Incra reforça apoio aos brasiguaios de MS
O Incra/MS pretende ampliar o respaldo às famílias brasiguaias em retorno ao Brasil. No início do mês, a Ouvidoria Agrária da superintendência esteve no acampamento Antônio Irmão, erguido às margens da BR 163, na altura de Itaquiraí, a 350 quilômetros de Campo Grande. Ao lado das ações particulares, a autarquia colabora para a atuação de outras entidades de apoio.
Durante a visita da Ouvidoria Agrária, a equipe do Incra recebeu relatos das necessidades locais. A prioridade é garantir a sobrevivência das pessoas. Este ano, o instituto enviou dois lotes de cestas de alimentos em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Até o momento, foram entregues 33 toneladas de gêneros como arroz, feijão, leite em pó e açúcar. A última remessa beneficiou 573 famílias entre brasiguaios e demais integrantes do acampamento.
Na próxima semana, a autarquia dará respaldo à segunda ação de atendimento da Cruz Vermelha. Além disso, serão enviadas lonas para reforçar os barracos, até surgirem áreas capazes de receber os agricultores de forma definitiva.
Nesse sentido, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foi contatada para providenciar água potável e a prefeitura recebeu recursos federais para fortalecer os serviços de saúde e educação. Entidades como a Cruz Vermelha já estiveram no local para prestar assistência médica.
Reforma agrária
O superintendente regional do Incra, Waldir Cipriano Nascimento, explica que os integrantes do acampamento Antônio Irmão já foram cadastrados pelo órgão. As famílias brasiguaias com perfil apropriado serão incluídas na listagem de demanda do Programa Nacional de Reforma Agrária e assentadas conforme a disponibilidade de espaço. Atualmente, a autarquia possui sete imóveis para serem transformados em assentamentos em Mato Grosso do Sul. Entretanto, o sul do estado só poderá ter novos projetos mediante autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai), que precisa concluir o estudo das áreas de interesse indígena na região.
Trajetórias
Os chamados brasiguaios são brasileiros e descendentes que moravam no Paraguai há pelo menos três décadas. Nos últimos meses, centenas dessas famílias voltaram à terra natal expulsas por milícias armadas contrárias aos migrantes.
Como a maior parte dos brasiguaios é constituída por pequenos agricultores expropriados de suas terras, um dos principais destinos foi o reforço ao acampamento Antônio Irmão, montado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 2009 a 90 quilômetros do limite entre os dois países.
Adélia Souza Aguiar, de 43, e Janete Chagas, 39 anos, foram duas das pessoas ouvidas pelo Incra durante o trabalho realizado esta semana. Ex-vizinhas na localidade de Santa Tereza, no departamento de Caguazu, Paraguai, as brasileiras foram as últimas a chegarem ao acampamento.
Enquanto montavam o novo abrigo improvisado, elas contaram sobre o retorno ao Brasil na carroceria de um caminhão locado por 12 pessoas. “Tive que vender fogão, geladeira, meus potes. Tudo para juntar dinheiro e voltar”, relatou Janete.
Paranaense de Missal, ela mudou-se pra o Paraguai com a família aos dez anos. Após três décadas em fazendas, jamais aprendeu as línguas locais, espanhol e guarani, nem conseguiu comprar casa própria. Há quatro anos, mudanças na família dos patrões e a separação do marido, empurraram-na para o emprego doméstico na cidade.
A decisão de votar ao Brasil com quatro dos seis filhos é acompanhada de esperança. “Aqui vou ter a minha terrinha para ter vaca de leite. Lá eu tirava leite na vaca dos outros, aqui vai ser minha”.
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