Repórter News - reporternews.com.br
MT Eleições 2014
Domingo - 08 de Agosto de 2010 às 07:00
Por: Ana Rosa Fagundes

    Imprimir


Depois de uma bateria de entrevistas com os principais candidatos ao governo, o Diário aborda agora os quatro principais candidatos a senador: Blairo Maggi (PR), Antero Paes de Barros (PSDB), Carlos Abicalil (PT) e Pedro Taques (PDT).

Este ano os mato-grossenses irão eleger dois senadores. Ao contrário dos deputados, que são eleitos de acordo com o número de habitantes em cada Estado, os senadores têm o papel de representar a República. Enquanto o Rio de Janeiro tem mais de 100 deputados federais, Mato Grosso só tem oito. Mas no Senado a história é diferente: como se ouve, é o único lugar onde Mato Grosso pode ser igual a São Paulo, porque cada Estado tem três senadores, daí a importância desses nossos representantes.

Blairo Maggi é ex-governador de Mato Grosso. Saiu do cargo em março deste ano com alto índice de aprovação depois de sete anos e três meses de governo.

Já Antero, com uma longa trajetória política, tenta voltar ao cargo de senador. O mandato dele terminou em janeiro de 2007. Conhecido pelo estilo polêmico, ele também foi deputado federal.

Deputado federal com uma boa avaliação, Carlos Abicalil tenta agora passar para o Senado. Na última eleição ele foi o deputado federal mais bem votado da história de Mato Grosso.

Pedro Taques é novo na política partidária. Ele deixou o Ministério Público Federal depois de 15 anos de atuação, tendo atuado em casos importantes, como a operação Arca de Noé, que levou à prisão do bicheiro João Arcanjo Ribeiro.

Nesta entrevista, o leitor pode fazer uma análise comparativa dos candidatos, já que as mesmas perguntas são feitas aos quatros.

Eles foram questionados sobre temas polêmicos, pelo menos em época de eleição, como legalização da maconha e aborto. Os quatro são contra a liberação da droga e também são contra o aborto, exceto nos casos em quais as leis já prevê liberação à mulher.

Eles também falaram sobre religião, casamento entre pessoas do mesmo sexo e as bandeiras políticas que podem defender, caso cheguem ao Senado Federal.

A escolha dos quatro entrevistados foi baseada nas últimas pesquisas eleitorais e foram convidados os que apresentam melhores índices de votação.

DIÁRIO DE CUIABÁ - Por que o senhor quer ser senador da República?

BLAIRO MAGGI - Quero me tornar senador para continuar defendendo os interesses do nosso povo, do nosso Estado, trabalhando para o desenvolvimento de Mato Grosso, que já experimentou tantos avanços desde 2003 e precisa de mais mudanças. Friso isso porque nunca encarei a política com vaidade. Me sinto muito à vontade em dizer: a tal ‘mosca azul’ não me picou. Espero continuar na política, com um novo mandato, numa nova casa, para continuar servindo ao povo de Mato Grosso. Quando eu pensei em voltar a me dedicar só às minhas empresas, muita gente, pessoas simples, do povo mesmo, fizeram o apelo para que eu seguisse na política. Isso me deixa cheio de orgulho, pois nos dá a certeza de que tudo valeu a pena. É isso que mais me motiva nesta nova caminhada rumo às urnas.

ANTERO PAES DE BARROS - Eu acho que o Brasil vive um momento muito importante e considero que minha experiência no Congresso me credencia para isso. Eu tenho quatro anos como deputado federal e oito anos como senador. Conheço o funcionamento do Congresso Nacional. Quero ajudar nas mudanças que precisam ser feitas no Brasil, com Serra, e também para ajudar no desenvolvimento de Mato Grosso. Eu quero promover a união da bancada federal de Mato Grosso, nossos três senadores e oito deputados federais, mais a bancada de Tocantins e Goiás e do Pará. Estes três estados têm um pedaço do Araguaia, a nossa região menos desenvolvida e a nossa última fronteira agrícola. Unindo os senadores desses estados vou propor a criação do polo Araguaia, para desenvolver essa região. Isso vai dar um impulso muito grande ao desenvolvimento de Mato Grosso. Quero ser senador por isso, para usar essa experiência que tenho a favor do desenvolvimento do Estado, ajudar o governo de Serra e ajudar o futuro governador de Mato Grosso, que eu espero que seja Wilson Santos.

