povoado de Alto do Galvão, região de Pilão Arcado, a 780 km de Salvador (BA).
Durante o velório de quatro dos 10 netos, realizado na Câmara de Vereadores da cidade, Lezenita chorava a perda, sem acreditar no que havia acontecido. "A água começou a entrar no barco por baixo. De repente, entrava por todo lado e não conseguíamos mais tirar a água. O barco estava afundando e as crianças gritavam", disse.
Segundo a polícia, as pessoas embarcaram em um pequeno barco, conhecido como "rabeta", saindo de Alto do Galvão, localidade distante 18 km da sede de Pilão Arcado, com destino a uma das ilhas da região. Segundo a avó, parte das pessoas tinha ido a pé e ouviu de longe os gritos, mas no início elas pensaram que era algazarra das crianças.
"Só depois eles perceberam o que acontecia e foram correndo pedir ajuda. O motorista do carro pulou na água para tentar nos salvar e ainda conseguiu tirar alguns de lá. Foi tudo muito rápido. Pensei que não ia mais viver. Nunca imaginei que uma coisa assim poderia acontecer", disse.
Apesar da tragédia, a avó não culpou o genro Ailton Lopes de Andrade, que pilotava o barco. Segundo ela, todos só queriam "passar um dia diferente". Lezenita tem 10 filhos e tinha 22 netos. Em Pilão Arcado moram seis filhos e os outros virão dos Estados de São Paulo e do Piauí para o enterro dos parentes.
Para Rosário Borges, moradora de Pilão Arcado, a situação difícil de enfrentar. "A dor dessa família é grande e deve ser terrível", afirmou.
O acidente
Segundo a Polícia Civil, as pessoas embarcaram em um pequeno barco, conhecido como "rabeta", saindo de Alto do Galvão, localidade distante 18 km da sede de Pilão Arcado, com destino a uma das ilhas. O aumento da força dos ventos desta época do ano pode ter causado o naufrágio.
Segundo funcionários da Agência Fluvial de Juazeiro, ligada à Capitania dos Portos do São Francisco, um inquérito deverá ser instaurado para apurar as causas do acidente. O Lago de Sobradinho possui 400 km de extensão e 4.214 km² de área. Em alguns trechos, a largura chega a 25 km. Foi construído na década de 1970, com o represamento das águas do rio São Francisco.
O piloto do barco, Ailton Lopes de Andrade, 35 anos, deve se apresentar na delegacia ainda nesta segunda-feira. Dependendo dos depoimentos, o piloto pode ser indiciado por homicício doloso ou culposo. "Tudo indica que seja doloso, pois com a experiência que ele tem de pescador, assumiu os riscos de produzir o resultado", disse o titular da delegacia de Pilão Arcado, Arnóbio Dionísio Soares.
O delegado disse ainda que o irmão do piloto, Raimundo Lopes de Andrade, que estava ajudando no transporte, também será ouvido sobre o caso, assim como o dono do barco, que deve comparecer à delegacia na próxima sexta-feira.
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