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Segunda - 28 de Junho de 2010 às 10:25
Por: Raquel Ferreira

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Cuiabá e Várzea Grande registram, em média, 20,5 ocorrências envolvendo armas de fogo por dia. De janeiro a maio deste ano, a Polícia Civil notificou 3.088 casos de naturezas diversas relacionados a armas e munições, que foram responsáveis ainda por 72% dos homicídios. Dados da Polícia Civil mostram ainda que 874 armas ilegais foram retiradas de circulação das duas maiores cidades do Estado, de janeiro a 23 de junho deste ano. A Polícia Militar foi responsável pela maior parte das apreensões. Embora considere alto o número de armas que deixaram de circular nas ruas, a delegada Thais Camarinho destaca que a quantidade não chega a representar 25% das 3.088 ocorrências registradas nos 5 primeiros meses do ano.

A delegada entende esses dados como preocupantes, mostrando que o mercado ilícito de armamento continua forte no Estado, esclarecendo que estas ocorrências são relacionadas a diversas situações em que as armas estiveram presentes, seja perda, roubou, tentativas de homicídios, assaltos, entre outras ocasiões.

Thais explica que essas armas são provenientes, em sua maioria, do tráfico ilícito e comércio ilegal, e chegam pela fronteira. "O número de armas legalizadas é sempre inferior ao de armas ilegais. Em alguns casos as armas eram legais e ao serem furtadas ou roubadas passam a ser ilegais nas mãos de bandidos".

Essa presença intensa de revólveres e pistolas ilegais é responsável pela sensação de insegurança que a população tem vivenciado. A delegada destaca que esse cenário de criminalidade não é de exclusividade do Estado e tem ocorrido em todo o mundo. A participação da mídia destacando os casos de violência também é responsável pelo medo atual que a população sente. "A situação que vivemos é muito séria. Os números são concretos e mostra a gravidade do problema".

A Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) aponta que até maio ocorreram 91 assassinatos em Cuiabá e 40 em Várzea Grande. Na Capital, 65 mortes foram provocadas por tiros. Na cidade vizinha foram 29 óbitos ocasionados por balas. A média nas 2 cidades é equivalente a 72% de homicídios provocados por arma de fogo. As armas brancas estiveram presentes em 24,5% destes crimes.

Além das mortes, Cuiabá e Várzea Grande têm um alto número de pessoas feridas por tiros. As unidades de Pronto Socorro das duas cidades atenderam até maio 181 pacientes baleados, 93 em Várzea Grande e 88, em Cuiabá. Na Capital, em 2009, foram 216 pacientes atendidos. Geralmente, essas pessoas foram vítimas de tentativa de homicídio ou baleadas em assaltos, a exemplo do vendedor A.J.R.M., 20, que foi alvejado por 2 tiros.

Ele tentou fugir de 2 homens que tentaram roubar sua moto em Várzea Grande. Ao desobedecer a ordem dos bandidos para descer do veículo e fugir, o jovem foi atingido por 2 balas, uma que acertou a perna direita e outra que ficou cravada no capacete. Ele conta que teve muita sorte apesar dos ferimentos que sofreu. "Quando a bala acertou o capacete eu achei que tinha morrido, mas continuei fugindo. Dei conta que estava vivo somente quando consegui de fato socorro". Mesmo baleado, A.J.R.M. não caiu da moto e conseguiu escapar.

O filho do comerciante J.L., 56, teve menos sorte. O rapaz de 25 anos chegava na universidade quando foi abordado por 2 homens em uma bicicleta que anunciaram o assalto. Mesmo entregando o veículo, o estudante levou 5 tiros, que acertaram abdome, braço e perna.

O comerciante conta que sente vontade de chorar somente ao lembrar dos dias de angustia vivenciados pela família enquanto o filho estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Pronto-Socorro de Cuiabá. "Foram 28 dias internados. O assalto aconteceu em novembro do ano passado e até hoje sofremos as consequências dos tiros que atingiram meu filho".

O rapaz já passou por 4 cirurgias e será submetido a mais uma no próximo mês. "Ele ficou sem trabalhar, eu fiquei sem trabalhar. Não tive condições de continuar trabalhando diante dessa situação. Passamos dias muito difíceis, gastamos muito com medicamentos. Mas agora a família está retomando a vida normal, depois de muito sofrimento".

Desarmamento - Informações da Polícia Federal apontam que em 2010 a instituição recolheu 212 armas, entre apreensões e entregas ocorridas na Superintendência de Cuiabá. A delegada Thais, que preside o Comitê do Desarmamento em Mato Grosso, afirma que em 4 anos e 6 meses foram entregues 5.132 armas, enquanto ocorreram 8.112 apreensões. Ela destaca que o Desarmamento, embora atualmente não realize uma forte campanha de mídia, provocou o endurecimento das leis sobre o assunto. Thais garante ainda que o Brasil passou a ter uma oferta reduzida de armas e munições no mercado legal.

Porém, ela entende que é preciso um envolvimento maior da sociedade organizada para promover discussões de envolvimento de todos os setores no combate ao armamento desordenado que vemos hoje.

A maior entrega de armas ocorreu durante a forte campanha realizada nos anos de 2004 e 2005. Diante desta realidade a delegada acredita que é preciso investir mais em campanhas de conscientização, facilitar a entrega dessas armas. "Quem teve o desejo de entregar as armas fez isso espontaneamente, teve a oportunidade durante as campanhas".

Aluguel de armas - O endurecimento das leis por conta do Desarmamento terminou por inserir entre os criminosos o aluguel de armas. A delegada afirma que a redução da oferta de armas legais, fez com que os preços das armas ilegais aumentassem, inviabilizando a compra pelos bandidos com menor poder aquisitivo. Assim, as armas são alugadas somente para cometer os crimes e depois são devolvidas.

Para os criminosos essa é uma relação vantajosa, uma vez que eles têm acesso fácil a um baixo custo, além de se livrarem de um possível flagrante de posse ou porte ilegal de armas. "Nem mesmo o bandido quer uma arma ilegal. Ele entende que é mais fácil alugar. Se ocorrer um cumprimento de mandado de busca e apreensão na casa dele, por exemplo, já não será preso por posse de arma".

Com os aluguéis uma mesma arma pode estar vinculada a diversos crimes, cometidos por várias pessoas diferentes. Este mês, a Polícia Militar desarticulou uma quadrilha que alugava armas para a prática de roubos, mostrando que modalidade é realmente uma prática no Estado. Foram presos Roseane Fardim Garcia, 24, os irmãos Regiane Aparecida Fardim, 27, V.F.G., 17 e Richard Wesley Pereira, 21. Eles são acusados ainda de aliciarem crianças para o tráfico de drogas.

Denuncias levaram a PM ao bairro Altos da Serra, em Cuiabá, onde um menino foi flagrado carregando uma sacola com porções de pasta-base. Na casa de Roseane, conhecido como "Boca da Roseane" foram encontrados 2 armas, uma garrucha calibre 32 e um revólver calibre 38. Em um dos celulares apreendidos pelos PMs havia a foto de uma criança com duas armas em punho, simulando uma ação criminosa.





Fonte: A Gazeta

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