Propostas não agradam a pecuaristas e novos embates estão previstos durante as assembleias. 36% da dívida é com MT
Frialto apresenta plano de recuperação judicial
O grupo mato-grossense Frialto apresentou ontem na 2ª Vara da Comarca do município de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá) seu pedido de recuperação judicial. O documento traz para análise dos credores dois cenários nos quais a empresa acredita ser possível manter a viabilidade econômica e financeira e assim manter a continuidade das operações. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), a dívida com pecuaristas estaduais está estimada em R$ 35 milhões, ou aproximadamente 36% do total devido à classe.
A dívida do frigorífico composto pelas sociedades Vale Grande Indústria e Comércio de Alimentos S.A., Agropecuária Ponto Alto Ltda. e Urupuá Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. é de R$ 564 milhões, sendo R$ 453 milhões com instituições financeiras, R$ 97 milhões com os pecuaristas, R$ 6 milhões trabalhistas e R$ 8 milhões de frete.
Em nota, a direção do Grupo afirma que com apresentação do plano à Justiça “cumpre uma das etapas mais importantes do seu processo de recuperação judicial”, anunciado em maio deste ano, e “reafirma seu compromisso com a manutenção de suas atividades e, principalmente, o pagamento de suas obrigações”.
A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) analisou a proposta do Frialto aos pecuaristas e disse que “é apenas um ponto de partida”. Segundo Luciano Vacari, superintendente da Acrimat, “muita coisa vai acontecer até a realização da Assembleia Geral dos Credores e as propostas apresentadas precisam ser discutidas, principalmente no que se refere a prazo e correção monetária”.
PROPOSTAS - No primeiro cenário apresentado, a empresa retoma suas atividades sem novos financiamentos. Nesta hipótese a proposta é de que após a homologação do Plano na Assembleia Geral dos Credores cada credor estratégico, cujo crédito não seja superior a R$ 25 mil, será pago integralmente cinco dias depois. Aos demais credores, 10% do saldo devedor a cada credor 35 dias depois, 50% do saldo devedor seriam pagos em 11 parcelas mensais e o saldo restante (40%) pago em 12 parcelas mensais, somando dois anos para quitar o débito.
Na segunda hipótese, o frigorífico prevê a continuidade das operações com financiamentos no valor de R$ 50 milhões. Nesse caso, após a homologação do Plano na AGC, cada credor “Estratégico” cujo crédito não seja superior a R$ 25 mil será pago integralmente cinco dias depois, aos demais credores pagamento de 10% do saldo devedor 35 dias após o pagamento previsto aos que receberam integralmente, 10 dias após o desembolso do valor do financiamento, pagamento de 50% do saldo devedor e o saldo restante pago em 11 parcelas mensais.
“A primeira proposta não aceitamos em hipótese nenhuma, não serve para os pecuaristas. Sobre a segunda, que só acontecerá no caso de aporte de novos recursos, ainda precisamos conversar muito, pois queremos redução no prazo de pagamento e assegurar a correção monetária da dívida”, pondera Vacari. Para ele, esse é o início de uma negociação e a Acrimat vai acompanhar todo processo para que seja aprovada a melhor proposta para o produtor “calejado com tantos processos de recuperação judicial”.
“A Acrimat ainda não teve acesso ao Plano completo entregue em Juízo, mas já temos uma noção das propostas”, revelou o assessor jurídico da Entidade, Armando Biancardini Candia. Ele ressalta que “será estudada cada proposta e apresentadas alternativas que protejam o pecuarista de mais prejuízos”. Candia alerta os produtores credores que “eles têm um prazo de 30 dias para analisar e fazer objeções às propostas apresentadas, que deverão ser entregues por escrito e protocoladas na Comarca de Sinop”. Depois disso, o juiz terá mais 150 dias para marcar a Assembleia Geral de Credores, que deve acontecer até o final de 2010.
EMPENHO - O advogado Joel Tomaz Bastos, do escritório de advocacia Felsberg e Associados, especializado em processos de Recuperação Judicial e representante do Frialto, disse que “estamos empenhados nas negociações com as instituições financeiras e a possibilidade da entrada de dinheiro novo na empresa é muito grande. As conversas estão adiantas, mas ainda não temos uma data para isso”. Segundo Tomaz Bastos, “a empresa tem total interesse em fazer o pagamento dos pecuaristas com a mesma prioridade que a Justiça determina em relação aos trabalhadores, ou seja, no máximo em 12 meses”.
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