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Agronegócios
Segunda - 21 de Junho de 2010 às 15:09

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Dois anos depois do pico da crise mundial de alimentos, a escassez de grãos está se transformando em excedentes que poderiam criar seus próprios problemas.

Alguns corretores e economistas estão especulando que se os Estados Unidos e outras economias mundiais não se aquecerem logo, os excedentes poderão se tornar fatores de depressão de preços. Embora grãos baratos sejam uma boa notícia para consumidores e criadores de animais, a oferta excessiva eleva os gastos de governos com subsídios e tende a dar início a guerras comerciais entre as potências agrícolas.

Esta tensão está crescendo também porque muitos produtores americanos, que tiveram lavouras prejudicadas por excesso de chuvas nos últimos anos, estão tendo poucos problemas este ano.

Embora a colheita ainda vá demorar alguns meses para começar nos EUA, o agricultor Clay Mitchell, de Buckingham, no Estado de Iowa, está preparando silos para o que está se delineando como uma safra recorde. As plantações de milho já estão batendo no seu peito, ajudadas pela primavera quente, que permitiu que o plantio começasse cedo, sendo seguido de chuvas de verão em momentos adequados.

"Até agora, esta tem sido a melhor temporada da história", diz o agricultor recém-casado, de 37 anos, que plantou 650 hectares de milho.

Em algumas cidades do Texas, a colheita de trigo está sendo tão farta que os produtores que estavam levando grãos aos silos locais nas últimas semanas tiveram que esperar o dia inteiro numa fila de caminhões. Alguns silos estão tão cheios que o trigo está sendo estocado em armazés de algodão.

"Provavelmente, nunca houve tanto trigo em nosso país", diz Steven Sparkman, agente de extensão rural do sistema A&M, da região de Hardeman, no Texas, um serviço que oferece educação prática a partir de estudos universitários.
"Temos um excedente."

É uma grande mudança em relação à maior parte dos últimos dez anos, quando a dificuldade dos produtores para suprir a crescente demanda global por grãos criou o cenário para o que depois ficou conhecido como a crise de alimentos de 2007 e 2008.

Os estoques mundiais de grãos - o que sobra quando novas colheitas podem reabastecer os armazéns - encolheram naquele momento, quando uma crescente classe média em nações emergentes estava demandando mais carnes de animais engordados com grãos. Os países industrializados, atormentados pela diparada dos preços do petróleo, estavam dando mais apoio aos combustíveis feitos a partir de grãos. Nos EUA, a indústria de etanol começou a consumir um terço do milho produzido no país.

Os preços de grãos dispararam, enquanto alguns governos em pânico criavam problemas para o comércio mundial ao defender a oferta doméstica, elevando em milhões o número de pessoas famintas em todo o mundo. Foi necessária uma recessão global para esfriar os preços de grãos no fim de 2008.

Dois anos depois, entretanto, os agricultores no mundo todo estão trabalhando mais duro do que nunca. Produtores da América Latina à antiga União Soviética expandiram tão rapidamente que a área destinada à plantação dos 16 principais grãos e oleaginosas aumentou em 33 milhões de hectares desde 2006 - equivalente à criação de um novo cinturão americano de milho, de acordo com estatísticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Os corretores de grãos em Chicago esperam que os agricultores americanos produzam safras recordes de milho e soja pelo segundo ano seguido. Os agricultores no Brasil e na Argentina estão encerrando colheitas recorde de soja. Os produtores na Ásia estão se preparando para produzir grandes safras de arroz.

De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, este ano as reservas globais de cereais - um colchão contra a escassez - devem ser 24% superiores ao que eram há apenas dois anos, e serão as maiores em 8 anos. Com a previsão de que a produção mundial de grãos vá exceder a demanda pelo terceiro ano seguido, muitos corretores de grãos e economistas do setor agrícola estão começando a debater a perspectiva de dois panoramas muito diferentes.

Essa discussão tem a história ao seu lado: a alta de preços de grãos em 1970 iniciou um aumento de produção que atolou o setor agrícola nos anos 80. As previsões indicam que, nos próximos 12 meses, as reservas americanas de trigo vão atingir o nível mais alto desde 1987, graças em grande parte à queda das exportações americanas com o reaparecimento da concorrência dos produtores da antiga União Soviética.

Outros, entretanto, temem que os produtores mundiais não sejam capazes de acompanhar a demanda, uma vez que a economia se recupere, o que poderia elevar os custos para as indústria e criar o ambiente para uma nova crise de alimentos. Espera-se que o apetite na China e na Índia cresça fortemente.

Por ora, Daniel Basse, presidente da AgResource Co., empresa de Chicago que faz estimativas para o setor de commodities, tende ao primeiro lado. "A mensagem", diz Basse, "é que a agricultura sempre foi e sempre será um negócio cíclico".

Autor: Scott Kilman






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