De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), foram produzidas 1,7 milhão de unidades de automóveis comerciais leves, caminhões e ônibus no primeiro semestre deste ano, em todo o país - 19% a mais do que no mesmo período do ano passado. As vendas também cresceram no período: 9%. A produção de caminhões chamou atenção: aumentou 53% nos primeiros seis meses deste ano.
Num pátio lotado, a carreta novinha está pronta pra rodar... Com pneus usados. E o dono dela não pode reclamar. Pelo menos vai conseguir sair da fábrica. Centenas de carrocerias não conseguem sequer fazer isso.
“Neste momento, que nós poderíamos realmente estar entregando, atendendo a expectativa do mercado, nós não estamos conseguindo fazer isso por causa da falta de pneus (...) É uma pena mesmo, porque nós poderíamos ter um excelente 2010”, lamenta o coordenador comercial da Randon, Arselino Dellazzari.
Uma carroceria usada no transporte de cana-de-açúcar, por exemplo, precisa de 16 pneus, mas só tem 8. O dono terá que arrumar mais 8 se quiser levar a carreta. A situação é a mesma em outros fabricantes: 25% da produção está encalhada por falta de pneus.
Um depósito de uma revendedora dá uma boa ideia do problema que ela enfrenta. O lugar, que costuma ficar lotado de pneus, agora está vazio. E pelos cálculos da empresa, o pequeno estoque que resta só deve durar mais uma semana. “Esgotar, ele esgota. Tem dias que a gente não tem o que vender”, conta a supervisora Valéria Bueno.
Pra quem produz as carrocerias, há um descompasso entre a produção de caminhões e de pneus, que começou no fim do ano passado, quando o governo brasileiro aplicou uma sobretaxa aos pneus importados da China.
“Muitos fabricantes acabaram por diminuir as importações e, consequentemente, aumentou no mesmo momento o volume, a demanda no mercado interno. Então, com menor entrada de pneus importados e maior produção no mercado interno de implementos rodoviários, acabou acontecendo esse fato que é faltar pneus”, diz Rafael Wolf, da Associação Nacional de Implementos Rodoviários.
Mesmo diante desse cenário, Eugênio Deliberato, presidente da Anip - que reúne a indústria de pneus - diz que a produção acompanhou o crescimento do setor de carretas e caminhões de carga. E culpa as revendedoras por eventuais problemas nos estoques: “Não concordo, não falta pneu de carga no mercado (...) essa anomalia que elas colocam é resultado da falta de planejamento deles, sem dúvida alguma”.
Para o economista Francisco Pessoa, o importante é resolver o problema, para não desviar a economia do país da rota do crescimento: “A gente tem que lembrar que a maior parte do transporte de carga no Brasil é feita através de caminhões. (...) Você não está prejudicando só a indústria automobilística, você está prejudicando todo o resto da economia, porque a economia brasileira é muito baseada no transporte rodoviário”.
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