CARLOS ABICALIL - Em primeiro lugar, quero ser senador em função da experiência que adquiri, pela legitimidade de ter sido o deputado federal mais votado na última eleição. Também coordenei ao longo de três anos a bancada federal e sou hoje vice-líder do presidente Lula no Congresso Nacional. E quero que Mato Grosso tenha uma aliança vitoriosa aqui e cada vez mais tenha a possibilidade de trazer ao Estado atenção do governo federal, dos apoios e parceria indispensável em infraestrutura e logística, que são desafios permanentes ao nosso desenvolvimento, mas também com ampla participação no desenvolvimento econômico, social e humano do Estado. Temos a perspectiva de assegurar o crescimento de 10% do PIB anual no nosso Estado e que alcance uma proporção ainda maior que sustente os desafios que temos na área de fronteira, de regularização fundiária e ambiental. Temos que produzir qualificação profissional aos jovens com a expansão do ensino técnico federal ou o ensino médio integrado nas escolas estaduais. Temos que ampliar a oportunidade de trabalho e de renda, da economia solidária até o aperfeiçoamento do Simples, que valoriza a micro e pequena empresas. Precisamos avançar na regulação de mais emendas para a saúde. Temos de avançar no sistema nacional de segurança pública, votando a PEC 300 que cria um fundo nacional de segurança publica e apoia a carreira e a valorização salarial de bombeiros e policiais militares. Também investir em pavimentação asfáltica e tratamento de esgoto. Também temos que irradiar ainda mais nossa potencialidade turística e cultura, ainda com a realização da copa.

PEDRO TAQUES - Porque eu quero ser mais útil ao estado de Mato Grosso. Porque eu penso que a política seja importante para o desenvolvimento de um Estado. Eu fui procurador da República por 15 anos. Durante esse tempo apliquei a lei e neste período senti que algumas delas precisam ser mudadas. Eu também vi que muitos recursos que vêm de Brasília são desviados em razão da corrupção. O senador exerce duas funções, consegue recursos e cria leis para que tenhamos segurança jurídica, que é uma tranquilidade dentro da sociedade. Entre as leis que precisamos mudar uma é da imunidade parlamentar, que é um escudo para as práticas de crimes. Temos que resolver a questão das leis ambientais, porque hoje são quase 16 mil entre portarias, resoluções, decretos... Precisamos ter uma sistematização nisso porque a lei ambiental não pode ser obstáculo para o desenvolvimento. Numa segunda atribuição o senador busca recursos em Brasília, através das chamadas emendas parlamentares individuais para que esses recursos possam chegar aos municípios e ao Estado. Agora, o que ocorre muito é o desvio desses recursos, daí sanguessuga, mensalão... Eu como senador vou buscar recursos para a base, mas tenho o compromisso de que cada 100 reais saírem de Brasília, 100 reais chegarão à base.

 

DIÁRIO - Pela sua história e trajetória, o senhor pode prever, caso eleito, quais serão suas principais bandeiras no Senado?

