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Economia
Quarta - 14 de Julho de 2010 às 07:50
Por: Renê Dióz

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Nem mesmo o franco crescimento econômico mato-grossense tem sido suficiente para reduzir a desigualdade de renda entre ricos e pobres. O fato é evidente nos vários contrastes urbanos, em que condomínios de classe alta fazem divisas com bairros precários, mas agora também parte de números oficiais: segundo o governo federal, Mato Grosso experimentou uma das menores reduções na desigualdade de renda entre 1995 e 2008, a despeito da franca expansão econômica no período. No país, desempenho tão ruim só foi visto em Pernambuco.

O diagnóstico foi divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão da Presidência da República, e levou em conta o índice de Gini – escala de 0 a 1 que mede a desigualdade de renda (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade). Em Mato Grosso, o índice calculado em 1995 era de 0,55 e só baixou para 0,54 em 2008. Em Pernambuco, o cenário foi similar, pois o Estado nordestino apenas caiu de 0,57 para 0,56. No país, a média era de 0,60 e caiu para 0,54.

As variações inexpressivas registradas em Mato Grosso num período de 13 anos são sentidas na pele pela população cuja renda passa longe das vultosas quantias de dinheiro em circulação. São pessoas que, nesses anos, de fato não elevaram em nada seus padrões de vida nem trabalhando no próspero setor da construção civil, como lamenta o servente de pedreiro Adriano Ribeiro, 53 anos.

Morador de uma casa de madeira carcomida no bairro Doutor Fábio 2, ele assiste ao crescimento do Estado desde sua chegada em 1984, mas acredita que tudo não passa “de barulho, só propaganda”: o paranaense nunca conseguiu ganhar mais de um salário mínimo por mês para dividir com sua esposa.

Adriano sempre teve de viver de bicos e na única vez em que conseguiu um emprego com carteira assinada, descobriu que seu patrão não lhe depositava o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Sua última grande aquisição foi há cinco anos e consiste apenas no terreno onde construiu sua casa de duas peças, mas até hoje deve a última parcela. A conta de água, também pendente, é de “impagáveis” R$ 500.

Para o Ipea, o servente de pedreiro se encontra na faixa considerada de pobreza absoluta, na qual a renda per capita vai até meio salário mínimo mensal (Adriano não tem filhos, mas divide a renda com a esposa, inapta para trabalhar). O Centro-Oeste, aliás, é a região onde o número de pessoas nessa situação econômica menos caiu: a variação foi apenas de 12,7%. Hoje, 26,8% da população no Estado vive tal como Adriano e 8,9% na pobreza extrema - renda per capita domiciliar de até um quarto de salário mínimo.

MODELO – O panorama não surpreende o economista Benedito Dias Pereira, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que atribui a pouca redução da desigualdade no Estado ao modelo de agronegócio, cuja lucratividade não gera efeito na economia local. Aí, ele considera que a situação fica ainda pior para a Capital, que não produz como os municípios do interior e cuja industrialização ainda é lentíssima.






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