Mato Grosso: 3 milhões de habitantes. É o principal produtor de soja e de algodão do país e abriga o maior rebanho bovino. Um dos desafios é evitar que essa riqueza do campo prejudique a vida selvagem do Cerrado e do Pantanal.
“É uma beleza que ninguém se arrepende de conhecer. Todo mundo que visita volta pra visitar de novo”, disse um morador.
Os números do saneamento básico são os piores do Centro-Oeste: quase 90% dos moradores não têm rede de esgoto e 26% não recebem água encanada.
O estado tem o maior número de analfabetos da região. A taxa de mortalidade infantil, de 18, está abaixo da média nacional, que é de 19,3. O Mato Grosso tem 2 milhões de eleitores.
Ernesto Paglia falou, ao vivo, de Alta Floresta, com o apoio da TV Centro América, afiliada de Rede Globo em Mato Grosso. A pista do aeroporto é uma das mais longas de todo o Centro-Oeste, a mais longa do estado do Mato Grosso, com 2,5 mil metros de comprimento. Ela deu conforto e segurança para a equipe pousar o jato e, com o turbo-hélice, o Caravan, foram até Colíder, que fica a 150 quilômetros de distância, um voo relativamente rápido a bordo do Caravan.
Colíder tem esse nome curioso que está ligado à história da cidade, uma das comunidades criadas pelas companhias de colonização na década de 70, com apoio do regime militar, no norte de Mato Grosso: Companhia Líder de Colonização, daí Colíder, que vive hoje um momento de grande expansão, de crescimento. Parece haver lá uma preocupação para que esse crescimento não repita os erros do passado.
A equipe decolou num céu estranhamente cinzento. O cinzento, na verdade, era fumaça, que toma conta de toda a região, apesar das queimadas estarem proibidas até o dia 30 de setembro
Colíder fica a meia hora de voo de Alta Floresta. Não se engane com a poeira. Aos 30 anos, a cidade vive uma onda de prosperidade. O lugar vive da pecuária, mas o boi não dá emprego só para vaqueiro.
O chapelão esconde o eletricista Cícero Reinaldo, que foi plantar arroz há 35 anos. Hoje, trabalha num dos dois laticínios de Colíder. “Já criei duas filhas, casei as duas. Está só eu e minha velhinha agora em casa. Valeu porque minha família eu criei aqui”, contou ele.
Os queijos vão todos para São Paulo. Os empregos geram riqueza lá mesmo. “Não trabalha em Colíder, quem não quer trabalhar. Mão de obra qualificada, muitas vezes, falta aqui em Colíder”, explicou um morador.
Só um dos dois frigoríficos da cidade oferece 600 vagas. Cerca de 800 bois são abatidos por dia: 20% para países como Rússia, China e Venezuela. O próximo alvo é a Europa. Para isso, a carne tem origem controlada.
“Tudo que entra no frigorífico tem o nosso controle e tudo que sai também. Nada acontece sem o nosso controle”, afirmou o veterinário do Ministério da Agricultura, Manoel Dornellas.
O frigorífico é da família Birtche. Na década de 70, os açougueiros de Maringá foram atraídos a Mato Grosso pelos programas de ocupação da Amazônia patrocinados pelo governo militar.
Hoje, com dois frigoríficos, fábrica de óleos e biodiesel, além da frota própria, eles apostam no futuro do lugar.
“Não existe pecuária sem ambiente, não existe ambiente sem a carne, sem o alimento. Acho que todo mundo vai chegar no consenso no final e todo mundo sairá bem”, disse o empresário Cleonir Birtche.
Preservar nunca preocupou os fundadores de Colíder. O cálculo varia, mas eles derrubaram entre 76% e 82% das matas nativas. Uma foto no gabinete do prefeito mostra o estrago. “Quem fez o estrago no passado, não fez por maldade. São pessoas que foram trazidas para colonizar essa região e o próprio Incra instruía para que tivesse que derrubar, quem derrubasse teria o documento da terra”, destacou o prefeito de Colíder Celso Banazeski.
Hoje, um viveiro público distribui mudas, mas dificilmente haverá reflorestamento além das margens dos rios.
Foi inaugurada uma estação de tratamento de esgotos. O município constrói o único sistema de lixo em Mato Grosso com aterro sanitário e coleta seletiva. Novos loteamentos só recebem alvará se entregarem água encanada, rede de esgoto e asfalto.
Preparada assim, Colíder que ficar só com a parte boa da futura hidrelétrica no Rio Teles Pires. Tomara que o próximo salto de crescimento não repita o passado.
O cacique Raoní tem aldeia na região. Já viveu o suficiente para saber que o progresso nem sempre respeita a natureza. “Prejudica a terra, a floresta, faz mal à saúde da população, não só o índio, como todos os seres humanos”.
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