Maggi - O que defendo e defenderei acima de tudo é que Mato Grosso precisa de mais força política. Nosso Estado passou a experimentar o que é ter voz e vez no cenário nacional, quando falamos em política, há muito pouco tempo e isso precisa ser ampliado. No Senado, brigarei por mais recursos ao Estado, num pacto federativo mais justo com uma terra que tanto contribui para a geração de riqueza no país. Temos, por exemplo, um Fundo de Participação dos Estados (FPE) que reserva uma fatia muito pequena para Mato Grosso. Também defenderei constantemente medidas que reduzam a burocracia nas relações entre órgãos estaduais e federais. Isso emperra o atendimento ao cidadão e a obtenção de avanços em áreas cruciais, como a regularização fundiária, por gerar uma situação de duplo comando sem sintonia. Também cobrarei da União mais recursos para a segurança de nossa fronteira, medida crucial para o combate ao tráfico de drogas e a redução da criminalidade em nossas cidades. Tudo isso precisa ser revisto e estou disposto a encampar questões como essas no Congresso.

Antero - Uma delas é o fortalecimento do Araguaia. A outra será apresentar um decreto legislativo revogando a decisão do governo do PT, sob inspiração da ministra Dilma, que proibiu Mato Grosso de plantar cana-de-açúcar em 115 municípios. Revogando essa proibição a gente vai gerar emprego. A gente barra a votação no Congresso: enquanto não votar o decreto legislativo, não vota nada. Será uma medida para ajudar o setor produtivo. Quem colocou na Constituição a emenda que dá ao jovem o direito de votar aos 16 anos fui eu. E agora vou colocar uma outra lei: a redução da maior idade penal para 16 anos. Se o jovem de 16 anos é capaz de comandar quadrilha de narcotraficante, ele vai ter que responder também pelos atos que comete. Eu sei que terão muitos críticos dessa lei, mas nós vamos apresentar isso com muita tranquilidade, como forma de defender o fim da impunidade. Eu vou defender a universalização do ensino médio. Mato Grosso tem um apartheid social: 100% das crianças começam o ensino fundamental, mas desses só 32% começam o ensino médio. E esses que não começam não é porque a mãe ou o pai não quer colocar na escola, é porque não tem professor de química, física e biologia no interior. A universalização do ensino médio será possível com o ensino a distância. Quero lutar por escolas técnicas profissionalizantes. Com essas instituições, você sai com o diploma em uma mão e carteira de trabalho assinada em outra. Eu quero ser senador para fortalecer a Unemat, para fazer o curso de medicina na universidade e, além disso, e trazê-la para Cuiabá e Várzea Grande. Eu quero corrigir essa injustiça com Várzea Grande, que é a única cidade grande do Estado que não tem uma universidade pública. É inaceitável que essa cidade seja punida pela proximidade com Cuiabá.

ABICALIL - Em primeiro lugar, a bandeira de colocar Mato Grosso com o relevante papel estratégico que ele tem, seja na integração regional brasileira, seja integração latino-americana. O segundo grande dispositivo de que queremos tratar é das políticas de desenvolvimento social, uma vez que Mato Grosso hoje recebe ainda um fluxo migratório intenso. Parte dessa população que vem, vem ainda na condição de ser formada e qualificada para o trabalho. Nós temos hoje um crescimento vegetativo, crianças que nascem em Mato Grosso, superior ao crescimento vegetativo nacional, com oportunidades que precisam ser garantidas com o acesso ao serviço público de qualidade, notadamente de saúde e educação nessa fase. Mas também enfrentando um tema fundamental para nós, que é a segurança pública. Garantia das nossas fronteiras, da soberania nacional. Nesses desafios inclui-se um tema que é fundamental: Mato Grosso é um estado de ocupação recente e precisa resolver problemas de regularização fundiária, de reforma agrária e de regularização ambiental. Acho que essa superação fará com que nós, nesses temas legislativos, possamos trazer recursos que apoiariam os programas de desenvolvimento sustentados pela nossa plataforma de governo, representada por Silval Barbosa.

