Fábricas de Mato Grosso apostam no aquecimento do setor em função da Copa de 2014
Cerâmicas estão trabalhando com 80% de ociosidade
As indústrias de cerâmica (tijolos e telhas) de Mato Grosso estão com 80% de capacidade ociosa. À primeira vista o número parece negativo, pois uma unidade ficar com este percentual de seu potencial sem operar pode indicar problemas, de demanda ou de produção. A segunda interpretação, que é a utilizada pelos empresários do segmento é de que o setor tem condição de quase duplicar a produção atual que é de aproximadamente 4 milhões de peças por mês. É o que afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmicas para Construção de Mato Grosso (Sindcemt), José Lavaqui Sobrinho.
Segundo ele, o aumento na capacidade de produção ocorreu após investimentos no setor. "As indústrias estão de olho na expectativa de demanda por causa das obras para a Copa de 2014". De acordo com Lavaqui, atualmente, a produção é equivalente ao consumo do Estado. "Estamos vendendo tudo o que produzimos". Ele conta que a atividade, que é responsável por empregar 1,2 mil trabalhadores diretos e outros 800 indiretos, registrou crescimento entre 30% a 35% nos últimos 3 anos.
Conforme o representante do setor, os resultados positivos apareceram logo após a crise de crédito ocorrida em 2008. Lavaqui diz que no segmento há 24 industrias de cerâmicas, sendo que 5 fabricam telhas e 19 produzem tijolos. "A maioria se concentra na Baixada Cuiabana". Conforme ele, em 8 anos o número de empresas aumentou cerca de 50%. O empresário lembra que em 2002 haviam 16 indústrias no Estado, que tinham juntas produção de 1,8 milhão de peças por mês.
Lavaqui analisa que se por um lado o aumento na quantidade de empresas indica cenário positivo, por outro, a concorrência faz com os preços dos produtos reduzam. "É o que aconteceu no segmento de cerâmicas". Ele diz que em 2002 o milheiro de tijolos custava 67% do valor de um salário mínimo da época - o equivalente a R$ 96, enquanto que hoje chega a 58%, sendo uma média de R$ 300 para cada mil peças. O presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Mato Grosso (Acomac-MT), Antônio Guerino Zompero, entende que os preços apresentaram uma alta expressiva devido ao aquecimento da demanda. Ele destaca que aumentou a procura por materiais básicos. Segundo Zompero, há dificuldade de encontrar esses produtos no mercado.
O diretor do Sindicato das Indústrias da Construção de Mato Grosso (Sinduscon-MT), Júlio Flávio Campos de Miranda, também destaca a falta de materiais do ramo da construção no mercado mato-grossense. Segundo ele, as empresas dizem que estão trabalhando com a capacidade máxima e que, por isso, tende a aumentar o preço dos produtos. "Por necessidade, já comprei tijolos 10% mais caros que a média vendida no Estado". O empresário diz que além da falta de produtos o setor também enfrenta a escassez de mão-de-obra qualificada".
A mesma opinião tem o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan. Conforme ele, as obras habitacionais estão aquecendo a construção civil em todos os setores. Ele diz que, até a Copa de 2014, a produção excedente será necessária para atender o mercado. "As indústrias estão investindo porque sabem dessa necessidade de atender o Estado". Sobre a mão-de-obra, ele diz que neste ano serão capacitados mais de 20 mil profissionais, através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Mato Grosso (Senai-MT). Em todo os elos do setor industrial serão qualificados, este ano, 80 mil trabalhadores.
Empresas - O aquecimento no setor de cerâmicas é avaliado positivamente pelas grandes e pequenas empresas mato-grossenses. Ailton Colipini que é sócio-proprietário da Cerâmica São Pedro, diz que as vendas de tijolos se mantêm elevadas. O empresário, que está há pouco tempo no mercado, conta que mensalmente a produção chega a 200 mil peças. "Quase não temos estoque. O que produzimos é logo comercializado". Ele diz que o cenário positivo implica em investimentos na empresa. "Estamos planejando aumentar a produção". De acordo com ele, o milheiro de tijolos custa entre R$ 300 e R$ 350. Conforme Colipini, para se destacar na concorrência ele diz que o passo é buscar a fidelização do cliente. "90% são revendedoras". Além disso, ressalta que oferecer um produto de qualidade também ajuda a se manter no mercado.
Já as grandes empresa contam que o investimento é a melhor maneira pra concorrer no setor. Para o gerente de Vendas da Cerâmica Eliane, Jonas da Silva, a empresa que não aumentar a produção não conseguirá acompanhar a demanda do mercado. Ele diz que a indústria chega a produzir 1,2 milhão de peças por mês e que a maior parte dessa demanda vão para construtoras. Silva diz que a empresa é a única do Mato Grosso que produz blocos estruturais cerâmicos certificados pelo Ministério das Cidades e pela Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), através do Programa Setorial da Qualidade dos Blocos Cerâmicos (PSQ-BC) que atesta que os produtos estão conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
De acordo com ele, a construção utilizando o bloco estrutural cerâmico diminui em até 30% o preço total da obra. De acordo com o representante da empresa, a alvenaria estrutural com blocos cerâmicos se torna a estrutura da casa. "Esse material também apresenta a vantagem de possuir isolamento térmico e acústico".
Nacional - A produção brasileira de blocos/tijolos alcança 4 bilhões de peças por mês, enquanto o consumo de argila para a produção desses materiais chega a 7,8 milhões de toneladas mensalmente. Os dados são da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer) e apontam ainda que para a fabricação 1,3 bilhão de telhas por mês são necessárias 2,5 milhões de toneladas de argila.
O número de cerâmicas e olarias no Brasil é de aproximadamente 7,431 mil empresas, sendo 4,820 mil que fabricam tijolos e 2,509 mil telhas. No total, essas unidades empregam cerca de 293 mil trabalhadores diretos e 1,25 milhões indiretos. O faturamento anual atinge R$ 6 bilhões. Conforme a Anicer, a indústria de cerâmica vermelha tem 4,8% de participação no setor da construção civil nacional, que registra 7,3% do PIB nacional, de R$ 126,2 bilhões.
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