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Segunda - 09 de Agosto de 2010 às 06:57

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Em "Reflexões de um Liquidificador", comédia que estreia apenas em São Paulo na segunda-feira, o eletrodoméstico que está no título do filme reclama a certa altura da capacidade que tem de entender a tragédia das pessoas. Esta habilidade, aliás, é uma benção ou maldição que o afetou depois de uma manutenção. Selton Mello dubla o aparelho, com o cinismo um tanto doce que lhe é peculiar.

Como não podia deixar de ser, essa comédia de muito humor negro, no qual um dos protagonistas é um liquidificador falante, pede a suspensão dos laços com a realidade. Não é um filme realista, mas, claro, passa-se num mundo real onde licenças poéticas são necessárias para o andamento da história.

  Eduardo Anizelli/Folhapress  
O ator Selton Mello, que vai dublar um liquidificador no filme "Reflexões de um Liquidificador"
O ator Selton Mello, que vai dublar um liquidificador no filme "Reflexões de um Liquidificador"



Dirigido por André Klotzel ("Marvada Carne", "Capitalismo Selvagem"), a partir de um roteiro de José Antonio de Souza, o filme tem como personagem central a dona de casa Elvira, interpretada pela ótima Ana Lúcia Torre. Ex-dona de bar, com o marido Onofre (Germano Haiut, de "O Ano em que meus Pais Saíram de Férias"), ela passa os dias na cozinha enquanto ele faz bico como segurança. Para ganhar um dinheirinho extra, ela também empalha bichos que ele vende numa feira.

Esta é a rotina do casal até o dia em que ela entra numa delegacia de polícia para dar queixa do desaparecimento do marido. O delegado (Zecarlos Machado) já vai avisando que, automaticamente, Elvira é a primeira suspeita. O investigador Fuinha (Aramis Trindade, de "Meu Nome Não É Johnny") começa a seguir a mulher. Em casa, seu único amigo é o liquidificador, que dialoga com ela ouvindo suas reclamações e aflições. A vizinha (a engraçada Fabiula Nascimento, de "Estômago") aparece de vez em quando para conversar.

Elvira nos faz lembrar da personagem inglesa Shirley Valentine, protagonista do filme e peça de teatro homônimos, de 1989. Aqui, no entanto, em vez de dialogar com as paredes, como a protagonista daquele filme, ela fala com o liquidificador, num diálogo absurdo mas encarado com naturalidade. Reside nesse fato, aliás, boa parte da graça da história. Assim como na afinada química entre Ana Lúcia e o equipamento que, mesmo sem vida, é o seu melhor amigo.

Klotzel não tem medo de ir além dos limites, sem nunca cair em escatologias ou baixarias, em prol de um humor bizarro, mas bastante divertido, construído em cima de diálogos e situações.

"Reflexões de um Liquidificador" estreia num esquema diferenciado. Além entrar em cartaz numa segunda-feira, está apenas em uma sala (Espaço Unibanco 3 - Rua Augusta, 1475 - São Paulo), com preços variando entre R$ 2 e R$ 16, conforme o horário. Além disso, todas as sessões contarão com a exibição de um curta-metragem. E as duas últimas exibições de cada dia trarão um show de comédia de stand up. O diretor pretende levar o longa para outras cidades e planeja também um lançamento diferenciado para cada local. 





Fonte: Reuters

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