TAQUES - Eu não posso ser um senador monotemático. Eu penso que a minha origem é voltada à parte legislativa, por isso sou candidato ao Senado e não ao governo do Estado. A minha contribuição maior será na construção de um conjunto de leis que possam dar mais tranquilidade à sociedade. Em quais áreas? Primeiro, na segurança publica. Precisamos entender que segurança publica não quer dizer só polícia, não só direito penal. Mas quer dizer em um primeiro momento políticas sociais que possam fazer com que os crimes sejam evitados. Como senador, não terei discurso monotemático porque não sou xerife. No MPF atuei nas mais variadas áreas. Quero auxiliar para fazer com que o sistema pedagógico possa realmente ensinar. Eu confio muito numa escola de tempo integral. Temos que construir isso. Isso está no programa do PDT, em razão do Leonel Brizola. Também temos a questão da saúde, que é problema no mundo todo. Mas antes de falar de uma saúde curativa, temos que falar de uma saúde preventiva. Ela tem em um primeiro momento que fazer com que a população tenha saneamento básico. Temos que valorizar os agentes comunitários de saúde; investir em programa de saúde familiar. E depois temos que investir nos hospitais regionais. Mas os recursos para esses investimentos chegarão na base, não serão roubados em razão na corrupção, como ocorreu com o hospital central, que fica em Cuiabá. Todos os prédios são bonitos no Centro Político e Administrativo, mas o hospital central não recebeu um tijolo sequer. Por fim, temos que fazer com que as leis são sejam obstáculos para o desenvolvimento.

 

DIÁRIO - O senhor é praticamente de alguma religião?

Maggi - Sou católico e acredito muito em Deus. Sou também devoto de Nossa Senhora Aparecida. Penso que as pessoas precisam ter fé em tudo que se faça na vida. A fé remove montanhas e acredito nisso. Quando se tem fé, tudo pode acontecer. Tenho passagens na minha vida e da minha família que comprovam isso. Vi uma das minhas filhas, ainda menina, se curar de um câncer quando muitos não acreditavam em sua recuperação. Para mim e para a Terezinha, isso foi um verdadeiro milagre nas nossas vidas. Além disso, sempre trabalhei muito, dei duro para construir tudo o que tenho hoje. Uns podem até dizer que se trata de sorte. Mas sem a minha fé em Deus e no ideal de um futuro melhor, eu nada seria.

 

ANTERO – Sou! Fui durante muito tempo coroinha da igreja do Rosário. Aliás, tenho até uma história de lá. Eu era muito menino e o padre Aluízio, no sentido figurado explicava como Cristo foi descoberto pra ser pregado na cruz. Ao invés de falar do Judas, ele caracterizou o bem-te-vi como sendo Judas. Eu saí da missa procurando bem-te-vi pra pelotear. Pratiquei muito tempo a religião católica, participei de cursos de jovens, levei minha mãe para participar de curso de cristandade, hoje ela é ministra de eucaristia. Mas também frequento de vez em quando com minha filha e esposa o evangelho espírita.

 

ABICALIL - Sou católico de origem, fui batizado na paróquia de São João Batista, onde meu pai presidiu o conselho por muito tempo. Fui beneditino durante três anos, fiz meu curso de filosofia no mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro. Minha vinda para Mato Grosso foi através de contatos eclesiais, a partir da prelazia de São Félix do Araguaia. Militei em Barra do Garças por 12 anos, não apenas como profissional da educação, dirigente sindical e dirigente de escola, mas também na diocese de Barra do Garças. Fui catequista e hoje sou membro da comunidade da paróquia sagrada família na cidade de Cuiabá.

 

TAQUES – Sim! Eu acredito em Deus, sou batizado na igreja católica, vou à igreja com a minha esposa, mas não sou um católico praticante.

Também tenho amigos evangélicos, a minha filha mesmo é praticante de uma religião evangélica.

 

DIÁRIO - Em sua opinião, de que forma a religião pode contribuir para a formação do cidadão?

