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Segunda - 28 de Junho de 2010 às 09:17
Por: Caroline Lanhi

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Médico destaca que paciente deve procurar um PSF, que faz avaliação mais aprofundada
Médico destaca que paciente deve procurar um PSF, que faz avaliação mais aprofundada

Mato Grosso volta a ocupar o primeiro lugar no ranking de detecção de hanseníase e o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) interfere negativamente no tratamento dos pacientes que têm a doença e lutam para conseguir o benefício. As informações são da Secretaria de Estado de Saúde e vão ao encontro das reclamações de quem passa pelo problema.

Uma prévia feita em maio deste ano mostra que em 2009 foram detectados 2.646 casos de hanseníase no Estado, o que representa 88,15 casos a cada 100 mil habitantes e caracteriza o Estado como hiperendêmico, considerando a relação número de casos/população.

A representante técnica da área de hanseníase do Estado, Luciane Cegati, lembra que esse número ainda pode ser maior, porque a contabilização referente ao ano passado encerra no mês que vem. "Esse fechamento acontece no meio do ano porque muitos casos detectados no final de 2009 demoram algum tempo para chegar no banco de dados nacional".

Muitas pessoas que são infectadas pelo bacilo de Hansen precisam deixar o trabalho, pois trata-se de uma doença dermatoneurológica, ou seja, pode não se manifestar na pele, mas afetar os nervos, fazendo com que a pessoa perca a força e alguns movimentos. Maria Izete Neri Alves, 42, sabe bem o que é isso. Nove anos depois de se curar da hanseníase, ela descobriu que estava com a doença novamente, mas um tipo mais severo.

As dores nas juntas e as manchas começaram a aparecer em abril deste ano, mas na policlínica onde foi atendida identificaram o caso como alergia. Sem melhoras, Izete conseguiu uma consulta em um posto do Programa Saúde da Família, onde o diagnóstico correto foi feito. Ela precisou se afastar do trabalho por indicação médica e desde então aguarda a perícia do INSS.

O pedido foi feito no dia 18 de maio, mas a consulta foi agendada somente para 16 de julho. Com isso, são R$ 460 a menos na renda familiar. "Até questionei esse tempo para a consulta, mas me informaram que havia muita gente da lista".

Maria não consegue trabalhar nem em casa e tem uma filha com problema renal que também não pode fazer esforço físico. "Sem o salário, são 2 meses de privações", conta a mãe que precisou deixar de pagar contas de água e luz para comprar comida.

Desconhecimento - Além da demorada fila para o benefício, Luciane Cegati conta que são vários os casos de pacientes que precisam de acompanhamento médico ou que têm indicação cirúrgica e que não conseguem o benefício do INSS. A hipótese é que os peritos não estejam inteirados sobre a gravidade da doença. Com isso, o paciente tem a vida psicossocial afetada. Não tendo outra saída, alguns acabam trabalhando mesmo com atestado médico e comprometendo o tratamento.

A técnica destaca que além dos esforços do Ministério da Saúde junto ao Ministério da Previdência Social, a SES realizou 2 encontros com representantes do INSS para estudar formas de preparar melhor os peritos para o atendimento de pessoas com hanseníase. Contudo, segundo a secretaria, o INSS garante que os peritos estão preparados para essas situações.

Números - Luciane Cegati destaca que a SES-MT não tem vergonha de divulgar os altos números de casos novos, pois eles significam que as ações desempenhadas pelas secretarias de saúde estão tendo resultados. Mas ainda há muito o que ser feito. O índice referente à expectativa de cura em 2009 está abaixo da meta pactuada, que é 84%, e ficou em 81,6% até o início de maio.

A secretaria estadual de Saúde também se preocupa com a taxa de contatos examinados, que é de 59,8%, muito abaixo da meta de 80%. "Examinar e acompanhar as pessoas que moram com o paciente é muito importante. Afinal, a hanseníase é contraída pelas vias respiratórias por meio de contato íntimo e prolongado com a pessoa infectada".

Como o percentual de abandono é de 3,8%, Luciane explica que existem fatores técnicos que também interferem nessas estatísticas, como por exemplo a falta de alimentação do sistema. "Se o sistema não é alimentado, não conseguimos saber como está o paciente".

A frequente transferência dos enfermos também influencia pois muitos são de outros Estados, mas vêm para Mato Grosso a trabalho e são identificados aqui. Esse fluxo constante de pessoas provenientes do Pará, Maranhão e Tocantins - que são hiperendêmicos -dificultam o controle da enfermidade.

Para conter o avanço da doença o programa de hanseníase baseia-se no diagnóstico precoce. "Orientamos e atualizamos os profissionais, tiramos dúvidas, oferecemos oficinas e estimulamos a "busca ativa", que significa acompanhar os pacientes que tiveram a doença e investigar se pode haver mais casos na família".

Cuiabá - Na capital mato-grossense, o número de diagnósticos também é considerado alto. Dados extraoficiais mostram que em 2010 já foram detectados mais de 200 casos novos. Só no PSF do bairro Novo Paraíso 1 foram mais de 20 até este mês.

Assim como Luciane, o médico do bairro, Werley Peres, defende que o aumento dos números significa que o serviço de saúde está no caminho certo. Entretanto, lembra que os índices também refletem que outros setores do governo não estão atuando como deveriam, já que a hanseníase está ligada diretamente a falta de saneamento, higiene e bolsões de miséria.

No bairro Novo Paraíso 1, a busca ativa tem dado bons resultados. Werley explica que desde que isso começou ser feito, o índice de detecção se multiplicou. "De 2008 para 2009 passamos de 4 casos identificados para 34".

Em relação ao caso de Maria Izete, que foi à policlínica e teve diagnóstico de alergia, o médico explica que desde o primeiro atendimento ela deveria ter procurado um PSF, mesmo que de outro bairro, pois a hanseníase exige uma avaliação aprofundada. "É preciso entrevistar o paciente, saber de todos os sintomas e examiná-lo da cabeça aos pés. Isso é feito no PSF".

INSS - Lucy Rosa é gerente executiva do INSS de Cuiabá e garante que o problema com o tempo para fazer a perícia médica vai diminuir. Segundo ela, esse é um problema enfrentado somente na agência do Centro, pelo déficit de peritos, e nas outras 3 agências da Capital os pacientes são atendidos em 10 dias. "Houve remanejamento de profissionais e outros médicos foram contratados".

Questionando a situação de Maria Izete, a gerente executiva diz que os funcionários estão instruídos a informar em que agência o atendimento pode ser mais ágil. Já em relação às observações da SES, Lucy entende que cada instituição tem olhar diferenciado sobre o mesmo problema, e afirma que o INSS não quer prejudicar ninguém. "O canal está aberto para discussões".





Fonte: A Gazeta

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