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Economia
Sábado - 26 de Junho de 2010 às 23:34

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O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, disse neste sábado que os países emergentes não devem "carregar nas costas" a retomada do crescimento mundial e que, ao ter pressa em retirar estímulos e implementar políticas de ajuste fiscal, alguns países, como os europeus, colocam em risco a consolidação da recuperação da economia global.

"Acho ruim (a pressa em fazer ajuste fiscal), especialmente quando parte de países avançados", disse o ministro em Toronto, no Canadá, antes da abertura oficial da reunião de cúpula do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento).

"Porque se esses países, ao invés de estimular o crescimento, derem uma atenção maior para a realização de ajuste fiscal, estarão, principalmente os exportadores, fazendo ajuste às nossas custas", afirmou.

"Os países avançados que são exportadores não devem fazer um ajuste fiscal muito severo, porque não vão estimular o seu consumo doméstico, e nós não vamos conseguir exportar. Então isso joga nas costas dos emergentes a responsabilidade pela retomada", disse o ministro.

Mantega lidera a delegação brasileira na cúpula, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua participação para acompanhar os esforços de ajuda às vítimas das chuvas no Nordeste do Brasil.

A crise de déficit e de dívida pública em algumas economias europeias e as medidas de austeridade implementadas por esses países estão no centro dos debates em Toronto.

Assim como o Brasil, os Estados Unidos e outros países temem que a retirada prematura das medidas de estímulo possa colocar em risco a recuperação global.

Metas
O anfitrião da cúpula, o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, deve pedir aos países do G20 que reduzam seus déficits orçamentários pela metade até 2013 e que a relação entre dívida e PIB (Produto Interno Bruto) comece a cair até 2016.

De acordo com o ministro, o Brasil não teria problema em cumprir essas metas, mas países com déficits altos, como o Japão, enfrentariam dificuldades, e seria preciso buscar uma redução menor, mais factível do que cortar o déficit pela metade.

"É uma meta muito draconiana, um pouco exagerada", disse Mantega, ao afirmar que há consenso sobre a necessidade de redução dos déficits, mas que é preciso discutir em que velocidade, que não pode ser muito forte.

Segundo Mantega, o Brasil é favorável tanto ao ajuste fiscal quanto à retirada de estímulos (e já vem, inclusive, reduzindo o déficit e a dívida), mas desde que sejam feitos de maneira a não inibir o crescimento.

"A consolidação da recuperação pode ser ameaçada pela pressa na retirada dos estímulos", disse Mantega. "Não estou dizendo que não se deva retirar. No caso do Brasil, já retiramos quase todos os estímulos porque a economia já está apresentando um crescimento sólido, acima de 6%, mas outras economias estão longe de apresentar essa taxa de crescimento", afirmou.

Mantega disse ser favorável ao estabelecimento de metas explícitas de ajuste fiscal. "Deve se fazer ajuste fiscal sim. Inclusive eu sou favorável a que se estabeleçam metas explícitas de ajuste", disse, citando o anúncio dos Estados Unidos de que pretende reduzir seu déficit em 3 pontos percentuais até 2013.

Reforma
Mantega disse que apesar de posições divergentes dos países, deve haver avanços na cúpula de Toronto. Segundo o ministro, o Brasil vai insistir na importância de que seja aprovado em Toronto um calendário para a aprovação da reforma do sistema financeiro, para que seja aprovada na cúpula de Seul (marcada para os dias 11 e 12 de novembro).

A reforma financeira vem sendo discutida desde encontros anteriores do G20 e tem o objetivo de tornar o sistema financeiro mais transparente e evitar a ocorrência de novas crises econômicas globais como a de 2008.

Muitos países já fizeram reformas em seus sistemas financeiros, mas o objetivo é uma reforma mais ampla, do sistema financeiro global. "Nesta reunião aqui temos que aprovar a implantação de uma proposta de regulamentação financeira mínima para um conjunto de países", disse Mantega.

A ideia, disse Mantega, seria aprovar a reforma em Seul e completá-la até 2012.

O ministro disse ainda que também é importante antecipar a reforma da instituições financeiras internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, para a reunião na Coreia do Sul.

A previsão inicial para essa reforma, que busca dar mais voz e poder de decisão a países emergentes, como o Brasil, era inicialmente para o primeiro semestre de 2011.

Taxação
Um dos pontos polêmicos da reforma financeira é a proposta de taxação sobre as operações financeiras, defendida por algumas economias avançadas, mas rejeitada pelo Brasil e outros países.

O argumento do Brasil é o de que seu sistema financeiro já é bastante regulado e não teve tanta influência na crise econômica de 2008 como o verificado em algumas economias avançadas.

Países como Grã-Bretanha, Alemanha e França anunciaram recentemente medidas domésticas para obrigar seus bancos a contribuir para a prevenção de crises econômicas futuras.

"Nós do Brasil concordamos que os países façam a taxação que acharem necessária", disse Mantega. "O que não quer dizer que todos os países devam fazer a mesma coisa. No Brasil nós já temos uma taxação maior do sistema financeiro. E além disso os bancos não criaram os problemas que criaram os bancos de outros países."

De acordo com o ministro, a posição brasileira é de haja uma personificação e cada país faça o que achar melhor. "Não cabe uma única taxa para o setor financeiro. Com isso nós não vamos concordar", disse.






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