MAGGI - Como ia dizendo, a religião e a fé são indutoras do bem, um chamariz de coisas boas na vida das pessoas. Não podemos esquecer o efeito educativo que a religião exerce na sociedade ao ensinar valores de paz, de respeito ao próximo. Sou cristão e sempre preguei isso na minha família, aos meus filhos e aos filhos dos meus amigos também, porque acredito que a religião é um dos fatores decisivos na formação de cidadãos de bem.

ANTERO - Acho que é fundamental. Com Deus é difícil, sem Deus é impossível. Eu acho que Deus é tudo, eu acredito muito. Tanto é, que um dos meus objetivos no mandato é lutar contra o aborto.

ABICALIL - A religião é uma expressão profundamente humana, independentemente de qual seja aquela que é professada por cada cidadão. Normalmente, ela incorpora valores de convivência que são imprescindíveis em qualquer dimensão da cultura em todos os tempos. Eu acredito que mesmo aqueles que têm o ceticismo como opção, portanto que não professam uma fé específica, que não têm um credo escrito, transcrito, decorado e manifestado, têm nos fundamentos das boas religiões do mundo, sejam elas monoteístas ou politeísta, das tradições milenares que temos em Mato Grosso, nas culturas indígenas, nas tradições quilombolas e negras, seguramente valores de convivência que são hoje rigorosamente validados e necessários, que vão desde a tolerância, do reconhecimento e do valor da dignidade igual de cada uma das pessoas, até mesmo à prática da justiça como sendo um imperativo categórico de convivência das pessoas.

TAQUES - A religião dá ao cidadão, em razão das suas verdades e dogmas, um complemento moral importante. A religião é um caminho para que você possa em determinados momentos de sua vida confiar algo a quem você não pode explicar. Mas você não precisa nem explicar isso, a fé significa você acreditar sem explicar.

 

DIÁRIO - O senhor é a favor ou contra o aborto? Por que?

MAGGI - Sou contra o aborto e não escondo isso de ninguém. Porém, respeito e compreendo a lei ao assegurar, por exemplo, o direito ao aborto em casos de estupro ou risco de vida à gestante. O que sou totalmente contra é a banalização do aborto, porque a vida simplesmente não pode ser jogada no lixo. Esses dias mesmo, no Fantástico, passou uma reportagem sobre clínicas clandestinas de aborto, que fazem um procedimento a cada 5, 10 minutos. Isso é um absurdo. Como cristão, como pai de família, não tenho como achar isso normal. Sei que muita gente pensa da mesma forma.

ANTERO - Sou contra o aborto, sou a favor da vida. Eu vou votar claramente contra o aborto. Esses dias uma pessoa contestou falando que a mulher é dona do corpo dela. Eu falei, é sim, mas para ela tirar uma verruguinha da face ou querer melhorar alguma coisa, não tem problema nenhum. O que ela não pode é decidir sobre a vida que está dentro dela. Eu sou favor de uma educação sexual.

ABICALIL - Eu sou a favor da vida, e da vida de qualquer ser, inclusive e fundamentalmente aqueles que têm a dimensão de seres humanos. Eu tenho a convicção de que só cria um problema os que são seres humanos, os animais e as plantas não criam problemas. E só quem tem capacidade de superar problemas também são seres humanos. Nesse sentido o que nós temos que colocar na nossa atenção é que a defesa da vida é fundamental, inclusive a defesa da vida das mulheres já assegurada nos textos legais brasileiros quando elas são vítimas de violência, o que frequentemente ocorre, ou quando tem sua própria vida submetida a risco quando ocorre uma gravidez indesejada ou que porventura signifique isso. Sou a favor quando aquilo que a legislação brasileira já assegura, sempre por decisão judicial, com orientação e acompanhamento médico. Os dados sobre aborto no Brasil são muito graves. 5,3 milhões de brasileiras por ano se submetem a tratamento que são rigorosamente arriscados. Na realidade, isso significa duas denúncias: a primeira da ausência de uma educação sexual adequada desde a idade mais tenra dentro do ambiente familiar até mesmo ao atendimento do serviço público adequado às mulheres que precisam ter atendimento à garantia da sua saúde. Eu, sinceramente, daquilo que recolho como experiência, vejo que as mulheres que recorrem a essa prática estão no limite de seu desespero. E via de regra a situação pós-aborto é muito mais grave do que a anterior ao aborto.

