Em 10 anos, empresas envolvidas em cartel receberam R$ 460 mi da União

A alemã Siemens, a francesa Alstom e a espanhola CAF, três das 19 empresas suspeitas de envolvimento no escândalo de formação de cartel para fornecimento de material metroferroviário e manutenção de linhas de trens de São Paulo e Distrito Federal, receberam do governo federal, entre 2004 e 2013, mais de R$ 460 milhões, segundo dados do Portal da Transparência. Em 2010, no entanto, nenhuma das empresas recebeu dinheiro da União.

 

O cartel teria sido denunciado pela alemã Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Investigações no exterior e em território nacional são conduzidas para apurar o caso. Segundo a denúncia, propinas eram pagas a políticos do PSDB em São Paulo, num escândalo que está sendo chamado pelos petistas de "trensalão".

 

A empresa alemã aparece como a que mais recebeu recursos do governo federal em pagamentos, que, em sua maioria, referem-se à manutenção de equipamentos médicos, mas que também contemplam serviços de modernização de trechos ferroviários. O total desembolsado pelo governo federal com a Siemens soma R$ 201,4 milhões. Boa parte dos pagamentos referem-se a obras do sistema ferroviário do Recife.

 

A Siemens não teve seu nome incluído no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis) - que reúne dados de empresas proibidas de participar de licitações ou realizar contratos com o governo. Pelo contrário, mesmo com as denúncias, desde agosto de 2011, ela consta no Cadastro Empresa Pró-Ética da Controladoria-Geral da União (CGU).

 

Para ser incluída nesta lista, a empresa fornece uma série de informações sobre medidas de integridade e politicas anticorrupção, analisadas por um comitê, que considerou que a empresa atende 77,9% das medidas desejadas. As informações são checadas a cada dois anos ou “extraordinariamente - quando recebida informação ou ocorrido fato que enseje dúvidas ou questionamentos sobre a manutenção do nome de empresa no Cadastro”, diz o regulamento do Pró-Ética.

 

Já a francesa Alstom, que junto com as demais é acusada de cartel, recebeu do governo federal, entre 2007 e 2013, quase R$ 109 milhões, sendo que neste último ano esse valor foi de R$ 42,5 milhões para ações de expansão e melhoria das malha metroviária do sistema de trens urbanos de Porto Alegre, que incluem a aquisição de 15 veículos ferroviários.

 

Os pagamentos para a espanhola CAF somam R$ 40,6 milhões, despendidos entre 2011 e 2013, para implantação e modernização dos sistemas de trens urbanos do Recife e para a compra de veículos para o sistema de Porto Alegre.

 

Tanto a Alstom como a CAF não constam nos cadastros Ceis ou Pró-Etica.