Nanotecnologia constrói prótese de seio mais segura
Uma prótese de mama construída por meio da nanotecnologia poderá reduzir os índices de contratura capsular e vazamento de silicone, problemas que afetam uma em cada cinco mulheres que fizeram essa cirurgia.
Cicatriz que se desenvolve ao redor do implante, a contratura capsular é uma reação normal do organismo para isolar o que é considerado um corpo estranho.
Em alguns casos, essa cicatriz fica muito dura, o que causa dor e pode alterar o formato da mama. Nesses casos, é preciso uma nova cirurgia para a correção.
A expectativa é que a tecnologia possibilite a criação de uma nova geração de próteses de mama que não necessite de troca. Hoje, mesmo as mais modernas precisam ser trocadas a cada 20 anos.
O primeiro estudo controlado sobre a nova tecnologia foi feito pela Universidade de Manchester (Inglaterra) e publicado no "Journal of Plastic Surgery". A figura central do experimento foi a célula chamada fibroblasto, presente no processo de cicatrização.
O cirurgião plástico Alexandre Mendonça Munhoz, do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que nas mulheres que usam prótese mamária, o fibroblasto pode produzir diferentes camadas de colágeno, formando uma espécie de envelope contínuo em torno do material.
FIBROBLASTOS
Por meio da nanotecnologia, os pesquisadores criaram um novo tipo de material em que cada átomo e molécula puderam ser colocados no lugar desejado. Com isso, foi possível alterar a função dos fibroblastos, mudando o tamanho e a profundidade dos poros da superfície dos implantes mamários.
A interferência evitou a formação exacerbada de colágeno e inibiu a contratura. A alteração também parece possibilitar uma maior biointegração da prótese com o organismo da paciente, diminuindo as chances de rejeição, segundo Munhoz.
Para o cirurgião, o trabalho inglês é revolucionário porque demonstrou por meio de estudo controlado uma nova função para o fibroblasto, que até então só parecia servir para formar a fibrose.
"Houve uma alteração na produção de colágeno, uma diminuição na densidade das fibras colágenas e, principalmente, uma alteração no comportamento do fibroblasto, que muda sua forma dependendo do tipo de superfície ou de poros em que é colocado", explica Munhoz.
A redução dos índices de contratura capsular ainda é uma barreira a ser rompida.
"Temos hoje ótimos resultados no intervalo de 15, 20 anos [duração das próteses mais modernas], mas, no futuro, poderemos ter uma prótese que não precisará ser trocada."
INDIVIDUALIDADE
Já o presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), Sebastião Guerra, não é tão otimista. Segundo ele, há um fator imponderável, a individualidade de cada um, que não está relacionado à tecnologia.
"A corrosão da prótese e seu vazamento vai depender muito do organismo da pessoa. Mesmo com toda a tecnologia, vamos conseguir reduzir os problemas ao mínimo, mas acredito que nunca será inferior a 3%", diz ele.
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