Artista se inspirou na Aldeia Velha para compor a mostra de telas e esculturas
Exposição Meu lugar no Mundo traz a arte de Regina Pena
Aldeia Velha, bairro que deu origem a Chapada dos Guimarães, inspirou a artista plástica mato-grossense, pintora, desenhista e objetista Regina Pena na composição da mostra individual Meu Lugar no Mundo, em cartaz a partir do dia 23 de julho, no JáCafé. A exposição também tece homenagem em comemoração ao aniversário de Chapada, lugar que há uma década a artista cuiabana escolheu para morar. A noite será embalada pelo jazz da banda curitibana Black Cherry.
Com curadoria da crítica de arte Alda Couto, a exposição reúne telas e esculturas produzidas nos últimos dez anos, a maioria a partir de 2004, com temáticas ligadas à Aldeia Velha. Muitas inéditas, outras já expostas no Brasil e em Portugal. Paisagem e pessoas, movimento entre o exterior e o interior. “Há peças em que o foco está diretamente colocado sobre a paisagem e as pessoas. Em outras ocorre como que um recuo para dentro, literalmente”, explica Alda, acrescentando que “a opção pelo figurativo, em plena vigência da arte para além da forma, faz de Regina Pena uma libertária no exercício do paradoxo”.
A natureza, a simplicidade cotidiana impregnada de cores e traços de Regina se traduzem em paisagens e composições de interiores. “São cenas requintadamente montadas para segredar que o essencial também está ali fora, através de portas, janelas e quadros nas paredes, referências a diversas fases da obra, entrecruzando o espaço e o tempo, o perene e o instável”, descreve Alda. A artista diz que se descobriu assim ao sentir e entender o que Clarice Lispector e Van Gogh definiam, em palavras diferentes: o estado de graça. “O que esses dois nomes representam na história da arte está implícito e explícito no que a pintura apresenta”, completa Alda.
A pintura salta da tela plana para o relevo que desdobra e intensifica as cores e o conteúdo, se misturando nas colagens em madeira, traços permanentes e inquietações das experiências, técnicas de pintura e colagem, com os materiais tradicionais e a reciclagem, especialmente da madeira. As esculturas e objetos constituem uma forma de retrospectiva, que aparecem na ambientação externa do local e em sala especial. Diálogos da aldeia toma conta do corredor do Já Café, exibindo peças que narram a relação da artista com o mundo, a partir do lugar aparentemente isolado que escolheu para viver. “São obras que estabelecem influências, referências, enfim, boa parte da bagagem cultural, do repertório de Regina Pena. São oito peças, entre as quais se destaca, por exemplo, uma espécie de instrumento musical, composto de madeira e outros materiais, parte de uma série que ainda não esteve em exposição”, conta Alda.
“Cessaram as buscas...sinto uma plenitude de paz na rotinha diária mais simples: comida para os pássaros antes do café ainda quente, na varanda; na ordem na casa e então, mãos e emoções na pintura. O leiteiro a cavalo passou lá fora, eu aqui dentro viajo na internet, visito galeria de arte do mundo inteiro. Realidade paralelas, contrastes em que me (re) conheço”, poetiza Regina.
Para Alba Regina, diretora do JáCafé, a exposição de Regina é um presente aos visitantes do espaço que se tornou reduto de cultura e gastronomia. “O público vai encher os olhos e alimentar alma”, destaca ela.
“Esta mostra nos traz o universo cotidiano de uma grande artista que encontrou o seu lugar no mundo! Uma artista que alcançou liberdade e felicidade. A maioria de nós passa uma vida inteira buscando, sem encontrar. Nesse estado de graça às vezes a artista é tomada pelo "êxtase", que para nossa alegria, se eterniza nestas obras que agora temos a oportunidade de ver, convidados que estamos a conhecer "o seu lugar no mundo", a Aldeia, em Chapada dos Guimarães”, comenta Maria Teresa Carracedo, editora da Entrelinhas, que assina o catálogo da mostra. “Penso, sinceramente, que devemos prestar muito atenção a este chamado e aproveitar esta profusão de sensibilidade para encontrar também o nosso lugar”, finaliza.
A mostra, que segue até 22 de agosto, de sexta, a partir das 19h, e sábados e domingos, a partir das 10h, é uma realização do JáCafé, com apoio cultural da Entrelinhas e Casa das Molduras.
Black Cherry - Formada em 2005 na cidade de Curitiba-PR, por Allan Giller Branco (baixo); Ian Giller Branco (bateria) e Ruan de Castro (guitarra), a banda Black Cherry desenvolve seus trabalhos com a música instrumental fundindo jazz, rock, ritmos brasileiros, africanos, latino-americanos. Influenciados por músicos como Hermeto Pascoal, Miles Davis, Jaco Pastorius, Joe Zawinul, Wayne Shorter, Trilok Gurtu, entre outras bandas como Jimmi Hendrix Trio, Led Zepplin, Weather Report, Tribal Tech, Black Cherry traz um show marcado por vários momentos de improvisação, tornando única cada apresentação.
A apresentação em Chapada dos Guimarães será gravada para ser mixada e masterizada em
Curitiba, resultando em CD com as melhores gravações, cujo lançamento ocorrerá no segundo semestre deste ano. Além de Chapada, eles se apresentam em Cuiabá. A escolha dos locais é pela grande inspiração diante das riquezas naturais do cerrado. Entre uma gravação e outra, o grupo visita o parque nacional, suas trilhas e cachoeiras, renovando o ânimo para a criação de novos sons.
Serviço
Assunto: Abertura da mostra Meu lugar no Mundo, de Regina Pena, com música do trio Black Cherry
Data: 23 de julho - sexta-feira
Horário: 19h
Local: JáCafé – Aldeia Velha – Chapada dos Guimarães
Comentários