TAQUES - Eu entendo que nós tenhamos que valorizar a vida. Hoje a medicina ainda não identificou se existe vida no momento que o espermatozóide fecunda o óvulo, no fenômeno da nidação, quando se cria o que se denomina zigoto. A medicina não identificou se ali já existe uma vida. Mas nós temos que entender que o Brasil é um país predominantemente religioso, existem as religiões em que a vida começa a partir do chamado sopro de vida. Eu entendo que a vida deva ser valorizada, mas uma vida digna. Eu sou contra o abortamento, porque valorizo a vida. Mas temos que entender que a mulher em determinadas situações tem sua autodeterminação, a sua liberdade de escolher. Por exemplo, em determinados casos de estupro, a mulher tem esse direito de escolher o seu destino. Também em determinados abortamentos terapêuticos, em que nós temos que ponderar a vida da mulher e a vida daquele ser que ali se encontra, aí eu sou favorável a esses abortos terapêuticos. Agora, temos que entender que na democracia esses temas têm que ser discutidos no Congresso Nacional. E na democracia significa que a maioria vence, mas respeitando a minoria. Temos que encontrar um caminho para que o direito das minorias seja respeitado.

 

DIÁRIO - O senhor é a favor ou contra a legalização da maconha? Por que?

MAGGI - Sou contra! No meu entendimento, quando se fala em legalizar a maconha, precisamos primeiro fazer uma grande reflexão sobre a dimensão do problema social que as drogas causam no país inteiro, incluindo Mato Grosso. As drogas, incluindo a maconha, são grandes fomentadoras do tráfico e da violência, dentro das casas de muitas famílias, no bairro, na cidade, no Estado... Então, não posso ser favorável a algo que contribua com a desagregação familiar e com o aumento da violência.

ANTERO - Sou contra! Acho que devemos dificultar o acesso ao vício e eu acho que a legalização vai facilitar a dependência. Eu sou a favor de aumentar impostos para cigarro, a favor de proibir anúncios de bebidas em horários nobres, mesmo com o anúncio de beba com moderação. Aliás, eu fiz um projeto nesse sentido. Foi rejeitado, mas acho que é importante fazer de novo. Eu sou contra qualquer tipo de droga, desde drogas leves como cigarro e bebida, é evidente que sou contra a maconha também. Eu defendo um tratamento diferenciado para traficante e dependente químico, que não é um bandido, mas um doente. Eu defendo que o Estado tenha casas de recuperação para drogados. Agora, defender a maconha não dá.

ABICALIL - Não sou usuário de maconha, acho que esse é um tema de debate internacional merece muita atenção. Cada vez é mais presente a relação de que no cenário é melhor ter uma atenção pública regulamentada do que apenas criminalizar e achar que esse é um assunto que não se incorpora às políticas públicas. A maconha é hoje uma droga que talvez seja menos perversa que o crack, menos presente do que o crack, e não pode servir para desviar nossa atenção daquilo que é mais grave que está mais disseminado entre pobres e ricos, que é a invasão dessa nova fórmula, além da prática comum entre jovens e adolescentes cada vez mais cedo de uso de bebida alcoólica misturada a medicamento, de uso de antidepressivos para praticar, para se divertir nas festas, que no meu tempo eu chamava de festa de arromba e hoje vai de rave a outras modalidades que precisam ter nossa atenção. De todo modo acho que o debate restrito à legalização da maconha ele tá completamente fora da abrangência que nós precisamos ter de políticas públicas e rigorosamente pobre para os desafios que nós temos que enfrentar na sociedade contemporânea.

