Enquanto muitos países europeus defendem as medidas de austeridade implementadas recentemente para colocar suas contas públicas em ordem, os Estados Unidos e outras economias, como o Brasil, já manifestaram preocupação de que a retirada muito rápida dos programas de estímulo possa colocar em risco a recuperação mundial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua ida a Toronto nesta sexta-feira, devido às chuvas no Nordeste do Brasil, mas a posição brasileira será levada ao encontro pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Antes do cancelamento da viagem de Lula, o porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, havia dito que, para o presidente, a retomada do crescimento mundial é "o melhor remédio para o desequilíbrio das contas públicas" e que levaria ao encontro o exemplo do Brasil.
A posição brasileira é de que se dê mais ênfase ao crescimento e que se evite um "ajuste dramático de gastos" e está alinhada com o que os Estados Unidos propõe ao grupo.
Antes de embarcar para o Canadá nesta sexta-feira, Obama disse que as economias do mundo atual estão "intrinsecamente ligadas" e, por isso, os países do G20 devem trabalhar juntos para promover o crescimento econômico.
"Neste fim de semana, em Toronto, eu espero que possamos avançar ao coordenar nossos esforços para promover o crescimento econômico, para buscar a reforma do sistema financeiro e para fortalecer a economia global", disse Obama, que participaria nesta sexta-feira do encontro do G8 (Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia), em Huntsville, a 215 quilômetros de Toronto.
Desafio
Depois de se unir para superar a fase mais aguda da crise, os países do G20 enfrentam agora o desafio de coordenar suas ações para sustentar a recuperação e ir adiante nos planos de reformar o sistema financeiro mundial.
"Era muito mais fácil alguns encontros atrás, quando o propósito comum era estimular a economia", disse à BBC Brasil Donald Brean, co-diretor do G20 Research Group (grupo de especialistas internacionais que acompanham e estudam a atuação do G20).
Segundo Brean, que também é professor de Economia e Finanças da Universidade de Toronto, nos encontros de 2008 e 2009, com a economia mundial em crise, os países conseguiram chegar a um acordo sobre medidas que acabaram evitando um desastre maior.
"Agora, os países terão de descobrir como retirar os estímulos e ao mesmo tempo garantir uma trajetória de crescimento sustentado e equilibrado", disse Brean.
Riscos
Na semana passada, em uma carta aos líderes do G20, o presidente americano, Barack Obama, alertou para os riscos da retirada dos programas de estímulo muito rapidamente.
"É crucial que o momento e o ritmo da consolidação de cada economia se ajustem às necessidades da economia global, à demanda do setor privado e às circunstâncias nacionais", dizia a carta de Obama. "Nossa principal prioridade em Toronto deve ser resguardar e fortalecer a recuperação."
No entanto, os líderes europeus devem defender as medidas adotadas para conter o deficit.
O presidente do Conselho Europeu, Heman van Rompuy, já disse que "a restauração da confiança nas políticas orçamentárias anda de mãos dadas com as estratégias eficazes de crescimento".
A reforma do sistema financeiro mundial e em organismos como FMI (Fundo Monetário Internacional), temas já abordados nas reuniões anteriores, também deverão estar novamente em discussão em Toronto.
A questão do programa nuclear iraniano também deve ser abordada, especialmente em encontros bilaterais entre Obama e outros líderes.
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