Preso e travesti casam-se em prisão na Argentina sob nova lei
Um preso condenado por roubo agravado e um travesti se casaram nesta quarta-feira em uma prisão na província de Mendoza, no oeste da Argentina, após a sanção de uma lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina.
Osvaldo Martín Torres, 40, e o travesti "Diana" Acuña Talquenca, 42, foram casados pela oficial de justiça Antonia Pinelli.
Os dois se conheceram há dez anos, quando ocupavam o mesmo pavilhão na penitenciária Boulogne sur Mer, da cidade de Mendoza, 1.000 km a oeste de Buenos Aires. Acuña Talquenca estava preso por homicídio, segundo Torres, que foi condenado a 11 anos por roubo agravado e deve ser solto em um ano.
"Diana me tirou das drogas, dos comprimidos, da violência. Eu estava perdido e ela me recuperou", disse Torres sobre seu parceiro.
A cerimônia simples contou com a presença de familiares, no salão de jogos do presídio Almafuerte, no Departamento de Luján de Cuyo, 50 km a norte de Mendoza, capital da província.
Uma das testemunhas não chegou ao local, por isso o casal pediu que outro preso o substituísse.
Outro travesti, chamado "Carla", cuidou do arroz que foi jogado por quatro presos ao final do casamento. Na hora de cortar o bolo, "Diana" pegou a faca, já que Torres é proibido de portar armas.
Também nesta quarta-feira, em Tucumán (norte), casaram-se o diretor de Turismo do município de Bella Vista, Juan Carlos Lizarraga, e o vereador Rodolfo Humano, que em 2003 tornou-se o primeiro travesti a assumir um cargo eletivo na Argentina.
LEI
A Argentina tornou-se o primeiro país da América Latina a autorizar o casamento entre gays no no último dia 14, em meio a confrontos entre grupos de apoio e contra num debate que durou 15 horas no Parlamento.
A lei autoriza, em nível nacional, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e lhes dá os mesmos direitos que os dados aos casais heterossexuais, como adoção e benefícios sociais. A medida foi sancionada pela presidente Cristina Kirchner no dia 21.
O projeto sofria grande oposição da Igreja Católica, que reuniu milhares de pessoas em uma marcha pelo casamento entre homem e mulher durante a votação.
Na Argentina, a Lei de União Civil da cidade de Buenos Aires, aprovada no final de 2002, foi o primeiro antecedente no país. Apenas quatro cidades argentinas admitiam a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Desde dezembro, pelo menos oito casais homossexuais se casaram no país mediante recursos judiciais, mas alguns enlaces foram posteriormente cancelados.
A aprovação da medida atraiu casais gays estrangeiros, que passaram a fazer consultas sobre a possibilidade de se casar na Argentina.
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