TAQUES - Sou contra! Existem estudos econômicos que dizem que a maconha tem que ser liberada. Edições conservadoras no mundo todo, como um jornal inglês chamado The Economist, entendem que a maconha tem que ser liberada em razão de um componente econômico. O ex-presidente Fernando Henrique defende a liberação da maconha, mas eu entendo que esse efeito econômico não é o bastante para evitar o chamado efeito escada de uma sustância entorpecente, de uma droga, como a maconha. Você começa com a maconha, daí a pouco isso não mais te satisfaz e vai para outro tipo de droga. Hoje eu entendo que nossa sociedade tem que discutir isso, mas eu particularmente ainda sou contra a liberação da maconha nesse estágio em que vivemos.

 

DIÁRIO - O senhor é favor ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Por que?

MAGGI - Isso está fora dos conceitos em que me criei, mas respeito acima de tudo o ser humano. Cada um tem seu livre-arbítrio, o direito de fazer suas opções.

ANTERO - Casamento não deve existir, porque temos que respeitar as religiões, que são claramente contrárias ao casamento, pelo menos a maioria no Brasil. O que eu acho que pode ocorrer é uma legalização de documentação segundo a ótica do direito civil brasileiro. Duas pessoas podem declarar de livre espontânea vontade diante das leis brasileiras que quando uma delas morrer o patrimônio fica para outra, e outros direitos de pessoas que construíram uma vida juntos.

ABICALIL - Casamento é uma figura que só diz respeito na tradição ocidental a pessoas de sexo diferente. Então matrimonio é, segundo a cultura ocidental, uma relação parental que visa não apenas ao relacionamento afetivo do casal, mas à reprodução da vida. Então, é rigorosamente impróprio falar de casamento entre homossexuais. O que nós, sim, precisamos ter é a garantia de que o cidadão e cidadã que tenham sua orientação sexual, por distintas razões, de maneira diferenciada, possam ter reconhecidos os seus direitos civis. Desde a garantia da previdência, da assistência da saúde e do direito sucessório até a constituição patrimonial. Hoje essa expressão casamento na pergunta ou no questionamento do debate social visa esconder uma coisa que em realidade já é praticada por contratos civis não-reconhecidos, pessoais, particulares e que em realidade podem ou não ter desdobramento para o conjunto da sociedade. Esse é outro dos temas que cada vez mais ganharão relevância e nós não temos o direito de tergiversar sobre esse tema dizendo que estamos falando de casamento, porque não se trata de maneira nenhuma de casamento, porque casamento tem a sua base tradicional e a sua conformação cultural nas sociedades ocidentais como sendo uma relação parental de um casal com vistas à reprodução da vida.

TAQUES - Eu vejo que a liberdade sexual é algo que faz parte do que se denomina dados sensíveis da personalidade de um cidadão. Só a ele interessa, esse é o chamado direito de estar só, o que ele faz só a ele tem interesse, desde que não seja algo ilícito, por exemplo, envolvendo crianças e adolescentes. O Estado não pode adentrar nesse tipo de discussão. Agora, o casamento tem que ser regulado pelo Estado através de uma discussão no Congresso Nacional. Temos que entender que o Brasil é um Estado preferencialmente religioso, existem dogmas religiosos. Nós temos um Estado que é separado da Igreja, o Estado tem que discutir isso, mas temos que levar em conta posições contrárias e favoráveis. Eu hoje não tenho uma opinião formada sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo. O que eu defendo é que a relação sexual de pessoas do mesmo sexo o Estado não pode discutir, faz parte do íntimo. Eu, como legislador, não sou julgador moral. O Estado tem que discutir isso no Congresso Nacional levando-se em conta aquelas pessoas que são contrárias a isso. Mas sempre respeitando o diferente, não cabe ao Estado excluir uma pessoa de suas relações porque ela é diferente em qualquer ponto de vista.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/119773/visualizar/